O tradicional jornal francês Le Monde destacou neste último sábado (29) a enorme taxa de mortalidade de crianças no Brasil pelo Covid-19. A publicação observou, utilizando dados da ONG Vital Strategies, que desde o início da pandemia mais de 2.800 crianças menores de 10 anos morreram infectadas no país, sendo que mais da metade tinha menos de um ano de idade
Em alguns Estados, como o Espírito Santo, os governantes locais impuseram a volta às aulas presenciais de crianças e é comum ver aglomeração das crianças, uma próxima às outras, desde a fila de entrada na escola. Para inglês ver, as escolas fazem na entrada a medição de temperatura, uma forma hipócrita de mostrar que há segurança. No interior das escolas há inúmeros vídeos nas redes sociais mostrando que o índice de segurança é zero, já que as crianças sem embolam em brincadeiras.
De acordo com o Le Monde, os números de mortes por Covid-19 de crianças no Brasil é assustador, “não podem ser comparados com os de nenhum outro país do mundo onde existem dados sobre o assunto (na França, por exemplo, apenas 13 crianças e adolescentes menores de 19 anos morreram de Covid-19). Acima de tudo, são duas a a três maiores do que os números oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde.
“Subnotificação imensa”
Segundo a ONG Vital Strategies, ouvida pelo tradicional jornal francês, incluem crianças que morreram de dificuldade respiratória aguda de causas desconhecidas, na maioria das vezes o resultado de Covid-19 não chega a ser diagnosticado. “Mas os números reais são indiscutivelmente ainda mais importantes. A subnotificação é imensa ”, diz Fátima Marinho, epidemiologista que coordenou o estudo, em entrevista ao Le Monde.
De acordo com o Le Monde o Brasil ainda possui números assustadores de mortes por Covid-19, com a epidemia tendo matado mais de 460 mil pessoas, com os mais jovens sendo considerados vulneráveis, porque o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é negacionista e evitou ao máximo comprar vacinas. “Desde o início, essa retórica foi definida ao dizer que a Covid só mata os idosos. Está errado. A mortalidade é muito alta em todas as faixas etárias e até entre as crianças”,disse a entrevistada Fátima Marinho.
Sintomas
De acordo com o Le Monde, nas pessoas mais jovens, os sintomas diferem daqueles dos adultos. “As crianças sofrem com tosse, problemas respiratórios, mas também com muito vômito, diarréia e dores abdominais…”, observou o pediatra Ricardo Chaves, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, também entrevistado pelo jornal francês.
“Mais raramente, alguns morrem dos efeitos da chamada síndrome ‘PIMS’ (para síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica): uma inflamação generalizada dos órgãos que afeta algumas crianças e pode ocorrer várias semanas após a infecção por Covid”, acrescenta o médico. No Brasil, prossegue a publicação, todos se perguntam sobre a influência da variante P1 no drama infantil. Esta última, mais contagiosa, responsável pela maioria das infecções, também é suspeita de ser mais letal. “Essa nova cepa gera uma carga viral maior. Crianças com comorbidades – câncer, asma, diabetes etc. – têm, portanto, maior probabilidade de desenvolver formas graves e sucumbir ao vírus”, afirma Fátima Marinho.
Mas, sobre o assunto, as opiniões estão divididas “Nenhum estudo ainda mostra que a P1 é mais agressiva contra os mais novos. Crianças doentes, mesmo bebês com co-morbidades e infectados com a variante, geralmente não desenvolvem formas graves e sua condição muito raramente evolui para a morte “, disse Marcelo Otsuka, membro da Sociedade Brasileira de Doenças Infecciosas, entrevistado pelo jornal. O pesquisador se baseia em outro estudo recente, publicado pela National Pediatric Society. “As pessoas de 0 a 19 anos representam 25% da população brasileira, mas em 2020 eram responsáveis apenas por 2,46% das internações e 0,62% das mortes ligadas à Covid”, explica Otsuka.
Morte de crianças
O texto da publicação prossegue e analisa que para explicar a morte de tantas crianças no Brasil, os cientistas avançaram com outras explicações. A primeira estaria relacionada ao mau estado crônico do sistema de saúde e, em particular, da atenção primária. De acordo com as Nações Unidas, 14 em cada 1.000 crianças morrem, em média, no Brasil antes do quinto aniversário: o dobro da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
“Crianças de comunidades negras e indígenas, em áreas rurais ou favelas, são particularmente afetadas. Nessas populações, a exposição ao vírus é muito alta, a doença se espalha rapidamente e as comorbidades em crianças são mais importantes. O atendimento no hospital público é tardio e muito precário. Daí uma mortalidade altíssima”, explica Francisco Ivanildo Oliveira, infectologista do hospital infantil de Sabará (SP).
A tendência não deve melhorar. Após uma breve calmaria, os indicadores brasileiros voltaram ao vermelho. Embora apenas 10% da população tenha recebido até agora uma dose dupla da vacina, os especialistas prevêem até 300.000 mortes a mais até o final de agosto. Um verdadeiro massacre, destacou o jornal francês. “O relaxamento geral dos controles e o distanciamento social podem contribuir para o surgimento de novas mutações no vírus”, teme Paulo Ricardo Martins Filho, epidemiologista-chefe da Universidade Federal de Sergipe.