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Falta de investimentos na área de biotecnologia coloca o Brasil na contramão mundial

Lucia Maria Almeida Brás defende a implementação de políticas públicas de incentivo para corrigir a disparidade existente entre a produção científica no Brasil, que é grande, e a disponibilidade de insumos, que depende muito da importação

Por Jornal da USP.

Os cientistas brasileiros tornam-se dependentes dos insumos e equipamentos do exterior para poder realizar suas pesquisas científicas – Foto: HCC Public Information Office/Flickr-CC

O Brasil está em 66º lugar no ranking da produção de insumos, segundo nota técnica que diz respeito à produção científica no Brasil e à disparidade entre a realização científica e a disponibilidade em biotecnologia no País, publicada na Science Progress. A nota destaca o contraste entre a qualidade da ciência nacional, considerada de alta qualidade, e o investimento insuficiente na área de biotecnologia para permitir seu pleno exercício. Desse modo, os cientistas brasileiros tornam-se dependentes dos insumos e equipamentos do exterior para poder realizar suas pesquisas científicas.

“Essa deficiência foi escancarada durante a pandemia”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição Lucia Maria Almeida Brás, doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina (FM) da USP e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) e uma das autoras da nota. De acordo com ela, enquanto países que investem em recursos biotecnológicos, como China e Estados Unidos, conseguiram produzir suas próprias vacinas, a falta de investimentos na área não só impediu o Brasil de desenvolver seu próprio imunizante como o fez dependente das importações de recursos básicos para o controle da pandemia, como os kits de extração de DNA e RNA para o diagnóstico molecular por PCR.

A pesquisadora ressalta a necessidade de criar mecanismos para impulsionar o meio tecnológico no País. Entre as sugestões da especialista estão a implementação de incentivos fiscais às empresas da área, buscar aprimorar as parcerias das empresas com a universidade, prestigiar com financiamentos aqueles autores que têm publicações nacionais, entre outras. Ainda segundo ela, o mercado desse tipo de insumos está em expansão e, mesmo havendo algumas políticas públicas implementadas para incentivar o empreendedorismo na área, existe a necessidade de planos governamentais mais robustos e voltados para essa questão da fragilidade da biotecnologia brasileira. 

Para Lucia, a implementação de políticas públicas de incentivo precisa ser incrementada, especialmente diante da atual situação econômica do País. Até outubro de 2020, o Brasil tinha publicado cerca de 4 mil artigos científicos somente em relação à covid-19, demonstrando a capacidade científica nacional. “Todas as vezes que eu vejo cientistas na TV falando da dificuldade de importar, da demora da importação, fico imediatamente preocupada”, destaca a pesquisadora, e conclui: “Essa tem que ser uma preocupação nacional”.