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Estudo utiliza espécies da Amazônia como biomonitores


Pesquisador da Universidade Federal do Pará (UFPA) analisou os efeitos de diferentes concentrações de alumínio em duas espécies de nematoides ( um filo de animais cilíndricos espetacularmente alongados) característicos da Amazônia, em comparação com outros organismos


Estudo utiliza espécies da Amazônia como biomonitores | Fotos: Acervo da pesquisa

Terceiro elemento mais abundante na crosta terrestre, o alumínio pode ser encontrado em uma variedade de produtos e objetos utilizados pelos seres humanos – como utensílios de cozinha, agentes culinários antiaglomerantes, agentes emulsificantes e desodorantes. Não obstante sua ampla distribuição e uso, o alumínio não possui um papel biológico definido, não é biodegradável e, quando biodisponível, pode ter efeitos tóxicos em organismos aquáticos. Neste sentido, os nematoides (que são vermes invertebrados amplamente distribuídos em ambientes aquáticos e terrestres) podem ser utilizados como biomonitores para avaliar e compreender os impactos do alumínio no ambiente.

Com base nesta discussão, o artigo The importance of using local species in ecotoxicological studies: nematodes of Amazonian occurrence vs. Caenorhabditis elegans in the analysis of lethal and sublethal effects of aluminium,  liderado pelo egresso do curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca da Universidade Federal do Pará (PPGEAP/UFPA) Erivaldo Baia dos Santos, analisou os efeitos de diferentes concentrações de alumínio em duas espécies de nematoides característicos da Amazônia (Caenorhabditis tropicalis e Caenorhabditis briggsae), em comparação com o organismo modelo Caenorhabditis elegans. A pesquisa teve orientação das professoras Virag Venekey e Lílian Lund Amado, que coassinam a publicação. Houve ainda apoio financeiro do Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC).

“Foram realizados experimentos em laboratório com juvenis/filhotes das três espécies citadas com concentrações de alumínio que já foram registradas em ambientes aquáticos na Amazônia para avaliar o impacto dessas quantidades na sobrevivência (efeito letal), no crescimento, na fertilidade e no sucesso reprodutivo (efeitos subletais)”, explica a professora Virag Venekey.

Os resultados revelaram que C. tropicalis foi a espécie mais sensível à exposição ao alumínio, sofrendo efeitos subletais mesmo em concentrações inferiores às consideradas ambientalmente relevantes. A espécie apresentou redução significativa no sucesso reprodutivo e foi a única, entre as analisadas, a ter o crescimento afetado pela presença do metal. Segundo Erivaldo Santos, alterações em parâmetros importantes, como reprodução e crescimento, podem levar à chamada “morte ecológica” da espécie – quando o organismo deixa de cumprir seu papel ecológico, o que pode resultar na diminuição populacional ou até mesmo na extinção local da espécie.

Inovação

O estudo representa um marco na produção científica da UFPA, pois se trata do primeiro estudo a utilizar C. tropicalis como organismo-teste em bioensaios toxicológicos. Os resultados evidenciam a importância do uso de espécies amazônicas em avaliações de risco ecológico, uma vez que organismos nativos podem reagir de maneiras distintas aos poluentes, em comparação com modelos importados, como é o caso do C. elegans.

Para Erivaldo Santos, padronizar o uso de C. tropicalis como organismo-teste em pesquisas ecotoxicológicas na Amazônia favorece uma avaliação mais realista da toxicidade de poluentes, além de ajudar a evitar o risco de introdução acidental de espécies exóticas em ecossistemas tropicais.