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Política ambiental controversa do Brasil na Amazônia gera críticas na revista Science


“O plano atual do Brasil é continuar perfurando petróleo até que o país atinja ‘o nível [econômico] dos países desenvolvidos,’ que é uma fórmula para o desastre climático”, diz trecho do editorial da revista Science, uma das publicações científicas mais conceituadas do mundo. Leia nesta matéria a íntegra do editorial
 


Política ambiental controversa do Brasil na Amazônia gera críticas na revista Science | Foto: Divulgação/DNIT

Uma das mais importantes e relevantes revista científica mundial, a Science, deu em editorial da sua mais recente publicação um puxão de orelhas na política ambiental do Governo brasileiro, que será dentro de sete meses o anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP 30. Um dos exemplos citados é o desmatamento que o Governo Federal está promovendo na selva amazônica para recuperar a BR-319, ligando dentro da mata milenar a cidade de Manaus (AM) a Porto Velho (RO).

Construída durante a ditadura militar, na década de 1970 e abandonada nos anos seguinte, a BR-319 está no centro de novas polêmicas envolvendo obras na Amazônia. São quase 900 quilômetros cortando a selva e facilitando o atropelamento e morte de animais. O licenciamento para recuperar o pavimento em alguns de seus trechos foi acelerado pelo governo de Jair Bolsonaro.

A obra em execução pelo Governo Federal, segundo a revista Science, vai ‘abrir grandes áreas da floresta Amazônica à entrada de desmatadores, garimpeiros e ataques às terras indígenas’ | Foto: Divulgação/Ministério dos Transportes

Reconstrução da rodovia criada pela ditadura militar

No dia 10 de setembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao Amazonas defendeu a reconstrução da polêmica BR-319, que rasga a Amazônia, e o seu asfaltamento. “É preciso parar com essa história de achar  que a companheira Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente] não quer construir a BR 319. Ela foi construída nos anos 70, ela foi abandonada por desleixo não sei de quem, ficou sem funcionar. Ela tem uma parte pra cá que funciona, uma parte para lá que funciona e no meio são 400 quilômetros que foram inutilizados”, disse o presidente Lula, que será o anfitrião das lideranças mundiais que virao para a COP30 em Belém do Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.

“Nós queremos utilizar a Amazônia não como santuário da humanidade, mas como patrimônio soberano deste país e estudar a riqueza da biodiversidade para saber se a gente consegue fazer com que que os povos indígenas, os ribeirinhos, os nossos seringueiros, os nossos extrativistas vivam e ganhem dinheiro por conta da preservação da Amazônia”, arrematou  Lula.

Os críticos alegam que a BR-319 “possui uma longa história de disputa pela sua reconstrução, tendo de um lado madeireiros, grileiros e ruralistas, e do outro indígenas, ambientalistas. Imagens de satélite contribuem para visualizar que o problema das queimadas acompanha o traçado das rodovias, com as maiores emissões ocorrendo no seu entorno. ” Os povos indígenas da Amazônia que vivem na área de influência da BR-319 dizem que não foram consultados sobre as obras da rodovia e alertam que a a mesma traz ameaça às suas terras e suas vidas.

Intensificação de exploração de gás e petróleo dentro da Amazônia

Outro item criticado em editorial da revista Science é o atual engajamento do Ministério de Minas e Energia na abertura de  novos campos de exploração de petróleo e gás dentro da floresta amazônica, além da região costeira e incluindo uma avaliação para checar qual é o potencial energético da  foz do Rio Amazonas. Para o editorial, essa é “a fórmula para um desastre climático”.

O editorial foi assinado pelo professor pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Brasil. Filipe M. Destemer e pelo professor de Desenvolvimento Sustentável e Gestão de Mudanças Climáticas no Departamento de Ciências Naturais da Manchester Metropolitan University, Manchester, Reino Unido; Walter Leal Filho. Este último ainda é professor de Desenvolvimento Sustentável na WSB Merito University, Wroclaw, Polônia; e professor de Gestão de Mudanças Climáticas na Faculdade de Ciências da Vida da Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo, Hamburgo, Alemanha.

