“O nosso grande temor, particularmente o meu, é que nós recebamos a cepa indiana no Brasil, que será uma tragédia para uma terceira onda. Ela não está claramente identificada como sensível às vacinas que estão em uso”. A afirmação é da pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcomo e foi feita nesta terça-feira aos deputados estaduais do Espírito Santo que integram a Comissão de Saúde, durante reunião virtual que tinha o objetivo de discutir os 15 meses de pandemia do Covid-19.
A pneumologista da Fiocruz ainda advertiu aos parlamentares capixabas que a cepa sul-africana não teve boa resposta com os imunizantes atualmente conhecidos e citou a vacina AstraZeneca e a Novavax. “Estamos num momento muito delicado no Brasil, mais de 90% dos casos hoje identificados são causados pela nova variante chamada P.1”, afirmou.
Adoção de medidas
Conforme Dalcomo, embora o Sars-CoV-2 não seja tão mutante, interceptar a taxa de transmissão é considerado estratégico com medidas não farmacológicas, como distanciamento social e uso de máscara e lavagem das mãos.
“Novas variantes se tornam dominantes quando elas conseguem se disseminar de forma mais eficaz que as formas preexistentes”, explicou, ressalvando que a cepa original é “muito minoritária” atualmente em território nacional, onde circulam três variantes: a de Manaus (P.1), do Reino Unido (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351).
“Não teremos vacina para todo mundo em 2021”, assinalou à especialista durante a exposição à Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Ela fez críticas à condução do governo federal na aquisição dos imunizantes, reforçadas pelo deputado estadual Emílio Mameri (PSDB), que concordou: “Perdemos muito tempo”.
Sequelas nos que se curam
“Eu considero a sequela, a síndrome pós-Covid-19, hoje o maior desafio da Medicina, quase que uma especialidade que será necessária”, avaliou Margareth Dalcomo. De acordo com ela, 80% dos pacientes que se curam, mesmo os casos não graves, ficam com pelo menos um sintoma de sequela, como fadiga, dor de cabeça, perda do paladar ou do olfato, entre outros.
A pneumologista falou que atualmente existem centros de atendimento multidisciplinar em São Paulo, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), e no Rio de Janeiro, na universidade estadual. Esses serviços vão desde reabilitação motora até reabilitação cardiovascular. “Muitas pessoas não teriam condição de fazer do ponto de vista privado. Então isso precisa ser oferecido pelo SUS”.
A médica da Fiocruz considerou positiva uma indicação feita ao governo do Estado pelo presidente do colegiado, o deputado estadual Hércules Silveira (MDB), que propôs a criação de um centro para receber esses pacientes. Dalcomo ainda falou sobre um estudo desenvolvido pela Fiocruz que prevê a utilização da vacina BCG, em comparação com placebo, para reduzir efeitos graves da Covid-19 em profissionais da saúde. Ela disse que 2.500 pessoas desse grupo serão acompanhadas durante um ano com a realização de testes. A BCG é aplicada em recém-nascidos contra a tuberculose.