O autor da obra literária é o economista e ex-ministro da Economia da Grécia, Yanis Varoufakis, que afirma ter sido o capitalismo mudado para algo muito pior, que é o tecnofeudalismo. Nessa nova modalidade, a economia fica à mercê das big techs, os senhores feudais do Século XXI
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Chega às livrarias brasileiras em abril o livro “Tecnofeudalismo – O que matou o capitalismo”, do economista e ex-ministro da Economia da Grécia, Yanis Varoufakis. A obra literária, que vem fazendo sucesso no mundo, garante que o capitalismo morreu e foi substituído por muito pior, o tecnofeudalismo, que nada mais é do que o monopólio das big techs, que criaram um sistema mais predador que o próprio capitalismo, com a voracidade em exercer um controle da sociedade semelhante ao dos senhores feudais da Idade Média.
De acordo com Varoufakis, as big techs não apenas monopolizaram mercados, mas os substituíram por uma nova estrutura econômica, na qual plataformas digitais operam como feudos contemporâneos. Nessa nova lógica, os usuários tornam-se servos, enquanto empresas tradicionais, que antes detinham o capital produtivo, assumem o papel de vassalos. O motor da economia, antes baseado no lucro e na concorrência, agora se organiza em torno da extração de renda — um processo que lembra a estrutura feudal da Idade Média.
Comércio digital
No seu livro, o economista grego garante que os mercados foram substituídos por plataformas de comércio digital, onde funcionam de forma idêntica aos antigos feudos. Dentro dessa ótica, os usuários dessas plataformas de vendas digitais passam a saer “servos”, enquanto os detentores do capital tradicional (maquinário, redestelefônicas, robôs industriais) passaram a ser “vassalos”. E o lucro, a força motriz do capitalismo, foi substituída pelo seu antecessor feudal: a renda.
Na publicação é abordada a relação de subserviência da população diante das big techs, incluindo análise de fatos atuais, como o avanço da extrema-direita e a destruição das democracias liberais. Varoufakis ainda cita a nova Guerra Fria entreEstados Unidos e China — passando pela compra do X por Elon Musk.
Em uma videoconferência, o economista grego disse: “Nos últimos 20 mil anos, houve muitas inovações tecnológicas, mas com o capital sempre se mantendo como um meio de produção. Com o surgimento de big techs e dos algoritmos que ‘vivem’ em nossos celulares, o capital agora modifica nosso comportamento. Essa mutação transformou o capitalismo em outro modo de produção socioeconômico.”
Surgimento do capitalismo
Ele ainda cita em seu livro que o capital, como meio de produção, sempre existiu, mas o capitalismo em si surgiu 250 anos atrás, no momento em que a principal fonte de riqueza deixou de ser a posse da terra para a recém introduzida produção industrial. Na atual conjuntura, houve uma superação desse modelo para o domínio das plataformas digitais.
É aí que surge o tecnofeudalismo, aonde ser rico não é mais o dono dos meios de produção, coimo as fábricas ou até mesmo as mercadorias físicas, mas o domínio sobre os dados. É nessa observação que o economista denomina de capital-nuvem (cloud capital). A novidade é sem comparação com o tradicional capital industrial, que exige dos capitalistas vultosos investimentos em construir a infraestrutura e gerar a produção.
Para pesquisadores existe na cronologia na Economia dois momentos que marcam a ascensão das big techs. No primeiro momento surge com a crise financeira de 2008, quando os detentores dessa tecnologia da informação passaram a ser alternativas de negociação com menor custo e com menor risco aos investidores que presenciavam a crise no mundo dos negócios.
O segundo momento foi a recente pandemia do Covid-19, que contribuiu para impulsionar de forma acelerada a dependência sociedade dessas plataformas digitais. Esse segundo momento permitiu à essas empresas de tecnologia acumular uma riqueza extraordinária, exatamente no momento em que as pequenas empresas e as pessoas físicas sofriam grandes perdas.