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Em novo ataque de Bolsonaro à imprensa, entidades de jornalistas pedem sua renúncia

Em novo ataque psicótico, Bolsonaro ataca com palavrões os jornalistas e as redes de TVs CNN e Rede Globo | Foto: YouTube

Em um novo ataque psicótico do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), enquanto ele participava de um evento da Aeronáutica em Guarantinguetá (SP), voltou agredir verbalmente os jornalistas e as emissoras de TV Globo e CNN, através da afiliada da Rede Globo no interior paulista, a TV Vanguarda. A ação desequilibrada do presidente negacionista do vírus do Covid-19 levou as entidades que representa a imprensa e emitirem duras notas para criticar a ação agressiva.

Desequilibrado, Bolsonaro promoveu um novo ataque psicótico à imprensa em Guaratinguetá (SP) | Vídeo: YouTube

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI emitiu uma nota onde no título pede “Nota oficial. Renuncie, Presidente!”. Renuncie, presidente!”. Na íntegra a nota diz: “Descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço, irascível, amalucado, alucinado, desvairado, enlouquecido, tresloucado. Qualquer uma destas expressões poderia ser usada para classificar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, insultando jornalistas da TV Globo e da CNN.”

“Com seu destempero, Bolsonaro mostrou ter sentido profundamente o golpe representado pelas manifestações do último sábado. Elas desnudaram o crescente isolamento de seu governo. Que o presidente nunca apreciou uma imprensa livre e crítica, é mais do que sabido. Mas, a cada dia, ele vai subindo o tom perigosamente. Pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista.”, prossegue a nota.

“Seu comportamento chega a enfraquecer o movimento antimanicomial – movimento progressista e com conteúdo profundamente humanitário. Já há quem se pergunte como um cidadão com tamanho desequilíbrio pode andar por aí pelas ruas. Mas a situação é ainda mais grave: esse cidadão é presidente de um país com a importância do Brasil. Diante da rejeição crescente a seu governo, Bolsonaro prepara uma saída autoritária e, mesmo a um ano e meio da eleição, tenta desacreditar o sistema eleitoral. Seu objetivo é acumular forças para a não aceitação de um revés em outubro de 2022:”, continua.

“É preciso que os democratas estejam alertas e mobilizados. Diante desse quadro, com a autoridade de seus 113 anos de luta pela democracia, a ABI reitera sua posição a favor do impeachment do presidente. E reafirma que, decididamente, ele não tem condições de governar o Brasil. Outra solução – até melhor, porque mais rápida – seria que ele se retirasse voluntariamente. Então, renuncie, presidente!”. A nota da ABI é assinada pelo presidente da entidade, Paulo Jeronimo.

Nota da Abraji

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) emitiu uma outra nota, com o título “Abraji condena ataque de Bolsonaro à imprensa e à democracia”. “O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a imprensa nesta segunda-feira, 21.jun.2021. Dessa vez, além de disparar ofensas contra a Globo e seus profissionais, o presidente mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, calar a boca e, contrariando as normas sanitárias, tirou a própria máscara para agredi-la verbalmente com palavrões”, inicia a nota.

E prossegue: “No início da tarde, após a cerimônia de formatura da Escola de Especialistas de Aeronáutica em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, repórteres se aproximaram de Bolsonaro. Desde o fim de semana, quando o Brasil chegou a meio milhão de mortes na pandemia, o presidente não havia se manifestado sobre o assunto. Um jornalista da CNN cobrou um posicionamento e recebeu como resposta uma reclamação sobre a cobertura dos protestos contra o governo pelo canal no último sábado (19.jun.2021)”.

