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Religiões do mundo se unem no Vaticano para debater a mudança climática, preocupadas com o futuro

Representantes das religiões mundiais se uniram em defesa da natureza e combater a devastação da natureza promovida, em alguns casos, como o Brasil, pelo próprio governo

Encontro histórico reúne principais líderes religiosos do mundo em defesa da natureza | Foto: Vaticano

As principais religiões do mundo se uniram em um encontro histórico no Vaticano, nesta última segunda-feira (4), com o objetivo de alertar aos líderes políticos mundiais sobre a necessidade de mudar os rumos sobre a preservação da natureza para o futuro. Estavam presentes 22 dos 40 maiores líderes das religiões mais importantes e que representam a maioria dos fieis do planeta. As informações são da agência de notícias do Vaticano.

Precedida de uma a oração coletiva silenciosa, com cada um praticando de acordo com seus próprios credos, foi lembrado que os pobres serão os primeiros a serem prejudicados com a devastação da natureza e da mudança climática que vem sendo praticada. Em conjunto foi assinado um documento para ser enviado ao presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Conhecida como  Cop26, o encontro ocorrerá em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro. Cópias também foram entregues a dois jovens participantes do evento “Youth4Climate” em Milão, que prepararam propostas para a Cop26, além de cientistas presidentes das Pontifícias Academias das Ciências e Ciências Sociais.

“Fé e ciência: rumo à Cop26”

Foi realizada uma cerimônia intitulada onde cada líder religioso derramou um copo de terra no vaso de uma jovem oliveira plantada nos Jardins Vaticanos. Além do papa Francisco, estavam presentes desde o Grão Imame Al-Tayyeb ao Patriarca Bartolomeu, do Arcebispo Welby aos líderes judeus e budistas, presentes no evento “Fé e Ciência: rumo à Cop26”.

O encontro, apresentado pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, abriu-se com a leitura de um resumo do apelo, enquanto os líderes presentes e os representantes daqueles que não puderam comparecer (mas enviaram mensagens em vídeo transmitidas no final da manhã) assinaram o apelo. Após a última assinatura, a do Papa Francisco, Bruni convidou os participantes a um momento de oração silenciosa “levando no coração sobretudo os mais pobres e marginalizados, aqueles que primeiramente e de maneira mais forte sofrem os danos causados pelas mudanças climáticas”.

O secretário de Estado Vaticano, cardeal Pietro Parolin, saudou todos os participantes, ressaltando que, como seres humanos, “somos interpelados por vários pedidos sobre como estamos interagindo dentro de nossa Casa comum em relação à criação e ao próximo”. Não apenas pelas gerações presentes, mas também pelas futuras, representadas pelos jovens”, como as presentes na sala depois de Youth4Climate.

Patrolin sublinhou que “a ciência denunciou o perigo da trajetória do caminho que a humanidade está tomando” e que não faltam apelos “pedindo uma mudança de rumo urgente diante desses fracassos que testemunham uma perda de valores”. Nós, líderes religiosos, conclui Parolin, “arautos da consciência moral da humanidade, temos a tarefa de favorecer esta mudança de rumo e fazer reflorescer os muitos desertos que se encontram no caminho da humanidade”.

Quatro prioridades

Federica Gasbarro, da Cop dos jovens, levou a perspectiva dos jovens e suas expectativas para o futuro, que fala sobre quatro prioridades identificadas pelos dois jovens delegados para cada país membro da conferência. Em primeiro lugar, o apoio econômico aos países vulneráveis, “porque eles não podem enfrentar sozinhos as catástrofes do aquecimento global, e não podem iniciar a transição energética porque não têm energia”. Depois, há o compromisso de alcançar zero emissões de gás até 2030, a educação escolar sobre o meio ambiente e as mudanças climáticas e, por último, a necessidade de “dar aos jovens outras oportunidades, após Youth4Climate, para que possam participar ativamente do processo de tomada de decisões”.

Após a breve intervenção do Papa, convidando as pessoas a ler o seu discurso para deixar espaço para todos os testemunhos, o presidente da Cop26, parlamentar britânico de origem indiana Alok Sharma, ao receber o apelo de Francisco, enfatizou que “este é um apelo muito forte à ação para o mundo inteiro. Agradeço-lhe por sua força”. Ao seu lado, o ministro das Relações Exteriores italiano Luigi Di Maio sublinhou que “a contribuição dos líderes religiosos é crucial”, assim como “a participação dos jovens é essencial, quando falamos do nosso e do seu futuro”. Di Maio falou da importância da “diplomacia climática” para garantir a paz, pois o aquecimento global é um multiplicador de riscos, focalizando o Sahel, “a região que aquece 20 vezes mais”. Ele também ressaltou que a cúpula de chefes de Estado e de governo do G20 que a Itália presidirá em Roma nos dias 30-31 de outubro poderá dar uma contribuição importante para a Cop26.

