A proposta de revitalização do Centro Histórico de Vitória, através da construção de um shopping center de grande porte, que após vencer batalhas para aquisição do terreno com a SPU e de comprar uma rua, para unir ao prédio da antiga Mesbla, entrou em derrocada há quase três décadas diante de uma crise financeira internacional

Com a assinatura do termo de cessão entre a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e a Prefeitura de Vitória (PMV) do terreno com 3.200 metros quadrados no Centro Histórico de Vitória (ES), entre a Avenida Beira-Mar e as ruas Doutor Aristides Campos, Pastor Oliveira de Aragão e Alda Maria Lyra Vicentini, fica enterrado definitivamente o projeto de a região histórica vir a ter um shopping center de grande porte. O projeto do Centroshopping foi liderado pelo empresário carioca Alan Medina durante o mandato do ex-prefeito, Luiz Paulo Vellozo Lucas, com a proposta de trazer revitalização para o Centro Histórico.
O acordo entre a SPU e a PMV, oficializado na primeira semana deste mês, prevê a cessão de imóveis entre as duas partes pelo prazo de 10 anos. No local onde seria construído o shopping center, que teria o Terraço Vitória sobre a Avenida Beira-Mar e com vista panorâmica para a Baía de Vitória, uma Praça Gourmet com 1.500 metros quadrados, cinemas, cinco restaurantes , vai ter Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e um Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas).
Terreno vai abrigar o Cras e o Creas
“O Cras e Creas vai atender muitas famílias e terá um grande impacto social. A revitalização do Centro de Vitória e a criação de novos espaços públicos mostram que a cidade está crescendo com mais acessibilidade e conforto para aqueles que mais precisam”, disse Soraya Manato, Secretária de Assistência Social de Vitória. De acordo com nota da PMV, “o município recebeu previamente o imóvel em guarda provisória e gratuita e já está utilizando o terreno para estacionamento de veículos, a fim de atender à demanda de estacionamento dos equipamentos próximos.”
“Estamos integrando e ajustando os desafios para encontrar soluções eficazes. Essa contribuição foi essencial para impulsionar melhorias no Centro e na cidade. Vitória tem poucos espaços disponíveis, então precisamos cuidar bem dos que existem, e a gestão atual tem feito um trabalho importante de recuperação desses ambientes. A ideia é integrar equipamentos públicos que atendam às necessidades sociais e tragam impacto positivo”, disse Cris Samorini, vice-prefeita de Vitória, que participou da assinatura do acordo com a SPU..

Projeto do shopping teve árduas batalhas e morreu após ter vencido todas
O projeto proposto por Alan Medina, irmão do empresário Roberto Medina, idealizador e promotor do Rock In Rio, enfrentou árduas batalhas para conseguir ter a base do projeto Centroshopping. Inicialmente teve em suas mãos esse terreno, agora cedido pela SPU para a Prefeitura. Mas, a sua proposta era unir o prédio da antiga Mesbla, onde funciona atualmente a loja Sipolatti e uma academia e para isso precisava “comprar” a Rua Alda Maria Lyra Vicentini, que ficava entre o terreno e a antiga Mesbla.
A luta teve vários episódios. Inicialmente o terreno, que era do SPU, encontrou barreiras, como a dirigente local do órgão naquela ocasião ser irmã do dono de um grande shopping center de Vitória. Com receio de enfraquecer as vendas do outro shopping, a então dirigente do SPU fez ofício à direção nacional desse órgão, reivindicando o terreno para ser uma “garagem” do SPU. Medina precisou de apoio da bancada de parlamentares federais do Estado, para mostrar a relevância do projeto, que não poderia ser impedido para ser uma “garagem.” Consegui a vitória.
Outra luta árdua foi a literal compra da rua. Havia naquela época vereadores ligados ao dono do outro shopping e que foram contra a venda da Rua Alda Maria Lyra Vicentini. Mais uma vez, Alan Medina venceu a batlaha. A guerra contra os obstáculos havia sido vencida. Estava tudo pronto para dar início á construção.
Foi feito o cercado em volta do terreno, agora cedido por 10 anos à PMV, e foi colocado um cercado com placas anunciando a construção do empreendimento, com os nomes das principais lojas do país que iriam se instalar no local. Mas, aí veio uma grande crise financeira internacional, elevando abusivamente a cotação do dólar e o empreendimento foi cancelado. Até o site https://www.centroshopping.com.br, que tinha as projeções de como ficaria o shopping não existe mais. Da mesma forma que não consta mais no portal do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) as mesmas projeções gráficas do empreendimento, que ficavam neste endereço www.iab-es.org.br/Shopping.html.

