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Recursos para inovação existem, mas estão aprisionados em mentes arcaicas de gestores públicos

José Antonio Bof Buffon

Economista, Professor de Economia da UFES. Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Colatina (ES). Capitalz Broker no Espírito Santo. Consultor, Instrutor e Palestrante em Inovação, Gestão Estratégica e Finanças. Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo. Ex-presidente da FAPES

O futuro dos países, das regiões e das cidades está indissoluvelmente ligado à capacidade de inovação – e a inovação depende fortemente do avanço da ciência, combinado com a capacidade de empresariamento de ideias, pelos próprios pesquisadores ou por terceiros.

Então é justo que seja cobrado dos gestores um fluxo de recursos estável e ascendente para a pesquisa científica e para a inovação.

Assim, cobrarmos ferozmente da União e cobramos também, mais moderadamente, dos nossos governos estaduais. Em momentos como o atual, esta cobrança é legítima, justa e necessária.

Mas há um gigantesco montante de recursos, disponível, que podem ser alocados pelos municípios. Mas por que estes recursos não aparecem?

Já explico. Não aparecem porque o modelo mental da maioria dos nossos gestores municipais ainda é prisioneiro do investimento tangível, material, em detrimento do intangível, do imaterial. São gestores, em regra, viciados em obras, que dão enorme importância ao descerramento de uma placa, por ocasião da entrega de um mísero trecho de estrada.

Vamos convencionar que 1 km de asfalto custe R$ 3,0 milhões. Todo município, por menor que seja, tem recursos para construir 4 km de asfalto em 4 anos – 1km a cada ano.

O que se pode fazer com o equivalente a 1 km de asfalto?

Um amplo programa de “ideação” que culmine com geração e pré-incubação de 15 startups, subvencionadas e acompanhadas por pelo menos 10 meses.

Um amplo programa de “iniciação tecnológica e científica” para 250 alunos do Ensino Médio e Fundamental II.

Multiplique-se tudo por 4 anos e por 78 municípios e teremos os seguintes números:

(i)                    R$ 936 milhões alocados;

(ii)                    4.680 empresas novas baseadas em conhecimento;

(iii)                   78.000 jovens motivados, iniciados em ciência e tecnologia e desafiados a empresariar suas ideias.

É lógico que nem todos os municípios dispõem de massa crítica e das pré-condições (não financeiras) para que estes números se tornarem realidade. Mas servem para dar a tônica da direção para qual devemos caminhar. Por outro lado, muitos municípios podem fazer muitos mais do que esta simulação vem a sugerir.

O que temos a fazer é desafiar os gestores públicas a romper com um modelo mental arcaico e obsoleto, reavaliar suas prioridades e montar equipes sintonizadas com esses novos tempos.

E para finalizar, saliento que em todo o município, por menor que seja, tem 5 ou 6 jovens que se graduaram em boas escolas e estão ansiosos por uma oportunidade para fazer algo diferente para suas cidades. Para tanto, os gestores também precisam mudar o modelo de recrutamento dos seus secretários.

O que temos a perder com esta opção estratégica? Deixaremos de ter 1 km de asfalto, por ano, em cada município.