fbpx
Início > Dezenas de animais são mortos por dia na BR 101 que corta a reserva de Sooretama

Dezenas de animais são mortos por dia na BR 101 que corta a reserva de Sooretama

Devido à imprudência dos motoristas, é comum o atropelamento e morte de animais raros, como a onça | Foto: ONG Últimos Refúgios

A expectativa é que até julho saia uma determinação para que ocorra a construção de um contorno, através de três municípios do Norte do Espírito Santo, e assim manter a preservação da reserva ecológica

Diariamente, dezenas de animais morrem atropelados no trecho de 25 quilômetros da BR-101 que corta o complexo florestal Linhares-Sooretama, que engloba duas Reservas da Costa do Descobrimento, a Reserva Biológica de Sooretama e a Reserva Natural Vale, tombadas como Patrimônio Mundial da Humanidade. O crime contra a fauna ocorre com a rodovia apenas com uma mão para ir e outra para voltar, mas há um projeto insensato e criminoso, que conta com apoio de deputados estaduais, que desejam pista de alta velocidade no meio da reserva, que prevê duplicar a rodovia.

Estima-se que mais de 20 mil animais silvestres morrem atropelados neste trecho por ano, entre anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Em um período de menos de um ano, quatro animais silvestres de grande porte foram atropelados, três antas (uma grávida) e uma onça-parda. Cada vida perdida, reduz ainda mais o tamanho da população, aumentando os riscos de extinção local da espécie. Além disso, é um indivíduo a menos exercendo seu papel ecológico.

Esta situação não representa uma ameaça somente a vida dos animais, mas também coloca em risco a vida dos usuários da rodovia. Várias pessoas já morreram e continuam morrendo em acidentes envolvendo atropelamentos de animais no Brasil.]

Há grupos, inclusive de políticos, querendo ampliar o crime contra os animais com a duplicação da BR 101 | Últimos Refúgios

Segundo a ONG Últimos Refúgios a presença da BR-101 em um dos últimos remanescentes de Floresta Atlântica de Tabuleiros, legalmente protegido, é um grave conflito na conservação da biodiversidade. Esta situação será agravada devido ao processo de ampliação e duplicação desse trecho, dentro do contrato de concessão da rodovia para a administração privada, até 2025. A empresa que explora o pedágio, a Eco 101, não tem a sensibilidade ecológica e apenas visa auferir lucros com a cobrança de pedágio.

À revelia da legislação

A BR-101 é uma das mais movimentadas rodovias do Brasil, ligando as regiões sul e sudeste ao nordeste do país. No Estado do Espírito Santo essa rodovia foi instalada  durante a ditadura militar, nas décadas de 1960 e 1970, à revelia da legislação ambiental da época, cortando uma das mais importantes paisagens de Floresta Atlântica de Tabuleiros, o complexo florestal de Linhares-Sooretama.

Segundo o Último Refúgios, desde a década de 1930, muitos anos antes da BR-101 ser implantada, a área do complexo florestal foi destinada à conservação da biodiversidade, com a criação das duas Unidades de Conservação mais antigas do Espírito Santo, e também estão entre as mais antigas do Brasil: a Reserva Florestal Estadual de Barra Seca e o Parque e Refúgio de Animais Silvestres Sooretama. Em 1971, as duas unidades foram unidas na Reserva Biológica de Sooretama. Em 1981, o processo de criação da Reserva Biológica de Sooretama foi concluído, com a definição dos seus limites. Hoje, a área da unidade possui 27.858,68 hectares.

A estrada corta, de forma criminosa, a reserva ecológica ao meio e agora, para piorar, há projeto de duplicar a rodovia | Google Maps

Outras reservas importantes também foram estabelecidas na área, como a Reserva Natural Vale, as Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN Mutum-Preto e a RPPN Recanto das Antas. Além disso, existe uma série de fragmentos florestais em áreas privadas no entorno, que compõem as Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal da região.

Atualmente, a área possui mais de 50 mil hectares de floresta protegida, com uma grande variedade de espécies arbóreas únicas, entretanto, cortada por um intruso trecho de aproximadamente 25 km da BR-101, que fragmenta as populações silvestres, mata diariamente dezenas de animais por atropelamento e promove intensa poluição sonora, do ar, solo e água na região.

De acordo com Plano de Manejo da Reserva Biológica de Sooretama, a área em que o trecho da BR-101 corta a reserva, com aproximadamente 5,1 km, foi definida como Zona de Uso Conflitante, pois é incompatível com os objetivos de manejo da unidade.

Propostas

Por isso, os ambientalistas da ONG Últimos Refúgios pedem aos órgãos competentes, a adoção de medidas emergenciais para evitar os atropelamentos de animais selvagens no trecho da BR-101 que corta a reserva ecológica de Sooretama e a Reserva Vale, no Espírito Santo: Reduzir a velocidade da via para 60 km/h em todo o trecho de 25km; Instalar radares de trecho inteligentes que registram e monitoram a velocidade dos veículos; Desobstruir os túneis de drenagem de água sob a pista que podem servir como passagem de fauna.

Fazer o cercamento (planejado) da via de forma direcional para os túneis; Controlar as árvores frutíferas exóticas das margens da estrada (mangueiras e jaqueiras, por exemplo); Colocar placas temáticas de advertência e educativas no trecho; Instalar passagens de estrato arbóreo (passagens aéreas) para travessia de animais arborícolas (macacos e bicho-preguiça, por exemplo); Retirar o lixo das florestas e corpos d’água no entorno na rodovia; Promover ações de sensibilização dos usuários da rodovia; Disciplinar o uso da via pela comunidade e empreendedores locais.

Defesa da reserva

O deputado Sérgio Majeski (PSB) vem lutando sozinho na Assembleia Legislativa nos últimos anos na defesa da reserva ecológica de Sooretama, sem sucesso. Os seus pares no legislativo estadual são opositores à defesa do meio ambiente e vem recusando todos os seus projetos. O primeiro deles foi a construção de túneis sob a rodovia BR 101 e com cercas impedindo que os animais atravessassem pelo asfalto de um lado para o outro a reserva. Com os túneis eles passariam ilesos de uma área para outra, onde a rodovia corta a reserva ao meio.

Mas, o projeto foi rejeitado. Depois o mesmo parlamentar apresentou o projeto de lei 134/2018 e, novamente, não obteve êxito. Neste projeto ele queria excluir do Plano Rodoviário Estadual um trecho de 12 quilômetros da rodovia estadual ES-356, outra tentativa criminosa para abater os animais com atropelamento e que também corta a Reserva Biológica de Sooretama.

Majeski argumentou que perdeu o interesse do Governo do Estado em cortar, mais uma vez, a reserva ecológica, para ligar os municípios de Linhares a São Mateus, já que existe a BR 101 que já faz isso. O parlamentar acrescentou que o trecho da rodovia estadual ES-356 no interior da Reserva Biológica de Sooretama é considerado pelo Plano de Manejo da reserva como zona de uso conflitante, pois “é incompatível com os objetivos de manejo desse tipo de unidade de conservação”.