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Para senadores da CPI, diretor da FIB BanK deu o depoimento ‘mais escabroso’

Senador Renan Calheiros (MDB-AL) confirmou ainda que deve entregar o relatório final na segunda quinzena de setembro

Roberto Pereira Jr, barbeiro e presidente do FIB Bank, que ofereceu garantia à Precisa na intermediação da Covaxin | Foto: Ag. Senado

A CPI da Pandemia ouviu nesta quarta-feira (25) um depoimento épico, que deverá entrar para a História brasileira. Foi ouvido, a pedido do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o presidente da empresa FIB BanK, Roberto Pereira Ramos Júnior. O absurdo foi tanto que nem um dos melhores escritores de roteiro de filmes de Hollywood teria tanta criatividade para a quantidade de absurdos. O verdadeiro dono do “banco” que não é banco é, na verdade, Marcos Tolentino, dono da Rede Brasil de Televisão, e o depoente foi apenas um laranja,. segundo entendimentos dos senadores que compõem a CPI.

A começar pelo presidente do “banco” que não é banco, Roberto Pereira Júnior. Ele confirmou aos senadores da CPI que é um barbeiro, que tem salário de pouco mais de R$ 4 mil como “executivo/’ da FIB Bank e que está sendo processado pelos sócios da barbearia pela acusação de retirada ilícita de dinheiro. Os componentes da CPI o chamaram de laranja e mesmo assim o “executivo” se omitiu em dizer quem é o verdadeiro dono da empresa de garantia fiduciária, que não tem registro como estabelecimento bancáio no Banco Central (BC).

Outros absurdos que vão garantir o depoimento desta quarta-feira para a história brasileira é que o FIB Bank existe porque alega ter um imóvel no valor de R$ 7,5 bilhões. Imóvel esse registrado no 13º cartório de Curitiba (PR), que ao ser apurado pelos senadores não existe na capital paranaense um 13º cartório. E cujo imóvel, na realidade á um terreno que está em nome de uma outra pessoa. E o valor de R$ 7,5 milhões é mais do que o dobro da mansão mais cara do mundo, que fica na Califórnia, no Estados Unidos.

O senador Omar Azis (PSD-AM) chegou dizer que o que garante o patrimônio do FIB Bank tem preço acima do que vale o Palácio de Buckingham, em Londres, onde fica a realeza britânica. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou dois atestados de óbitos de empresários vinculados ao FIB Bank, cujas assinaturas aparecem em contratos com órgãos governamentais firmadas após a morte. Rodrigues em tom jocoso pediu ao depoente para entrar em contato com o além para consultar, antes de dar uma resposta.

Com humor requintado, o jornalista e youtuber curitibano Álvaro Borba, que tem juntamente com a jornalista Ana Lesnovski, um portal com mais de um milhão de inscritos denominado Meteoro Brasil fez um vídeo onde narra muito bem como é o esquema de corrupção do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro. Assista a seguir:

A CPI da Pandemia está desmontando um forte esquema de corrupção no governo Bolsonaro | Vídeo: YouTube

Assembleia do ES no esquema do FIB Bank

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) leu diversos órgãos públicos que se envolveram no esquema do FIB Bank e entre esses foi citada a Assembleia Legislativa do Espírito Santo. No seu portal da transparência, o Legislativo capixaba omite o nome do FIB Bank, cuja busca aparece como inexistente. O mesmo senador ainda citou um órgão da saúde da Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim (ES), que também se envolveu com a empresa que os senadores da CPI da Pandemia denominaram como sendo laranja.

O FIB Bank, que de acordo com os senadores da CPI faz parte do esquema de corrupção do líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, o deputado Ricardo Barros (PP-PR). O presidente foi convocado, mas como demonstrou não saber nada, os parlamentares chegaram á conclusão de que o barbeiro e executivo não passa de um laranja, o que vai exigir trazer para depoimento o verdadeiro e oculto dono.

O “banco” que não tem registro no Banco Central  participou da audiência porque  está relacionado a uma das linhas de investigação da CPI, que é a negociação do governo com o laboratório indiano Baraht Biotech para a compra da vacina Covaxin, no valor total de R$ 1,61 bilhão. Para viabilizar o contrato da compra, que de acordo com os senadores era um golpe, já que a vacina não seria entregue, houve a necessidade de uma garantia no valor de 5% do total contratado, ou seja, R$ 80,7 milhões.

“Bilionário” sem auxílio emergencial

Mas, a garantia era irregular, já que quem teria de garantir seria um banco de verdade e não um banco de fachada e com diversas ilegalidades. Entre essas e por pouco o depoente não saiu preso da CPI está a criação do FIB Bank através do crime de uso de identidade de terceiros, sem que as pessoas soubessem, para a condição de sócio. No depoimento foi exibido um vídeo de um vendedor de equipamentos de frio do Nordeste, que ao perder o emprego, não conseguiu receber o Fundo de Garantia porque constava que ele era sócio de um “banco’ com patrimônio bilionário. E, depois, no mesmo vídeo, o “sócio’ disse que não conseguiu receber o auxílio emergencial de R$ 600,00 pelo mesmo motivo de ser “bilionário”.

