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Pesquisadora brasileira analisa impactos ambientais da indústria da moda


Livia Humaire destacou que cadeia de produção de roupas envolve microplásticos e agrotóxicos, além de terceirização da produção em países mais pobres; uso de materiais menos nocivos ao meio ambiente já mostram resultados positivos no Brasil


Acima uma loja de grife europeia e, embaixo, o destino quando estiver usada no deserto de Atacama, no Chile | Imagens: Reprodução/YouTube

O debate foi aberto pelas Nações Unidas, que dedica anualmente a data 30 de março como sendo o Dia Internacional do Lixo Zero, com o objetivo de destacar os impactos da indústria da moda na produção de resíduos. Para celebrar essa discussão, deu voz à  especialista em negócios ecológicos e pesquisadora da Universidade de Coimbra, Lívia Humaire, que já orientou mais de 100 empreendedores e companhias na adaptação para modelos mais sustentáveis.

A indústria da moda está entre as mais poluentes do mundo, depois da indústria do petróleo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ela é responsável por 8% dos gases do efeito estufa e por 20% do desperdício de água no mundo. Uma única peça de jeans exige o consumo de 7.500 litros de água. Tecido de poliéster, uma resina proveniente do petróleo, por ser mais barata do que o algodão, demora 200 anos para se desintegrar, enquanto o algodão se desintegra em 2 anos e meio.

Indústria nociva

Segundo a pesquisadora, a indústria de roupas é nociva em diferentes aspectos, incluindo na dimensão social, devido a processos de terceirização da produção em países mais pobres, para gerar produtos de baixo custo e durabilidade, a chamada “fast fashion”.

Livia Humaire afirma que os materiais usados também são foco de preocupação. Ela falou à agência de notícias das Organizações Unidos, a ONU News de Basiléia, na Suíça. “Quando a gente vai para impactos ambientais, a gente pode falar de impactos de tecidos, que são tecidos que talvez não sejam 100% de algodão e são aqueles que têm poliéster envolvido na produção. E tudo isso durante as lavagens emite bilhões e bilhões de partículas de microplásticos”.

Agrotóxicos na produção de matérias-primas dos tecidos

Humaire ressalta que a cadeia produtiva, mesmo quando envolve matérias-primas naturais, pode ser marcada pelo uso de pesticidas e agrotóxicos que causam danos à natureza. Mesmo algumas tentativas de adotar práticas ecológicas devem ser analisadas com cuidado. Um exemplo, segundo ela, vem de uma empresa que visava inserir garrafas pets recicláveis na composição de tecidos de algodão.

Para a pesquisadora, a proposta seria nociva por causar a liberação de microplásticos na lavagem das roupas. Esse tipo de material reciclado seria mais adequado para mochilas à prova d’água e capas de chuva, que não precisam ser lavados.

Livia Humaire deu exemplos positivos como uma grande rede varejista de roupas no Brasil que adotou o algodão orgânico e viscose certificada na sua produção de tecidos. Com isso, toda a cadeia produtiva passou a se focar nesses elementos, beneficiando o acesso de marcas menores a esses materiais menos agressivos ao meio ambiente.

Um movimento global abalado por choques econômicos

Humaire explicou que o ideia do Lixo Zero existe desde a década de 70 e alcançou importante vitórias, como pequenos movimentos e iniciativas locais impulsionando grandes mudanças em políticas públicas.

“Têm um sistema hegemônico, tem a grande cultura do descarte, falando para a gente todos os dias: ‘compre, use o mínimo possível, descarte o mais rápido possível’. E essas iniciativas, esses ativistas estão falando “não”, a gente pode fazer diferente. Não só a gente pode fazer diferente, porque muitos movimentos eles ficam muito no discurso, o movimento de Zero Waste (Lixo Zero) tem um componente muito prático. Então, não só é possível fazer diferente, como está aqui uma solução para a pasta de dente, está aqui uma solução para a água”.

Os efeitos dessas lutas se materializaram em leis que proíbem canudos e sacolas plásticas e estimulam a produção de produtos descartáveis em várias partes do mundo. A pesquisadora brasileira, que estuda o movimento Lixo Zero, alertou que os pequenos empreendedores por trás de muitas soluções inovadoras têm baixa resiliência econômica para lidar com choques financeiros.

Ela conta que muitos tiveram seus projetos abalados pela pandemia de Covid-19 e ainda não conseguiram se reerguer. Para a pesquisadora, políticas públicas direcionadas para essas pequenas alternativas precisam de apoio urgente para não desparecer.