O que diz o ex-prefeito sopre o projeto do Shopping no Centro
A Internet é “esquecida”. Se for feita numa pesquisa no Google não aparece nada. Se procurar ajuda na Inteligência Artificial (IA) chinesa DeepSeek, vem a “informação” de que “nunca houve projeto de construção de um shopping center atrás da antiga Mesbla.” A IA ainda não tem a memória de um ser humano. Em artigo que divulgou através de Imprensa, em novembro de 2023, o ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas fez a seguiste lembrança do Centroshopping:
“O empresário carioca Alan Medina liderou tempos atrás, no meu mandato de prefeito, o projeto do Shopping do Centro. Ele dizia que a ideia original era de Edgard dos Anjos, que visualizou a utilização do prédio da antiga Mesbla e o aproveitamento de um terreno sem uso da União para a construção de um empreendimento comercial no local.
Seria também preciso desafetar uma rua de pouca utilidade e autorizar o uso do espaço aéreo por cima da Avenida Beira Mar, para que a construção chegasse até a orla, com os automóveis passando por baixo, como num túnel. A área de eventos e praça de alimentação deveria ser um espaço aberto com uma vista especialmente encantadora da entrada da Baía de Vitória, do porto e do Penedo.
Os investidores do Shopping deveriam fazer no local um estacionamento muito grande, eventualmente usando até o subsolo da Praça Getúlio Vargas, para permitir que os visitantes estacionassem ali para ir ao Shopping e também para percorrer as ruas do Centro e as ruas de pedestre da área de circulação, restrita na Cidade Alta a partir da Praça Costa Pereira.
Um novo ordenamento do subsolo, com a construção de galerias técnicas a serem construídas e administradas através de um “condomínio” de empresas e concessionárias, junto com a prefeitura, permitiria a retirada da fiação aérea e dos postes.
Assim, as fachadas dos imóveis antigos poderiam ser restauradas e seu uso, recuperado. O shopping do Centro é uma âncora para a revitalização econômica do Centro Histórico de Vitória e uma parte importante da solução para o fluxo de pessoas e automóveis num cenário de valorização, novos usos e atividade econômica na região. Edgard e Alan não viveram para ver o sonho realizado, mas ele é hoje ainda mais importante para a cidade.”
Troca-troca
A permuta pelo prazo de 10 anos envolve a cessão pela Prefeitura de Vitória de parte lda área dos galpões do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), em Jardim da Penha. A área na Avenida Beira-Mar pertence à União e é considerado terreno de Marinha porque o local surgiu de aterramento da Baía de Vitória. Antes desse aterramento, o mar vinha até às margens da atual Avenida Jerônimo Monteiro.
Já o Governo Federal, através da SPU, cede à PMV, essa área na Avenida Beira-Mar, que seria utilizada para um grande Shopping Center, que iria unir ao prédio da loja de departamento Mesbla, no Centro Histórico de Vitória, e que diante do fracasso do projeto virou área de estacionamento de veículos. A ainda cederá ao município área do antigo campo de futebol Santa Cruz, no Bairro Santa Lúcia, atualmente em processo de revitalização para uso em prática esportiva.