A Precisa entregou ao Ministério da Saúde uma ‘carta de fiança’ emitida pela empresa FIB Bank Garantias S.A., sediada em Barueri, interior de São Paulo. A carta afiança o valor de R$ 80,7 milhões. A Precisa aparece como ‘afiançada’. O “beneficiário”, conforme o documento, é o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Logística em Saúde da Secretaria-Executiva”, explicou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) quando redigiu o requerimento pedindo a convocação do “presidente” do “banco” que não é banco.

“Escabroso”, “contraditório” e “demolidor”

“Escabroso”, “contraditório”, “demolidor” foram alguns dos adjetivos usados pelos senadores para qualificar o depoimento desta quarta-feira (25) na CPI da Pandemia. O depoente disse durante o interrogatório que a FIB BanK, apesar do nome, não é um banco, e apesar de ser uma pequena empresa, tem capital social de R$ 7,5 bilhões, na forma de terrenos em São Paulo e no Paraná.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou ter sido, “de longe, o depoimento mais contraditório desta comissão”. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator, qualificou o depoimento de “escabroso” e lembrou que o negócio foi paralisado graças à CPI.

“Golpe”, “Tramóia”

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) disse que nenhum outro depoimento foi “carregado de tantas irregularidades”. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) enumerou as “artimanhas” e disse que o que Eduardo Pazuello, Elcio Franco e Roberto Dias têm de responder por assinarem pelo Ministério da Saúde um contrato sem as formalidade legais. O senador Jorginho Mello (PL-SC) qualificou a atuação da empresa de “golpe”, “tramóia” e “picaretagem”, mas elogiou o governo por não ter fechado o negócio.

Apesar do nome, a FIB BanK não é banco ou instituição financeira. O questionamento da CPI concentrou-se na falta de credenciais da empresa para avalizar um negócio da ordem de R$ 1,6 bilhão com o Ministério da Saúde, diante de várias possíveis ilegalidades em sua constituição e operação. Também indagou-se sobre o papel do advogado Marcos Tolentino, apontado como verdadeiro dono da FIB BanK e ligado ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). O nome de Barros foi citado em negociações de vacinas com o governo brasileiro suspeitas de irregularidades.

“Banco” Fake News

“O pior é que coloca o nome de banco e nem banco é! A fake news começa aí!”, indignou-se o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM). Em diversos momentos, Roberto Pereira afirmou desconhecer pessoas envolvidas nos negócios da FIB Bank (como Francisco Maximiano, dono da Precisa), ou não dispor dos documentos necessários para responder as perguntas do relator, encaminhando as solicitações aos departamentos comercial e jurídico de sua empresa. Ao lhe perguntarem sua remuneração na empresa, o depoente pediu para prestar a informação por escrito após a reunião.

Roberto Pereira reconheceu que a FIB Bank nasceu como shelf company. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) explicou que o termo em inglês (que significa “empresa de prateleira”) designa empresas constituídas em cartório, mas sem atividade, criadas apenas para serem revendidas a quem queira possuir uma pessoa jurídica sem enfrentar a burocracia de criação de uma empresa.  

A senadora Simone Tebet fez uma detalhada exposição das aparentes fraudes nas atividades da FIB BanK ao longo dos anos, a começar pelo uso de “laranjas” como sócios. Um dos momentos mais surpreendentes da reunião foi a exibição de um vídeo de Geraldo Rodrigues Machado, morador do município alagoano de Pão de Açúcar. No vídeo, Araújo contou que, ao tentar financiar uma moto em 2015, descobriu que era sócio da empresa.

“O contrato da Covaxin era fraudulento. Faltavam partes, [havia] valores para serem pagos em paraíso fiscal por quem não fazia parte da assinatura do contrato, e garantia de um banco que não era banco”, afirmou Simone. “O Ministério da Saúde é tão ou mais responsável por isso”, completou.

Convocação de motoboy milionário

Foi aprovado requerimento de Randolfe Rodrigues, convocando a depor Ivanildo Gonçalves da Silva, motoboy para a empresa VTCLog, empresa de logística que atende o Ministério da Saúde na distribuição de vacinas e insumos para todo o país. Desde 2018 Ivanildo fez saques em espécie para a VTCLog num total superior a R$ 4 milhões.

O relator Renan Calheiros fez um balanço dos quatro meses da CPI. Ressaltou que, desde o início das investigações, o governo federal mudou a postura em relação à pandemia de coronavírus.

‘Graças à luz colocada pela CPI, o governo cancelou o contrato fraudulento da Covaxin; demitiu servidores que pediam propinas; cancelou negociações com atravessadores; comprou vacinas; parou de alardear sobre a fraude do tratamento precoce; fez influenciadores e sites de fake news apagarem posts que agravaram a pandemia; e fez até o filho negacionista do presidente se vacinar e postar nas redes sociais! “,afirmou, referindo-se ao senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

De testemunha para investigado

O relator anunciou que mais três depoentes passarão da condição de testemunhas para a de investigados pela CPI: Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde; Francisco Maximiano, dono da empresa Precisa Medicamentos; e Emanuel Catori, sócio da empresa Belcher Farmacêutica.