Com os elevados preços do café, grupos criminosos estão vendendo o lixo das torrefadoras com o nome de “sabor café”. A Acaps se pronunciou e, por nota, disse que está recomendando aos supermercadistas capixabas a não comprar esse produto
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Principalmente os consumidores mais pobres, que procuram produtos com preços mais acessíveis e sem se importar com a qualidade, estão sendo enganados por maus empresários que estão vendo o lixo da usina de torrefação, como paus, palhas e cascas, entre outras impurezas, como “bebida sabor café.” Para enganar, a embalagem é semelhante ao do café torrado e moído, tem foto de xícara de café e até grãos de café, mas não é café.
Quem entrou firme na denúncia, em ação enérgica em todo o Brasil para combater esses grupos criminosos foi a Associação Brasileira do Café (Abic). A Abic é uma entidade conceituada. Entre suas ações mais conhecidas está o Selo de Pureza, que é concedido a cafés que passam por um rigoroso controle de qualidade, garantindo que o produto não contém misturas ou adulterações. O consumidor deve ficar atento, olhar a embalagem e não comprar pó de café que não tenha o Selo de Pureza da Abic.
Perguntas e respostas à Abic
O que é considerado “café fake”?
Resposta: É qualquer produto vendido como café, mas, na verdade, em sua composição há resíduos da lavoura, que contêm impurezas, como paus, palhas e cascas. Ou até mesmo outros vegetais como cevada e milho. Café é feito do grão de café. Nas composições desses produtos, os ingredientes não são café. O café é o endosperma, ou seja, é o grão que há dentro do fruto café.
A forma como esses produtos são vendidos, em suas embalagens, já é possível perceber a intenção de enganar o consumidor. São visualmente semelhantes às de café. Além disso, ficam nas prateleiras ao lado das embalagens de café, mas se trata de uma fraude.
Por que o “café fake” é considerado ilegal?
Resposta: É preciso que o consumidor tenha em mente que são considerados café apenas os produtos que possuem como ingrediente único o café. Não sendo apenas café, não é café. Há legislação federal que trata do tema. Não existe café de cevada ou café de milho, por exemplo.
Quando estamos nos referindo aos produtos torrados e moídos vendidos com o argumento de terem em suas composições polpa de café, entendemos ser uma fraude considerando a Resolução – RDC Nº 716, de 1° julho de 2022, Capítulo I, item II, que diz que o café torrado é apenas o “endosperma (grão) beneficiado do fruto maduro de espécies do gênero Coffea, como Coffea arabica L., Coffea liberica Hiern, Coffea canephora Pierre (Coffea robusta Linden), submetido a tratamento térmico até atingir o ponto de torra escolhido, em grãos ou moído, podendo apresentar resquícios do endosperma (película invaginada intrínseca)”.
Já a Portaria SDA/570 do Ministério da Agricultura, que estabelece o padrão oficial de classificação do café torrado, no artigo 43, expressa de forma clara que é vedado o uso da designação “café” para produtos, sucedâneos ou compostos embalados, que tiverem em sua composição outros gêneros e espécies vegetais ou não tiverem grãos de café como ingrediente único.
Mesmo com o atual preço mais alto do café, por que o cliente não deve consumir o “café fake”?
Resposta: Além de não ser café, é um produto fraudulento que não passou por nenhuma certificação de pureza e qualidade e que não respeita a legislação do Ministério da Agricultura. Não há garantia sobre a sua composição, não é um alimento seguro. É uma enganação ao bolso e até mesmo um perigo à saúde do consumidor.
Como o consumidor pode diferenciar o “café fake” do café autêntico?
Resposta: Além de verificar se o produto conta com o Selo da ABIC, é importante comparar os preços. Se a diferença for muito grande, estranhe. É preciso também observar a marca, ela é conhecida? Está imitando alguma marca renomada? Desconfie.
Leia o rótulo, veja qual a composição do produto. Verifique se a embalagem descreve a espécie do café, o ponto de torra, o grau da moagem. O consumidor não deve ser levar apenas por informações visuais. O fundamental é saber qual o componente da bebida. Polpa de café, não é café e é considerada impureza.
O momento é de aproveitar ao máximo o alimento. Fazer na medida certa. Não deixar sobrar, não desperdiçar.
Quais ações a Abic tem tomado para alertar os órgãos competentes para retirar este tipo de produto do varejo nacional?
Resposta: A ABIC já notificou o Ministério da Agricultura e a ANVISA sobre tais produtos. Também estamos conversando e orientando as associações supermercadistas e do atacarejo, visto que eles são corresponsáveis pelo produto vendido conforme a Portaria SDA/570. Seguimos altamente comprometidos em orientar o público sobre a importância da qualidade e autenticidade do café.
Tem muitas desinformações em relação ao atual preço do café. Como podemos explicar aos consumidores de forma didática o que causou a alta dos preços dos cafés nos supermercados?
Resposta: Uma combinação de diversos fatores provocou o aumento do preço do café. Desde 2020, a produção tem sido afetada por questões climáticas. Sofremos com períodos de geadas, seca intensa e também chuvas tardias e em excesso. Dessa forma, a produção foi afetada. Somado a isso, há o aumento da demanda global pelo café e as questões geopolíticas. Com o princípio básico de oferta e procura, e por ser uma commodity negociada em bolsas internacionais, os preços da matéria-prima se elevaram exponencialmente, pressionando o custo da indústria, que precisa repassar o aumento para o varejo e, consequentemente, chega ao consumidor.
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Posicionamento da Acaps
Durante rápida abordagem do Grafitti News em supermercados de Vitória (ES), não foi observada a presença do café fake nas gôndolas das lojas. Em nota enviada ao Grafitti News, a Associação Capixaba de Supermercados (Acaps) reforçou os esforços da Abic em denunciar a comercialização do café fake e acrescenta que pede aos associados para que evitem a compra desse produto. Leia a seguir a íntegra da nota da Acaps:
“A Associação Capixaba de Supermercados (Acaps) informa que não registrou comercialização do ‘café fake’ no Estado. A entidade defende uma fiscalização mais rigorosa dos órgãos competentes e ressalta que tem alertado os supermercados associados sobre o assunto e a necessidade de atenção por parte dos departamentos comerciais das empresas ao realizar a aquisição de mercadorias, evitando a compra e a oferta de produtos irregulares aos clientes.
A Acaps reforça ainda a orientação dada pela Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) para que os consumidores deem preferência aos cafés que possuem o selo de pureza e qualidade da Abic.
Já em relação ao preço do produto, a Acaps ressalta que o aumento tem relação direta com as questões climáticas, que causaram a queda na safra não só no Espírito Santo como em outras regiões do País nos últimos anos. Com a oferta reduzida do produto no mercado, a tendência é elevar o preço.
Há ainda, de acordo com a Acaps, a influência do mercado externo, já que o café é uma commodity. Seu preço no mercado mundial impacta o mercado interno.”