Mineiro de Aimorés (MG) e capixaba por adoção, ele difundiu as imagens do Brasil para o mundo e alcançou fama internacional por suas extraordinárias composições em preto e branco, revelando belezas naturais e atrocidades promovidas pelo ser humano

“O mundo se despede de Sebastião Salgado, que faleceu aos 81 anos em Paris. Reconhecido por suas impactantes fotografias em preto e branco, ele retratou a dignidade humana e as belezas naturais do planeta. Seu legado permanece vivo através de suas obras e do Instituto Terra.”, foi assim que o Insituto Terra anunciou a morte de seu fundador nesta sexta-feira.
A causa da morte não foi divulgada, mas Salgado enfrentava problemas de saúde decorrentes da malária, doença que ele contraiu nos anos 1990. “”Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”, diz a nota do Instituto Terra.
“Eu peguei malária e os médicos em Paris, no [tradicional hospital] Salpêtrière, me disseram que eu deveria descansar durante seis meses, porque a doença ataca o corpo inteiro”, explicou. “Tomo medicamentos há 15 anos e isso ajuda um pouco. Fiz toda a série na Amazônia assim, mas há duas semanas meu corpo começou a rejeitar o remédio e eu tive uma hemorragia no baço. Me desculpem, eu não estou nem com 50% da minha energia”, relatou Salgado, em março deste ano, por ocasião de uma grande retrospectiva de sua obra no centro cultural Les Franciscaines, em Deauville, no norte da França., segundo a Rádio France Internacional (RFI)..
Entre 1964-1967 Salgado Graduou-se em Economia pela Universidade Federal do Espírito Santo, tendo realizado Mestrado na Universidade de São Paulo e doutorado na Universidade de Paris, ambos também em Economia. Salgado inicialmente trabalhou como secretário para a Organização Internacional do Café (OIC). Em suas viagens de trabalho para a África, muitas vezes encomendado conjuntamente pelo Banco Mundial, fez sua primeira sessão de fotos, nos anos 70, com a Leica da sua esposa. Fotografar o inspirou tanto que logo depois ele tornou-se independente em 1973, como fotojornalista e, em seguida, voltou para Paris.
Dois filhos
Sebastião Salgado foi internacionalmente reconhecido e recebeu praticamente todos os principais prêmios de fotografia do mundo como reconhecimento por seu trabalho. Fundou em 1994 a sua própria agência de notícias, As Imagens da Amazônia, que representa o fotógrafo e seu trabalho. Salgado e sua esposa, a pianista Lélia Wanick Salgado, autora do projeto gráfico da maioria de seus livros, fixaram residência em Paris. O casal tem dois filhos, Juliano Salgado, nascido em 1974, e Rodrigo, nascido em 1979, que tem síndrome de Down. Juliano é cineasta e dirigiu, juntamente com o também fotógrafo Wim Wenders, o documentário O Sal da Terra, sobre o trabalho de seu pai.que foi indicado ao Oscar 2015 de melhor documentário.
Ele era imortal da Academia de Belas Artes da França desde 2017, tendo sido agraciado com os mais importantes prêmios da fotografia mundial. “Suas imagens, expostas em importantes instituições culturais e destacadas em publicações de todo o mundo, se transformaram em um símbolo do jornalismo fotográfico contemporâneo”, atesta a Organização Mundial de Fotografia. Poucas pessoas sabem, mas Salgado tinha residência na Ilha do Boi, em Vitória, uma casa que fica de frente para a Praia Grande.
Nota da Academia de Belas Artes da França
“Laurent Petitgirard, secretário perpétuo, os membros e correspondentes da Academia de Belas Artes têm a imensa tristeza de anunciar o falecimento, nesta sexta-feira, 23 de maio, aos 81 anos de idade, de seu companheiro Sebastião Salgado”, inicia a nota da Academia de Belas Artes da França. Na nota, Salgado é descrito como sendo uma “grande testemunha da condição humana e do estado do planeta”.
“Fotógrafo que percorreu o mundo sem parar, ele contraiu uma forma particular de malária em 2010 […]. Quinze anos mais tarde, as complicações dessa doença se transformaram em leucemia grave”, declarou sua família em um comunicado. “Através das lentes de sua câmera, Sebastião lutou incansavelmente por um mundo mais justo, mais humano e mais ecológico”, acrescentou o texto, redigido em francês e relatado pela RFI.