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Os impactantes atos de rua foram a ponta de um iceberg, por Ion de Andrade

Foto/Ilustração: Portal GGN

Como nos campeonatos de futebol a portões fechados, entenda o mundo da política, quem compareceu aos atos, já imensos, foram os onze titulares, os reservas e o corpo técnico. O grande público ficou em casa torcendo como num jogo de Copa!

Por Ion de Andrade, portal GGN

Um dos elementos centrais para o campo progressista vem sendo a valorização da ciência e a tentativa de cumprir à risca as recomendações de prevenção da Covid-19.

Recente estudo realizado pelo Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e pela Universidade de Toronto (clique aqui) mostrou que os municípios governados pelo bolsonarismo têm significantemente mais casos e óbitos do que os que não são, o que prova que a atitude correta fez e faz a diferença, mesmo em meio ao caos proporcionado pela falta de coordenação nacional na pandemia.

Estratégia de propagação

É desnecessário dizer que a “omissão” foi tanta que um trabalho (jornal El Pais: Pesquisa revela que Bolsonaro executou uma “estratégia institucional de propagação do coronavírus”) realizado pelo Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (CEPEDISA) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) e Conectas Direitos Humanos, coordenado pelos professores Deisy Ventura, Fernando Aith e Camila Lissa Asano, concluiu pela intencionalidade dos atos administrativos federais que estiveram ao longo de cada momento da pandemia orientados para a dispersão da doença e não para o seu controle.

Esse trabalho aliás deveria estar servindo, possivelmente esteja, como um importante eixo orientador da CPI.

Mesmo assim, alguns elementos merecem ser lembrados nessa linha do tempo, tais como: o estímulo ostensivo, pelo exemplo do mandatário mais alto e de seus aliados, às aglomerações, quando a principal ferramenta de controle em pauta era a do isolamento social, o estímulo ostensivo, pelo exemplo do mandatário mais alto e de seus aliados, ao não uso das máscaras quando elas se tornaram parte das recomendações da prevenção, as dificuldades de desembaraço dos respiradores importados que obrigaram estados e municípios a ter que recorrer à justiça para sua liberação, a inação da Anvisa nos aeroportos de diversos estados, precedida pela proibição formal pelo governo federal da ação preventiva desses estados nos aeroportos, a não compra de dezenas de milhões de doses de vacinas quando foram oportunamente disponibilizadas ao Brasil, além de questões como a ação do governo na crise do oxigênio em Manaus.

Portanto, os embates dos defensores da ciência e da democracia no Brasil, tiveram como um dos seus alvos principais o enfrentamento da pandemia nos termos em que a ciência foi recomendando ao longo do tempo, numa ação de redução de danos reconheçamos, pois o mal maior produzido pelo ente mais forte da federação está agora sob a apuração da CPI.

Crime contra a humanidade

Numa breve digressão, o único objeto da CPI é a intencionalidade das ações e omissões do governo federal. Senador Omar, Senador Renan, Senador Randolfe, Senador Otto Alencar, Senador Humberto Costa, Senadora Zenaide, Senador Jean Paul, a CPI deve entregar à nação uma conclusão sobre a intencionalidade de tudo o que ocorreu na condução da pandemia no Brasil o que ensejará então a discussão sobre a existência ou não de Crime contra a Humanidade. O trabalho da USP é, por isso, muito importante como um dos eixos orientadores da CPI.

Voltando aos atos, eles figuraram aos olhos de muita gente do campo democrático como sendo de extremo risco no plano da saúde pública. No entanto dando razão aos que entenderam que era hora de ir para a rua, respeitados naturalmente os cuidados contra a Covid-19, como ocorreu, mas (detalhe importante) sem tirar a razão dos que não foram, os atos ganharam legitimidade plena e vida própria.

A condução política, aliás, admitindo a possibilidade de duas legitimidades aparentemente antagônicas (ir ou não ir) foi genial e permitiu participação cidadã dos que estavam nas ruas e dos que estavam em casa!

Torcida de casa

Entendamos a dinâmica entre palco e bastidores que atravessou os atos de sábado 29 de maio: as pessoas para quem a prevenção estava sedimentada como uma cultura, mesmo entendendo a relevância estratégica do seu sucesso, não compareceram às manifestações. Mas torceram de casa, como num jogo da Copa.

Que o mundo da política entenda: À semelhança dos jogos dos campeonatos de futebol que têm ocorrido a portões fechados, aos atos compareceram os onze titulares da nossa seleção interclubes, os reservas e o corpo técnico.

O grande público que teria ido ver com os próprios olhos os atos pela democracia ficou em casa.

O jogo, como sabemos, foi uma goleada!