E a luta continua
por Francisco Celso Calmon/Reprodução portal de notícias GGN
A tática da narrativa do presidente genocida é a do morde e assopra. No morde ele avalia a mordedura e a reação do outro, no assopra ele prepara um novo movimento.
Sete de setembro serviu como exercício de simulação para o ataque final de ocupação física, foi um típico treino de guerra de movimento, mostrou que tinha condições de ocupar Brasília e paralisar as rodovias, mas não era o momento, precisava saber e medir a reação dos adversários. Se o propósito fosse sitiar e ocupar Brasília, provavelmente não se deslocaria para São Paulo.
Ele sabia que o Judiciário (e o Legislativo idem) poderia invocar a garantia da lei e da ordem e colocar as Forças Armadas para o cumprimento das leis e da segurança pública, da lei e da ordem, e não da lei ou da ordem.
Conforme prevê o artigo 142 da Constituição Federal, as Forças Armadas (Exército Marinha e Aeronáutica) são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes poderes, à garantia da lei e da ordem.
Nessa hipótese não teria como Bolsonaro e horda enfrentarem as FAs. E àquela altura de 7 de setembro ele sabia não contar com o apoio delas para a sua aventura.
Em São Paulo Bolsonaro escorrega ainda mais na narrativa ao qualificar o ministro do STF, Alexandre de Morais, de canalha.
Ofender o Ministro da Corte Suprema e também declarar que não obedeceria às suas decisões judiciais foram as gotas d’água. Estava declarado crime de desobediência e de decoro. Fomentava a desarmonia entre os poderes da República, desobedecendo a Constituição.
Retoma a cena os operadores do golpe de 2016, os arautos do poder dominante do Brasil: o arquétipo traidor Michael Temer, com STF (Gilmar Mendes) e tudo mais.
E no limite humilham o Bolsonaro e o fazem assinar uma carta pífia, sem garantias e compromissos futuros.
Gilmar Mendes em seguida, diante de tanta perplexidade, diz que “temos que acreditar na boa fé de Bolsonaro” e responsabiliza os bolsonaristas: “seus seguidores vivem delírios”, acrescenta ele.
A culpa é de quem opera e não de quem manda, nessa lógica.
Há um pacto em construção, sem a participação da esquerda. É recorrente acordos das elites sem a participação dos representantes de parcelas do povo. Até o presente da história o tal “pacto da anistia” levou o país a não resolver o seu passado traumático da ditadura militar.
Gilmar Mendes não é ingênuo, talvez ache que o povo seja, pois como falar em boa-fé de uma pessoa cujo currículo comprova não ter tido nenhuma ao longo de sua vida, ao contrário: sua história é de perigosa má-fé e de contínua e recorrente mentira e desdisse, não honra a palavra e compromisso.
Imaginar boa-fé de Bolsonaro é acreditar que exista outro Bolsonaro, não há elementos para ser crível, jamais haverá, senão não seria ele próprio.
Fazer profissão de fé na redenção de um genocida e terrorista convicto camufla as verdadeiras intenções dos mesmos golpistas de 2016.
Jamais esquecer que Gilmar ao impedir que Lula assumisse o Gabinete civil do governo Dilma mudou a história.
Dia 7 passado o golpista mordeu, simulou o que seria a ocupação física dos poderes por sua turba, e depois aceitou a rede de proteção da elite do poder dominante. Até quando e a que custo para a nação?
Bolsonaro permanecendo, nada acontecendo depois de tudo que já fez, qualquer conciliação, será um exemplo que pode ser repetido na história.
A ausência da Justiça de Transição na redemocratização após a ditadura militar nos levou ao estado atual, o Bolsonaro sem responder pelos seus crimes levará o país a argamassar o retrocesso.
A esquerda necessita ultrapassar o diagnóstico e ser propositiva.
Se o foco principal será no impeachment ou na cassação da chapa via STE, ou ambos.
Sair da reatividade para a proação.
Os partidos unidos pelo Fora Bolsonaro devem articular a ocupação das ruas à luz de uma estratégia comum e bem definida, que simule cenários possíveis e táticas preventivas.
Não sei o que se passa no Olimpo, mas sinto falta de mais protagonismo do Lula, a maior liderança de massas do Brasil.
Francisco Celso Calmon