O presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), José César da Costa crítica, em artigo, a manutenção das Bets no Brasil. “Enquanto as bets lucram centenas de milhões de reais, a cada minuto famílias perdem suas rendas e se endividam. Um cenário covarde e injusto. Jogo deixou de ser brincadeira e o país está apostando errado.”
ARTIGO:
José César da Costa/ presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL)
O país vive hoje uma verdadeira epidemia causada pelas plataformas de apostas online. Uma epidemia que está dentro das casas dos brasileiros, corroendo as finanças das famílias, a saúde mental das pessoas e o equilíbrio socioeconômico de todo o país.
Os consumidores brasileiros gastam cerca de R$ 6 bilhões por mês com jogos e apostas online. São mais de 40 milhões de consumidores fazendo algum tipo de aposta ou jogo no último ano. Os dados fazem parte de uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.
Diante do crescente endividamento dos funcionários do setor de Comércio e Serviços, varejistas de todo o país tem se mobilizado para chamar a atenção do poder público em relação às consequências da liberação desenfreada das apostas no Brasil.
A ânsia arrecadatória do governo não pode se sobrepor à saúde da sociedade. Vício em jogos é uma doença, onde o poder público tem responsabilidade de atuar.
É necessário e urgente que se estabeleçam regras mais rígidas em relação à publicidade das casas de apostas, à limitação do uso do cartão de crédito e de empréstimos para o pagamento das dívidas.
Na contramão do que já se estabelece em relação a outros tipos de produtos e serviços que levam ao vício, como é o caso dos cigarros e bebidas alcoólicas, o setor de jogos e apostas no Brasil tem encontrado um ambiente favorável para atuação no país. Impostos baixos e pouca limitação no que diz respeito à publicidade têm levado a centenas de pedidos de autorização de novas plataformas para atuar no Brasil. Tudo isso sem que haja políticas públicas que resguardem a pessoa que pode ser prejudicada por tal atividade.
É preciso e urgente que o governo, o Congresso e a sociedade civil avancem em um debate sério a respeito das consequências das apostas na saúde mental e financeira da população.
Assim como acontecem nas epidemias, somente um pacto coletivo e medidas rigorosas de proteção à população, é possível controlar a doença do vício em apostas. Os dados são alarmantes e mostram o poder deste tipo de vício no comportamento da sociedade. A pesquisa da CNDL mostra ainda que 30% dos entrevistados declaram que os jogos e/ou apostas esportivas têm ou tiveram alguma influência na sua vida neste período, sendo elas a queda de produtividade no trabalho (11%) e o endividamento (11%).
São consumidores que já admitem a influência das apostas em suas vidas. Mas sabemos que muitos não percebem o quanto gastam no momento das apostas, acumulando dívidas impagáveis.
Apesar do país hoje ter um cenário de melhoria no que diz respeito à renda e ao emprego formal da população, os índices de inadimplência crescem a cada mês. São mais de 67 milhões de consumidores nos cadastros de devedores.
O artigo 196 da Constituição é claro: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Precisamos buscar melhores formas de impactar o consumidor e tornar compreensível as consequências negativas dos jogos de azar. Precisamos de políticas públicas que defendam a população brasileira, sobretudo a de baixa renda, de ilusões que corroem sonhos e anos de trabalho. São plataformas que enganam prometendo renda extra, propagandas que colocam em risco os mais vulneráveis, algoritmos que encontram o alvo perfeito e um ambiente com pouca regulação.
Enquanto as bets lucram centenas de milhões de reais, a cada minuto famílias perdem suas rendas e se endividam. Um cenário covarde e injusto. Jogo deixou de ser brincadeira e o país está apostando errado.