O que diz a íntegra do editorial da revista científica

  • A 30a Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas será realizada em novembro de 2025 em Belém, na Amazônia brasileira. Para que a COP 30 seja eficaz na liderança do mundo para inverter o seu curso desastroso em direção a um ponto de viragem climático, será necessário não só travar a desflorestação, mas também facilitar uma rápida eliminação mundial da combustão de combustíveis fósseis. No entanto, como anfitrião da conferência, o Brasil não lidera pelo exemplo. À medida que os participantes se preparam para a COP 30 nos próximos meses, é importante que a reunião seja utilizada não só para chegar a acordo sobre novas medidas globais para combater as alterações climáticas, mas também para encorajar o país anfitrião a mudar as práticas atuais.
  • Exceto o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, praticamente todas as filiais do governo do país estão promovendo atividades que aumentam as emissões de gases de efeito estufa. Por exemplo, o Ministério dos Transportes pretende abrir grandes áreas de floresta amazônica à entrada de desmatadores através do trecho médio de 408 km “do Rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) e estradas secundárias associadas. A vasta área florestal aberta por essas estradas contém carbono suficiente para fazer com que o aquecimento global ultrapasse um ponto de viragem irreversível. O Ministério da Agricultura subsidia a transformação de pastagens em soja, que é um motorista importante do desmatamento porque, quando a terra se torna mais valiosa para a soja do que para o gado, os pecuaristas (incluindo aqueles fora da Amazônia) vendem suas terras para plantadores de soja e usam os lucros para comprar áreas muito maiores de floresta amazônica barata para novas fazendas em áreas mais remotas. Cada hectare de pastagem convertido em soja pode causar vários hectares de desmatamento. A agência de posse de terras do Brasil legaliza reivindicações e ocupações ilegais de terras em terras governamentais (um importante impulsionador do desmatamento e estímulo para novas reivindicações ilegais). Paralelamente, o Ministério de Minas e Energia está abrindo novos campos de petróleo e gás na floresta amazônica e em áreas offshore, incluindo seu plano de perfuração no foz do rio Amazonas, perto do local da próxima COP.
  • O plano atual do Brasil é continuar perfurando petróleo até que o país atinja “o nível [econômico] dos países desenvolvidos,” que é uma fórmula para o desastre climático. Em 2021, a Agência Internacional de Energia emitiu um relatório apresentando o argumento para não abrir nenhum novo campo de gás ou petróleo no mundo, restringindo a extração aos campos existentes que devem reduzir suas taxas de extração a zero até 2050. Isso ocorre porque novos campos implicam extração de longo prazo. Por exemplo, o campo proposto na foz do Rio Amazonas levaria 5 anos para começar a produzir petróleo e mais 5 anos para pagar o investimento, e porque ninguém gostaria de parar com lucro zero, a iniciativa implica a extração durante décadas para vem—long depois que o mundo deve abandonar os combustíveis fósseis.
  • Para o Brasil assumir a liderança na luta contra o aquecimento global faria todo o sentido, não só pela oportunidade proporcionada pela hospedagem da COP 30 e pela importância das emissões potenciais do próprio país, mas também pelo impacto catastrófico no Brasil se o aumento da temperatura é permitido escapar do controle humano. Brasil faria perca sua floresta amazônica, incluindo o papel vital que a desempenha na reciclagem da água que abastece a grande São Paulo, uma quarta maior cidade do mundo. Uma bacia hidrográfica que inclui São Paulo recebe 16% par 70% de sua precipitação anual de água reciclada pela floresta amazônica e transportada como vapor de água por ventos conhecidos como “rios voadores.” A permanente mesmo da mais baixa destas estimativas deixaria a cidade sem água em anos de seca extrema, como 2014 e 2021, e prevê-se que como alterações climáticas em curso aumentem enormemente a frequência de segundas separadas nacionais pais. Uma região semiárida densidade povoada do Nordeste do Brasil se tornaria um deserto, e como grandes populações ao longo de toda a costa atlântica do Brasil estariam exposições ao aumento das tempestades e do romance do mar. O agronegócio brasileiro e sua agricultura familiar sofreriam pesos impactos. Secas de “gravidade inédito” são esperados no Brasil, e uma frequência de segundas severas em pelo menos homens homens 10 vezes. “Surpresas climáticas” como enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul se tornariam mais comuns.
  • A COP 30 enfrenta grandes desafios para alcançar os seus objectivos climáticos. Uma parte fundamental disso é conter as emissões da Amazônia e, para isso, o maior desafio é obter uma mudança radical nas políticas do governo brasileiro, tanto nos motores do desmatamento quanto na extração de combustíveis fósseis.