Pesquisa, publicada na prestigiada revista “Molecular Psychiatry”, sugere ainda que tratamentos futuros considerem diferenças entre os sexos
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A cada dez pacientes com Alzheimer, sete são mulheres, o que despertou o interesse de cientistas do Brasil e dos Estados Unidos em descobrir as diferenças existentes entre os sexos para favorecer doenças que trazem comprometimento cognitivo. Uma das respostas está no trabalho desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontando deficiência de carnitina livre na corrente sanguínea. Os resultados estão na revista Molecular Psychiatry, do grupo editorial Nature, divulgados no início de janeiro.
Segundo o professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM) da Universidade e um dos líderes do estudo, Mychael Lourenço, as medidas de carnitina livre no sangue, quando associadas a marcadores conhecidos da doença de Alzheimer (beta-amiloide e tau), ajudaram a identificar um pouco melhor os casos de Alzheimer, o que abre oportunidades para o desenvolvimento de novos testes minimamente invasivos que ajudem a diagnosticar a doença de forma mais precisa.
Por que o Alzheimer é mais frequente em mulheres?
“Nossos achados sugerem que a carnitina e outras moléculas similares, quando medidas no sangue, podem contribuir para entendermos por que o Alzheimer é mais frequente em mulheres”, explicou o pesquisador, que por seu trabalho a respeito de doenças neurodegenerativas já foi premiado pela revista Nature Medicine.
Ele ressalta, porém, que ainda não se sabe se a redução do composto no corpo é uma causa ou consequência de outros fatores. Surpreendentemente, no entanto, as alterações foram específicas para mulheres, destacando a necessidade de abordagens terapêuticas e diagnósticas que considerem diferenças biológicas entre os sexos.
A carnitina, molécula essencial para o metabolismo de ácidos graxos e gorduras no corpo, é bastante armazenada nos músculos. Apesar de no máximo 5% dessa molécula ficarem na corrente sanguínea, os pesquisadores notaram que mulheres portadoras de comprometimento cognitivo ou demência tinham menor quantidade da substância no plasma, em comparação aos homens. “O que está no sangue reflete o que está acontecendo no corpo”, lembrou o professor.
Os resultados foram obtidos a partir de estudos em dois grupos de pacientes independentes, com idades superiores a 60 anos, totalizando 125 participantes. Importante destacar que os achados se replicaram em dois grupos populacionais diferentes: um brasileiro e outro norte-americano. “Isso sugere que os achados são replicáveis em populações com características genéticas, socioeconômicas e culturais diferentes. Nosso trabalho é o que chamamos na Academia de ‘estudo-fundador’, levando a incitar pesquisas com outros grupos de humanos, asiáticos ou africanos, por exemplo”, afirmou.
Dieta adequada e atividade física
Embora majoritariamente seja obtida com a dieta adequada, a carnitina pode ser produzida pelo organismo, principalmente no fígado, rins e cérebro, a partir dos aminoácidos lisina e metionina. Encontrada em alimentos como carnes, ovos, laticínios e leguminosas, a carnitina é importante para que os músculos gerem energia a partir da gordura, sendo muito consumida por atletas, pois aumenta a resistência, melhora a saúde cardiovascular e acelera a recuperação após o exercício.
Derivados da carnitina, como a L-acetilcarnitina, são também valiosos para o metabolismo de gordura, mas recentemente foram descritos como essenciais para a regulação epigenética no cérebro, o que é importante para as funções cognitivas e de humor. Assim, tanto a carnitina livre quanto moléculas similares podem ser protetoras das funções cerebrais em mulheres.
Para otimizar a ingestão de carnitina, é fundamental considerar as fontes alimentares. Combinar a ingestão da substância com exercícios físicos regulares potencializa os efeitos na queima de gordura e no aumento da energia. Para maximizar os benefícios da carnitina é essencial uma abordagem holística que inclua alimentação adequada e exercícios. E sempre consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer suplementação alimentar.
A doença de Alzheimer afeta mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo, dos quais mais de 1,5 milhão no Brasil. Embora muitos avanços científicos tenham ocorrido nas últimas décadas, a doença de Alzheimer não tem tratamentos tão eficazes e permanece como a principal causa de demência em idosos. Projeções feitas por especialistas indicam que a prevalência do Alzheimer deve aumentar bastante nas próximas décadas, especialmente em paises em desenvolvimento, como o Brasil.
O estudo envolveu cientistas da UFRJ, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), da Universidade de Nova York, Universidade Duke e Universidade da Califórnia, em Irvine, com apoio de instituições como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Instituto Serrapilheira, Alzheimer’s Association e National Institutes of Health (NIH).