Desde o último sábado (3) entrou nova lei na Alemanha, aprovada em setembro de 2020, onde proíbe a venda de produtos plásticos, como cotonetes, talheres, pratos, canudos, colheres e copos de plástico. Certas embalagens de poliestireno, usadas como recipientes para alimentos, também foram afetados pela proibição.
O texto legal aplica uma diretriz européia, adotada em 2018 após vários meses de negociações entre os estados membros, banindo uma dezena de categorias diferentes de plásticos. Segundo a Comissão Européia, os produtos em causa representam 70% dos resíduos nos oceanos e nas praias. A comercialização dos estoques pré-existentes deve permanecer autorizada após 2021, permitindo a escoamento da produção já realizada.
Outros produtos plásticos para os quais ainda não existem alternativas facilmente adaptáveis, como lenços umedecidos, cigarros com filtros de plástico ou absorventes internos, permanecem permitidos. Mas agora eles devem ser rotulados, com um aviso alertando os consumidores sobre os danos ambientais causados pelo plástico. Também serão fornecidas informações sobre como descartá-lo de maneira adequada.
Prioridade aos reciclados
O projeto alemão prevê ainda que as administrações dêem prioridade aos “produtos feitos com materiais reciclados” nos concursos para compras de insumos, a fim de estimular a economia circular. Pela terceira vez desde o início da era industrial, a produção anual global de plásticos caiu 0,3% em 2020, devido à crise sanitária.
Em todo o planeta, “com 367 milhões de toneladas de plásticos produzidos em 2020 contra 368 em 2019, esta é a terceira queda global desde o pós-guerra, depois daquela ocorrida em 1973 na época da primeira crise do petróleo, e a de 2008, durante a crise financeira do subprime “, segundo a associação europeia de produtores de plásticos. A produção global de resíduos plásticos pode aumentar 41% até 2030 e dobrar a sua quantidade presente nos oceanos para chegar a 300 milhões de toneladas, alerta a associação de proteção animal WWF.
Pesquisa da UFES
“A ingestão de plástico é hoje um dos principais problemas para a conservação das espécies de tartarugas marinhas tanto pela mortalidade direta como por todos os problemas crônicos decorrentes de sua ingestão, como contaminação por poluentes, por exemplo”, diz o biólogo Robson Santos, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que fez uma pesquisa de doutorado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), onde constatou que uma tartaruga-verde juvenil só precisa ingerir meio grama de plástico para morrer.
Elas o ingerem o plástico ao confundi-lo com alimento, e então o material obstrui o trato gastrointestinal dos animais. Isso quer dizer que a tartaruga fica impedida de comer e realizar outras funções fisiológicas, levando-a a um emagrecimento crônico e podendo prolongar o sofrimento por bastante tempo até ela morrer. A necropsia apontou a ingestão do plástico como causa da morte. Isso é comum no Brasil. A pesquisa feita na UFES avaliou 255 tartarugas-verdes encontradas mortas e encalhadas ao longo da costa brasileira de 2009 a 2013, e descobriu que em média 70% delas tinham ingerido plástico. Em alguns pontos do país, esse número chega a 100%.
Não é difícil uma tartaruga marinha ingerir plástico que foi consumido no continente. Um estudo feito pela Associação de Educação Marinha, dos Estados Unidos, e publicado em 2015 na revista Science, avaliou dados de 2010 referentes a 192 países que têm alguma costa nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, além do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro. O objetivo era avaliar como o lixo feito de plástico produzido em terra vai parar no mar. O resultado encontrado pela pesquisadora é que, naquele ano, a falta de gestão adequada do lixo fez com que oito milhões de toneladas de plástico jogado fora fossem parar na água salgada.
Outros números sobre o plástico já são conhecidos: um copo leva pelo menos 200 anos para se decompor, já uma garrafa PET precisa de mais de 400 anos para desaparecer. “O plástico começa a ser produzido em escala industrial na década de 1950, e parte deste material está até hoje no ambiente e provavelmente ainda permanecerá aí por mais algumas décadas. Apesar de o governo ter grande responsabilidade pela gestão do lixo, a poluição dos ambientes é um problema de difícil resolução, e o indivíduo é uma peça importante neste processo””, afirmou o professor Robson dos Santos, da UFAL.
Contaminação volta ao homem
Mas se engana quem pensa que só as tartarugas se alimentam do plástico que é jogado fora de maneira inadequada. Como o homem faz parte da cadeia alimentar, o plástico que contamina a água e afeta a biodiversidade marinha chega também à nossa alimentação. Em um relatório divulgado neste ano, a organização não governamental WWF (Fundo Mundial para a Natureza), afirma que a contaminação de macro, micro e nanoplásticos já atinge os solos, águas doces e oceanos. “A cada ano, seres humanos ingerem cada vez mais nanoplástico a partir de seus alimentos e da água potável, e seus efeitos totais ainda são desconhecidos”, diz o documento.
O problema, segundo o pesquisador, é que estamos indo na direção oposta das soluções. “A produção e uso de plástico continuam aumentando, e atualmente no mundo nós incineramos mais plástico do que reciclamos. O poder do indivíduo é maior na mitigação deste problema do que em outros casos, pois parte do problema deriva das nossas escolhas do dia a dia, mas nós também precisamos implementar políticas internacionais de combate à poluição por plástico”, diz Robson.