Ativista indígena brasileira disse que os líderes globais “fecharam os olhos” para a mudança climática como uma das primeiras pessoas a discursar nesta segunda-feira, na cúpula que acontece em Glasgow, na Escócia. Ela falou antes mesmo do secretário-geral das Nações Unidos, António Guterres.
Txai Surui fez um apelo por ação climática agora e não em 2030 nem 2050. Após o discurso, ela concedeu uma entrevista à enviada especial da ONU News em Glasgow, Laura Quinones. “Estou aqui para trazer a voz dos povos indígenas, não só de meu povo, mas de todo o Brasil para a COP”. Ela ainda lembrou que os indígenas estão na linha de frente contra as mudanças climáticas.
“Eu espero muita responsabilidade e que de fato a gente consiga, agora, agir contra as evidências que já são evidentes. Tem que ser agora. O que espero é a responsabilidade deles com o nosso futuro e com o nosso presente”, assinalou. A indígena ainda disse que espera justiça social, com a proteção dos territórios de propriedade dos índios.; Ela lembrou que os indígenas da Amazônia “estão a um triz da expulsão”. Surui ainda lembrou que a Amazônia é essencial na discussão sobre a questão climática. ”Nós estamos lá lutando pela floresta
“Humanidade está cavando a sua própria cova”
Em Glasgow, secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a humanidade está cavando sua própria cova. Guterres reforça que investir numa economia resiliente e de zero emissões de carbono é a melhor maneira de reverter situação e destaca seu apoio ao “exército de jovens” que lutam pela ação climática.
A cúpula de líderes da 26ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP26, começou nesta segunda-feira em Glasgow, Escócia, com o secretário-geral dizendo de forma enfática que a humanidade está “cavando a sua própria sepultura”. António Guterres afirmou ao mundo e aos líderes globais que é hora de dizer chega, pois os últimos seis anos foram os mais quentes já registrados e o “vício por combustíveis fósseis” está empurrando a humanidade para a beira do abismo.
“Natureza não é toalete”
Chega de tratar a natureza como toalete, chega de nos matar com carbono”, afirmou o chefe das Nações Unidas em Glasgow. Ele lembrou que o aumento do nível do mar já dobrou nos últimos 30 anos, que os oceanos estão mais quentes do que nunca e que áreas da Floresta Amazônica já emitem mais carbono do que absorvem.
Guterres destacou que o último levantamento sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas mostra que as propostas dos governos poderão levar o mundo a um aumento “calamitoso” da temperatura para 2,7 °Celsius.
“Falhar é uma sentença de morte”
O secretário-geral afirmou na abertura da COP26 “que estamos no caminho para um desastre climático”. António Guterres ressaltou que “falhar é uma sentença de morte” e que “este é o momento da verdade”, ao estimular os investimentos numa economia resiliente ao clima e “net zero”, ou seja, de zero emissões de CO2.
Segundo o secretário-geral, “vários países já firmaram compromissos credíveis de acabar com as emissões até meados do século”, muitos já deixaram de financiar a indústria do carvão e mais de 700 cidades estão liderando o caminho para a neutralidade climática. Guterres mencionou também “o exército da ação climática, liderado pelos jovens, que não para, está cada vez maior e mais barulhento e que veio para ficar”. O secretário-geral das Nações Unidas reafirmou seu total apoio ao grupo.
Durante o discurso na cúpula climática em Glasgow, o chefe da ONU lembrou que os líderes mundiais sabem o que fazer e que a principal meta deve ser manter o aquecimento global a 1,5° Celsius acima dos níveis da era pré-industrial.
Isso será possível com ações para reduzir as emissões globais em 45% até 2030 e António Guterres lembrou o enorme papel do G20, uma vez que o grupo das 20 maiores economias do mundo é responsável por 80% das emissões de gases de efeito estufa. Aos países emergentes, o secretário-geral informou que precisam ir além, pois a contribuição dessas nações é essencial para uma redução eficaz das emissões. Ele sugeriu que nações desenvolvidas e emergentes formem alianças para criar condições técnicas e financeiras para acabar com o uso do carvão e “descarbonizar” a economia.
No caso de os países não firmarem compromissos suficientes na COP26, António Guterres sugere que sejam revistos, todos os anos, os planos nacionais climáticos e políticas do setor.
Financiamento
Em Glasgow, o secretário-geral também anunciou a criação de um grupo de especialistas que irá propor padrões claros sobre como medir e analisar os compromissos sobre emissões zero. Guterres pediu também que o mundo faça mais para proteger comunidades vulneráveis dos perigos da mudança climática, já que na última década, quase 4 bilhões de pessoas sofreram de desastres ligados ao clima.
Para o secretário-geral, esta COP precisa ser um momento de solidariedade, pedindo que o compromisso de repassar US$ 100 bilhões por ano para os países em desenvolvimento combaterem a mudança climática precisa se tornar uma realidade.
“Proteger nosso futuro e salvar a humanidade”
Ele agradeceu Alemanha e Canadá por honrarem o compromisso e lembrou que o financiamento climático é essencial para restaurar a confiança e a credibilidade. Guterres mencionou em especial os países menos desenvolvidos e as pequenas ilhas em desenvolvimento, por precisarem urgentemente de financiamento.
O secretário-geral das Nações Unidas terminou seu discurso de abertura na COP26 afirmando que as “sirenes estão tocando, o planeta está nos dizendo algo, as pessoas também”. Segundo António Guterres, a “ação climática está no topo da lista de preocupações” da população no geral e por isso, ele fez um apelo aos líderes mundiais para que escolham “ambição, solidariedade e escolham proteger nosso futuro e salvar a humanidade”.