Líder islâmico

O primeiro dos líderes religiosos a tomar a palavra, para um breve discurso, foi o Grão Imame da Universidade Al-Azhar, no Cairo, Al-Tayyeb, que assinou com o Papa o Documento de Abu Dhabi sobre a Fraternidade Humana. Ele saudou Francisco chamando-o de “irmão” e resumiu em três pontos a abordagem do Islã sobre o ambiente. A religião de Maomé também atribui uma consciência aos animais e plantas, “elementos vivos que glorificam a Deus em sua linguagem, que nós humanos não podemos compreender”. A história da Criação no Alcorão “reitera que Deus designou a Terra ao primeiro homem como seu servidor, e o advertiu contra corrompê-la”.

Por fim, “Deus encarregou os profetas para lembrar os humanos de não corromper a Terra”. Portanto, é claro, concluiu o Grão Imame, a autoridade máxima do Islã sunita, “que Deus confiou a Terra ao homem e lhe pediu que se relacionasse com animais e plantas de amigo para amigo”. Al-Tayyeb pediu aos jovens muçulmanos “para que denunciem qualquer atividade que corrompa o ambiente”, e exortou seus irmãos religiosos “a assumirem sua responsabilidade nesta crise, exercendo sua influência espiritual sobre os que tomam decisões políticas, construtores e líderes empresariais, para torná-los conscientes dos riscos da corrupção ambiental”.

Patriarca de Constantinopla

O Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu ressaltou que o gesto dos líderes religiosos que assinaram o apelo “é um gesto simbólico de grande força, porque é o resultado de um diálogo e de um apelo para continuar”. Um diálogo antes de tudo entre todas as religiões do mundo e os fiéis para preservar a criação doada por Deus, porque “as gerações futuras merecem herdar um mundo melhor e mais limpo”. Um diálogo entre fé e ciência, que tem sido fortalecido nos últimos meses, e por fim, “o diálogo entre as criaturas e nosso Criador, de modo que, como nós cristãos rezamos no Pai-Nosso, a vontade de Deus possa ser feita no céu como na terra”. Precisamos deste diálogo, concluiu o Patriarca Ecumênico, “para respirar com simplicidade e amar-nos uns aos outros com simplicidade”.

Líder judaico

Então o rabino Noam Marans, do Comitê Judaico Internacional para Consultas Inter-Religiosas, reiterou como todos os líderes estão “unidos na preocupação pela Terra que Deus nos confiou, conforme escrito na Torá, para trabalhá-la e protegê-la”. E se está escrito no Talmud que “salvar uma vida é como salvar o mundo inteiro, se conseguirmos salvar o mundo, salvaremos muitas vidas criadas à imagem de Deus”. Pedimos aos líderes políticos, conclui o rabino, “que ajam e façam o que devem para preservar nossa Casa comum”.

O Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, Primaz da Igreja Anglicana, deixou claro que “uma peregrinação em direção a uma economia limpa que reduz as emissões de carbônio e aumenta o uso de fontes renováveis” é indispensável. De acordo com Welby, uma economia verde global também deve ser apoiada através de novos taxas que penalizem aqueles que não a seguem. Uma verdadeira parceria com o hemisfério sul também é essencial, não apenas para evitar os danos causados pelo aquecimento global, mas também para dar a esses países a chance de cooperar com o Ocidente mais desenvolvido “como motores de mudança”. Por fim, o primaz anglicano enfatizou que neste último século “declaramos guerra à criação e esta guerra afeta antes de tudo os mais pobres entre nós”. O mundo tem pouco tempo para fazer o que é certo”.

Líder budista

Entre os vinte e dois, breves intervenções se destacam como a do diretor do gabinete europeu do “Soto Zen Budista”, Shoten Mineghisi, que sublinhou, como budista, que está “profundamente consciente do fato de que tudo está interligado: se fizermos ações concretas em nosso cotidiano, o mundo inteiro pode mudar”. E enfatiza a importância de “uma vida simples, que siga a tradição e dependa o máximo possível da reciclagem”.

A verdadeira riqueza da vida, conclui, “não é material, mas espiritual, para chegar a uma perspectiva de vida em harmonia com todos os seres vivos”. Depois dele, o metropolita Hilarion, representante do patriarca de Moscou Kirill, explicou que a Igreja Ortodoxa Russa “promove um senso de responsabilidade compartilhada para com a criação de Deus”. Que este apelo, é o seu desejo, “seja um novo começo para as nossas comunidades e para o mundo inteiro: é necessária uma conversão do coração. A destruição ecológica foi provocada pelo desejo de enriquecimento injusto de uns em detrimento de outros