Em artigo distribuído nesta semana à imprensa latino-americana, o filósofo, sociólogo, cientista político e professor universitário brasileiro, Emir Sade, diz que o Brasil merece um pedido de desculpas por ter colocado na presidência da República um genocida. O Brasil está imerso em uma catástrofe humanitária, inicia ele em seu artigo. O país, que há pouco mais de cinco anos foi um exemplo de luta contra a pobreza, de luta contra as desigualdades, de democracia distributiva da renda, em pouco tempo se tornou um inferno, para os brasileiros e para o mundo, prossegue.
Mais de três mil pessoas morrem todos os dias pela pandemia, tantas outras morrem anonimamente pela fome, tantas mais pela violência das milícias e dos narcotraficantes. Morre mais do que nasce no Brasil.
De ter um presidente exemplo para o mundo, o Brasil passou a ter um presidente genocida. De ter um presidente que estava orgulhoso Brasil no mundo, agora você tem um presidente que envergonha os brasileiros no mundo.
Ódio danoso
Todos se perguntam como isso foi possível. Muitos se desculpam por ter tornado possível essa catástrofe, seja por ação ou por inação. O Judiciário reconhece que Lula sempre teve razão ao rejeitar as acusações, ao se apresentar para ser injustamente preso. A dignidade de Lula para enfrentar tudo isto é reconhecida por cada vez mais pessoas, que se sentem representadas nele, no seu drama, na sua resistência e na sua vitória. Muitas pessoas se desculpam com Lula por ser um carrasco contra ele, por ser um agente do antipetismo, o ódio que fez tanto dano no Brasil.
Lula tem o direito de exigir que lhe peçam perdão aqueles que o ofenderam, aqueles que ofenderam sua família, aqueles que denegriram sua imagem, aqueles que não acreditaram que ele era absolutamente inocente. Muitos deles mudaram de campo e tiveram a honestidade de reconhecer que estavam errados.
Povo na miséria
Mas, além de tudo isso, há um país, há um povo, que foi jogado na miséria e no abandono. A quem o pão e a vacina são negados. Há um Brasil maltratado, que se tornou vergonha do mundo, que é visto como o pior dos mundos.
Quem foi o responsável por tudo isto? Quem permitiu, por ação ou por inação, que a democracia fosse destruída pelo golpe contra Dilma. Quem reconhecer que se enganou de lado, deve começar por reconhecer que se enganou, sobretudo na altura, que não soube defender a democracia, o mandato de um presidente reeleito por voto popular. Quem se enganou ou foi levado pela má fé a acreditar que um governo com o qual não concordava deveria ser deposto por um impeachment sem fundamento constitucional.
Sem provas contra Lula
Quem aceitou que Lula fosse preso, processado, impedido de vencer as eleições de 2018, sem provas, apenas pelas condenações de um juiz que hoje é o que tem a maior rejeição no Brasil, porque foi desmascarado. Quem pensou que o Brasil poderia seguir em frente sem Lula, como se o Brasil pudesse deixar de lado o melhor que tem.
O Brasil merece desculpas por todos os que contribuíram para esta catástrofe humanitária que vive. Em primeiro lugar, através da mídia, que era o agente público do antipetismo, das acusações contra Dilma e Lula, sem qualquer prova. A mídia que promoveu a imagem de Lava Jato como redentor da política brasileira e a corrupção do Partido Dos Trabalhadores (PT) como lema que levaria à morte da esquerda. Isso promoveu o antipetismo como símbolo do mal, ocultando que o PT fez os melhores governos para o Brasil. A mídia deve pedir desculpas ao Brasil pelo papel deletério, porque foram os agentes da monstruosa operação que levou o Brasil a estar nas mãos de um genocida.
Farsa judicial
O Judiciário deve desculpas ao Brasil, por ter promovido a maior farsa judicial da história, através de Lava Jato, que violou todas as regras do estado de direito. O Judiciário, que não cumpriu seu papel de prevenir o impeachment de Dilma, sem qualquer fundamento legal. Isso permitiu a prisão de Lula, sua condenação e o impedimento de que tivesse sido eleito presidente do Brasil em 2018. Isso permitiu a vitória do genocídio através de uma farsa, que violou todas as regras do processo eleitoral.
Os grandes empreendedores, que só pensam em sua ganácia fácil, pela especulação financeira, sem crescimento econômico, nem distribuição de renda, nem criação de emprego. Que preferem a qualquer um, inclusive ao genocida, desde que o PT não volte a governar para todos os brasileiros, especialmente para os mais necessitados. Que financiem as piores campanhas, os piores candidatos, desde que privatizem empresas, que não limitem o poder econômico da banca privada e continuem aumentando as desigualdades no Brasil.
Catástrofe humanitária
Seria muito longo alinhar todos aqueles que, por ação ou inação, permitiram que o Brasil chegasse à catástrofe humanitária que vive hoje. O Brasil nunca foi um paraíso, mas se tornou o melhor dos purgatórios possíveis e agora se transforma em um inferno.
Vão pedir perdão ao Brasil e, para mostrar que se arrependem de ter levado o país a este desastre humanitário, a trabalhar com todas as forças para que todos unidos possam tirar o Brasil da lama em que se encontra?
Ou eles continuarão lamentando que o país seja entregue a um genocida e suas milícias, como se não fossem responsáveis por isso?