“Em seguida, Bolsonaro se exaltou ao ser questionado por Laurene Santos sobre ter sido multado pelo governo paulista pelo não uso da máscara durante uma manifestação, dez dias atrás. A equipe da TV Vanguarda mencionou o fato porque o presidente havia retirado a proteção facial ao chegar ao evento e, após a solenidade, ao cumprimentar formandos e posar para fotos.  Nesse momento, Bolsonaro perdeu a compostura: “Olha, eu chego como quiser, onde eu quiser, eu cuido da minha vida”. Foi então que ele retirou repentinamente a própria máscara e declarou”, continua a Abraji:

“Essa Globo é uma merda de imprensa! Vocês são uma porcaria de imprensa! Cala a boca, vocês são uns canalhas! Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam! (…) Você tinha que ter vergonha na cara de prestar um serviço porco que é esse que você faz à Rede Globo”, lembra a entidade na sua nota.

“No ano passado, o presidente já havia mandado repórteres calarem a boca e em outro momento disse que sua vontade era encher a boca de um jornalista de porrada. Levantamento da Abraji mostra que Jair Bolsonaro bloqueou ao menos 66 jornalistas e veículos no Twitter, além de ser o campeão de discursos estigmatizantes contra a imprensa, com 46 alertas somente em 2021”, continua.

“A Abraji se solidariza com a equipe da TV Vanguarda e, em especial, com Laurene Santos. Condena não apenas a atitude de Bolsonaro, mas a de todos aqueles que participaram da entrevista, como o prefeito de Guaratinguetá, Marcus Soliva (PSC), e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que também seguiu o presidente e retirou a máscara. Jair Bolsonaro demonstrou mais uma vez seu desrespeito pela liberdade de imprensa, pela saúde pública, pela democracia e até mesmo pelas normas mais básicas de civilidade e etiqueta – um comportamento incompatível com o cargo máximo da República do Brasil”, finaliza. A nota da Abraji é assinada pela Diretoria e datada de  21 de junho de 2021.

De acordo com estudo da Fenaj, os ataques à imprensa se elevaram com a posse do presidente de extrema-direita radical

Relatório da Fenaj

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou nesta segunda-feira (21) um relatório sob o título “Violência contra jornalistas cresce 105,77% em 2020, com Jair Bolsonaro liderando ataques”. A íntegra do documento pode ser baixada por dowlnoad em arquivo PDF. no final desta matéria A Fenaj inicia seu texto da seguinte forma: Em pleno ano da pandemia provocada pelo novo coronavírus, quando o Jornalismo foi considerado atividade essencial no país e no mundo, e os profissionais se desdobraram, muitas vezes em condições precárias, em busca da informação responsável e de qualidade para conter o avanço da doença, o Brasil registrou uma explosão de casos de violência contra os jornalistas.

Segundo o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil  – 2020, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e lançado hoje (26/01) dentro das atividades do Fórum Social Mundial, o ano que passou foi o mais violento, desde o começo da década de 1990, quando a entidade sindical iniciou a série histórica. Foram 428 casos de ataques – incluindo dois assassinatos – o que representa um aumento de 105,77% em relação a 2019, ano em que também houve crescimento das violações à liberdade de imprensa no país.

Para a FENAJ, o aumento da violência está associado à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República e ao crescimento do bolsonarismo. Na avaliação da Federação Nacional dos Jornalistas esse crescimento está diretamente ligado ao bolsonarismo, movimento político de extrema-direta, capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro, que repercute na sociedade por meio dos seus seguidores.

Houve um acréscimo não só de ataques gerais, mas de ataques por parte desse grupo que, naturalmente, agride como forma de controle da informação. Eles ocorrem para descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas e ou fraudulentas”, afirma Maria José Braga, presidenta da FENAJ, membra do Comitê Executivo da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) e responsável pela análise dos dados.

Bolsonaro lidera os ataques à liberdade de imprensa no Brasil, segundo estudo da Fenaj

Bolsonaro lidera os ataques

A presidenta também destaca que o registro, pelo segundo ano consecutivo, de duas mortes de jornalistas, “é evidência concreta de que há insegurança para o exercício da profissão no Brasil”. Como no ano anterior, a descredibilização da imprensa foi uma das violências mais frequentes: 152 casos, o que representa 35,51% do total de 428 registros ao longo de 2020. Bolsonaro, mais uma vez, foi o principal agressor. Dos 152 casos de descredibilização do trabalho dos jornalistas, o presidente da República foi responsável por 142 episódios.

