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Abandonado há sete anos, Teatro Carlos Gomes esconde as obras de restauro em execução


As obras que não são visíveis para quem vê de fora, se arrastam lentamente e, pelo cronograma, o teatro localizado no Centro Histórico de Vitória (ES) somente abrirá as portas ao público a partir do segundo semestre do ano que vem


Abandonado há sete anos, Teatro Carlos Gomes esconde as obras de restauro em execução | Fotos: Grafitti News

Fechado desde 2017, o morador e o turista que passa pelo Centro Histórico de Vitória (ES) se revolta em ver o completo abandono do Teatro Carlos Gomes. Os sete anos de descaso, no entanto, atualmente escondem uma obra de restauração que vem ocorrendo de forma muito lenta no interior do teatro. O investimento no restauro é de R$ 20 milhões, mas o capixaba ainda vai demorar em assistir a um espetáculo.

Pelo cronograma divulgado pelo Governo do Estado em 15 de junho de 2023, a obra caminhará a passos lentos por 30 meses e somente deverá estar concluída em junho do ano que vem. Ou seja, em 2025. Como a restauração ocorre atualmente pelo interior do teatro, quem passa na Praça Costa Pereira somente enxerga o abandono e mato crescendo na fachada frontal.

Acordo entre iniciativa privada e governo

Em junho do ano passado, o Governo estadual divulgou o seguinte trecho de nota: “Com previsão de duração de 30 meses, as obras são realizadas a partir de um acordo de cooperação entre o Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), e o Instituto Modus Vivendi, por meio da iniciativa Resgatando a História, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da EDP Brasil. O valor total investido é de R$ 20 milhões – sendo R$ 10 milhões provenientes do BNDES e R$ 10 milhões da EDP.”

“Quando chegamos, em 2019, encontramos o teatro em péssimas condições, com suas estruturas degradadas, problemas no sistema elétrico, colocando em risco as equipes e o próprio público. Naquele momento demos início a um processo de restauro profundo, e não apenas mais uma manutenção pontual. Toda a complexidade desse trabalho demandou muito cuidado e, inevitavelmente, tempo para um criterioso levantamento. Em junho de 2020, contratamos o projeto arquitetônico, que ficou pronto no ano seguinte e baliza todo esse trabalho daqui para frente”, disse naquela ocasião o secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha.

Obras por etapas

A visão por fora de relaxo e de abandono se deve ao fato de que as obras de restauração estão sendo executadas de dentro para fora e por etapas. Após os r projetos e estudos técnicos, as obras para restauro e readequação do Teatro Carlos Gomes, inaugurado em janeiro de 1927 e fechado desde dezembro de 2017, estão sendo feitas por etapas.

Elas começaran com a recuperação do telhado para a proteção do monumento. Em seguida, terão início às obras civis e projetos complementares como climatização, novas instalações elétricas, instalação de equipamentos de segurança para prevenção e combate a incêndios e SPDA. Serão restaurados os elementos arquitetônicos e ornamentais, bem como as pinturas artísticas e os lustres históricos. Esse projeto seguirá o conceito do Instituto Modus Vivendi de preservar ao máximo a originalidade do monumento e a memória afetiva da sociedade em relação a ele.

O Carlos Gomes surgiu após o Teatro Melpômene (foto acima), que ficava no inicio da Rua Sete de Setembro e onde hoje é o Triplex Vermelho, sido destruído por incêndio | Foto: APES

Histórico

A história do Teatro Carlos Gomes remonta ao Teatro Melpômene, que fuinionava onde hoje é o Triplex Vermelho, e que foi inaugurado em 1896. Com capacidade para 400 pessoas, foi a maior e mais importante casa de espetáculos do Espírito Santo à época. Contudo, essa condição não o salvou de um princípio de incêndio, ocorrido durante uma sessão noturna. Esse incidente deve ter estimulado os planos do então presidente de Estado, Florentino Avidos, implementados com o projeto de alargamento e ajardinamento da Praça Costa Pereira, aberta no ano do Centenário da Independência, após a demolição do Melpômene.

Nesse contexto de mudanças, o construtor e projetista André Carloni obteve auxílio do Governo do Estado, na forma de doação do terreno e empréstimo monetário, e da Prefeitura Municipal, na forma de isenção de imposto predial, para erguer o Teatro Carlos Gomes.

Projetado em 1925, foi construído entre 1925 e 1927. Em sua construção, modernamente executada com o uso de cimento armado, Carloni aproveitou peças retiradas da demolição do Melpômene, como as colunas de ferro fundido que sustentavam os camarotes. Estabeleceu-se desse modo, sem intenção explícita, uma relação de parentesco entre os dois teatros.

Vendido ao Governo do Estado na Administração Punaro Bley, em 1934, o teatro passou a ter seu uso restrito quase exclusivamente ao cinema, sendo rara a encenação de peças teatrais. Isso mudou somente no final da década de 1960, quando o teatro recebeu obras de restauro que incluíram a adequação do palco e do proscênio, permitindo a exibição de espetáculos teatrais; a transformação dos camarotes; a inserção de um lustre no centro do teto e a repintura dos painéis do teto, executada pelo pintor Homero Massena.

Patrimônio histórico

Essa intervenção resultou na reinauguração do teatro, em 1970, momento em que passou a integrar a Fundação Cultural do Espírito Santo. Em 12 de março de 1983, o Teatro Carlos Gomes foi tombado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC) por meio da Resolução CEC nº 02/1983, e inscrito no Livro do Tombo Histórico, sob o nº 27, folhas 3v e 4.

A última intervenção de maior porte realizada no Teatro Carlos Gomes aconteceu em 2009, quando foram executados os serviços de conservação da edificação e de seus equipamentos. A partir dessa data, foram realizadas intervenções pontuais, porém sem que houvesse um plano de conservação e manutenção efetivo.

Com o tempo, o imóvel entrou em estado geral de degradação de suas estruturas. Além disso, os sistemas operacionais tornaram-se obsoletos e ineficientes, como o sistema elétrico, de climatização, de iluminação cênica, de cenotecnia, entre os demais.