O pânico é um dos transtornos classificados como de ansiedade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a ansiedade é uma das responsáveis pela metade das doenças mentais existentes no mundo e, em 2020, será a segunda maior causa de incapacitação. Sua prevalência varia entre 1,2% e 4% da população, mas tem uma incidência duas ou três vezes maior no sexo feminino e pode atingir entre 8% e 14% dos indivíduos com 30 anos de idade. O elemento central desta doença é a presença de ataques de pânico recorrentes caracterizados por episódios agudos de medo, desconforto intenso ou sensação similar e respostas viscerais acentuadas, que ocorrem na ausência de qualquer ameaça identificável.
Seus principais sintomas são dispnéia (desconforto respiratório), sensação de sufocamento, taquicardia, dor torácica, suor, vertigem, tremores, desejo de fuga da situação imediata e medo de morrer ou de ficar louco.
As causas exatas da síndrome do pânico ainda são desconhecidas, embora alguns estudiosos enfatizem que um conjunto de fatores pode contribuir para o desenvolvimento da doença como, por exemplo, a genética, temperamento forte, estresse e mudanças na forma como o cérebro reage a determinadas situações. Estudos clínicos e epidemiológicos sugerem, por outro lado, que o transtorno de pânico seja facilitado pela ansiedade de separação na infância, e por transtornos depressivos e/ou traumáticos na vida adulta e também na vida infantil.
Estudos do Laboratório de Neurobiologia dos Transtornos do Humor e da Ansiedade (LANTHA) do Programa de Pós-Graduação de Ciências Fisiológicas da UFES, chefiado pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Schenberg, buscam entender, em ratos, os mecanismos fisiológicos e neuromoleculares envolvidos no transtorno do pânico e suas comorbidades. Vimos recentemente que o estresse infantil pode facilitar os sintomas do pânico. O intuito das nossas pesquisas é compreender as bases neurobiológicas desta síndrome, que ainda permanecem obscuras, e descobrir novos alvos farmacológicos para seu tratamento. Um dos principais neurotransmissores envolvidos nessas condições psiquiátricas, é a serotonina, devido a isso, com inúmeras colaborações com pesquisadores nacionais e internacionais, nosso laboratório realiza estudos pioneiros sobre o papel da neurotransmissão serotonérgica numa região do cérebro relacionada aos sintomas dos ataques de pânico e na mediação da ansiedade, a matéria cinzenta periaquedutal dorsal.
O desconhecimento da etiologia e fisiopatologia destes transtornos deve-se, em grande parte, à utilização de modelos animais de medo, pânico ou depressão que reproduzem condições clínicas apenas parcialmente. Entretanto, nosso laboratório faz um esforço enorme há pelo menos 15 anos para o desenvolvimento de modelos translacionais de transtornos mentais que reproduzam as condições da clínica com maior fidelidade. Estes modelos utilizam doses terapêuticas e regimes similares aos empregados na clínica, priorizam respostas análogas aos sintomas clínicos e, principalmente, examinam os efeitos do estresse na infância no desenvolvimento de psicopatologias nos ratos adultos. Conforme ficou demonstrado em nossos estudos mais recentes, esta abordagem tem proporcionado bases mais seguras para a investigação dos mecanismos moleculares e genômicos destes transtornos.
Atualmente, os fármacos utilizados para o tratamento dos transtorno do pânico são da família dos “inibidores seletivos da recaptação da serotonina”, o que mostra o envolvimento deste neurotransmissor na patofisiologia desta síndrome. Em estudos recentes do LANTHA, da doutoranda e professora de Bioquímica Caroline Azevedo Rosa, foi observado que não houve participação direta da serotonina em condições psiquiátricas comórbidas ao transtorno do pânico. Nesse sentido, seu projeto de pesquisa mais recente, intitulado “Expressão de neuropeptídeos na matéria cinzenta periaquedutal dorsal de ratos adultos submetidos ao estresse neonatal”, visa descobrir outras moléculas que possam estar envolvidas na precipitação ou na inibição dos ataques de pânico ou em situações de estresse neonatal que podem desencadear o pânico na vida adulta.
Ainda é novidade no meio científico a avaliação da expressão gênica e a quantificação de neuropeptídios que possivelmente possam estar envolvidos nessas condições, para isto, a professora Caroline Azevedo Rosa está fazendo um levantamento de substâncias neuromoleculares, através de técnicas bioquímicas avançadas, na região da matéria cinzenta periaquedutal dorsal, de ratos adultos que foram submetidos ao estresse infantil. Mais especificamente, este projeto visa descobrir quais são as moléculas envolvidas nestas condições psiquiátricas, diferente das que são conhecidas hoje, a saber, a serotonina. A importância desta análise é propor novos caminhos que desvendem a patofisiologia do pânico e sugerir novos alvos farmacológicos com eficiência, eficácia e menos efeitos colaterais do que os que existem hoje no mercado farmacêutico.
Caroline Azevedo Rosa
Doutoranda e professora de Bioquímica do IFPA – Instituto Federal do Pará