Sozinho, Jair Bolsonaro respondeu por 175 registros de violência contra a categoria (40,89% do total de 428 casos): 145 ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas, 26 casos de agressões verbais, um de ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à Globo e dois ataques à FENAJ. Para a presidenta, a postura do presidente da República serve de incentivo para que seus auxiliares e apoiadores também adotem a violência contra jornalistas como prática recorrente.

Ataques virtuais aumentaram

Ataques virtuais e censuras aumentam. Também foi registrado aumento nos casos de Agressões verbais/ataques virtuais, com o crescimento de 280% em 2020 em comparação com o ano anterior, quando foram registrados 76 casos. Para que o número geral de casos de violência contra jornalistas e ataques à liberdade de imprensa mais que dobrasse em 2020, destaca a presidenta, “houve crescimento em quase todos os tipos de violência”.

O aumento foi bastante expressivo ainda nas categorias de censuras (750% a mais) e agressões verbais/ataques virtuais (280% a mais). Os jornalistas passaram a ser agredidos por populares e houve aumento nos casos de agressões físicas e de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais, o que também é muito preocupante na avaliação da Federação, afirma a presidenta.

Segundo o relatório, as agressões físicas eram a violência mais comum até 2018, depois diminuíram em 2019 e, em 2020, cresceram 113,33%. Já os episódios de cerceamento à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais subiram 220%: de cinco em 2019, para 16 casos, em 2020. Para a presidente, ano passado foram registrados dois casos preocupantes dessas duas formas de ataques – verbais e pelas vias judiciais – que agravam a preocupação da entidade com o futuro do jornalismo no Brasil. São os casos do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, condenado à prisão pelo livro-reportagem A Privataria Tucana, e do professor de jornalismo do Rio Grande do Sul, Felipe Boff, agredido verbalmente durante discurso em uma colação de grau.

Violência por gênero e tipo de mídia

Os homens seguem sendo as maiores vítimas de violência contra jornalistas representando 65,34% dos casos, mas foi registrado também um aumento expressivo de ataques às mulheres. “Os ataques verbais e virtuais contra as mulheres cresceram e sempre têm um caráter machista, misógino e com conotação literalmente sexual, o que é muitíssimo grave”, destaca Maria José Braga.

A maioria dos jornalistas agredidos fisicamente ao longo de 2020 são trabalhadores de emissoras de televisão. Eles representam 24,44% dos 77 casos. Maria José disse que os números do relatório, mais uma vez, expressam a preocupação da Federação pois, mesmo sabendo que são subestimados, são bastante alarmantes. “Eles mostram a gravidade da situação e mostram que o Estado brasileiro que, antes era omisso no combate à violência contra jornalista, não tomando medidas efetivas para a proteção da categoria, agora, por meio da Presidência da República, é o principal agressor”.

Estado passa de omisso a agressor

Maria José fez um apelo para que as instituições tomem providências enérgicas para que a violência seja investigada, combatida e punida, pois o Jornalismo e os jornalistas precisam do apoio da sociedade para seguir informando com responsabilidade e qualidade.

Ela lembrou que a FENAJ é uma das entidades signatárias de um pedido de impedimento do presidente por crime de responsabilidade contra o direito constitucional da liberdade de imprensa – parado na Câmara dos Deputados – e de uma ação por danos morais coletivos por causa dos ataques aos jornalistas, também sem resposta ainda do Judiciário.

O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa – 2020 é elaborado anualmente a partir dos dados coletados pela própria Federação e pelos Sindicatos de Jornalistas existentes no país, a partir de denúncias públicas ou feitas às entidades de classe.