O alerta foi feito nesta semana na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, durante reunião da Comissão de Proteção ao Meio Ambiente
As mudanças climáticas que já causaram desde 2021 a perda de 20% do estoque de carbono manguezal do estuário do rio Piraquê-Açu-Mirim, localizado no município de Aracruz (ES), foi tema de debate nesta semana na Comissão de Proteção ao Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. Representantes dos Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs) do Litoral e Centro-Norte e de Pontões e Lagoas do Rio Doce denunciaram a deterioração do maior manguezal do Espírito Santo.
O presidente do CBH do Litoral e Centro-Norte, Paulo Pimentel, disse que o maior manguezal do estado corre risco de desaparecer pelo desastre ambiental causado pela chuva de granizo em 2017 e pelo assoreamento que já destruiu 513 hectares de área de mangue. Além da chuva de granizo, Pimentel também atribui a diminuição das águas dos rios, destruição de nascentes e despejos de esgotos das cidades como causas da ameaça ao ecossistema.
Os ambientalistas alertaram que as ações que vêm sendo realizadas não têm dado conta da recuperação dos rios e do manguezal. Há necessidade de mais caixas secas (depósito temporário de água), pequenas barragens para controlar o fluxo das águas e recuperação das nascentes. O manguezal tem 15,8 quilômetros quadrados de extensão, formado pelo encontro dos rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim, no distrito de Santa Cruz, em Aracruz.
Presente na reunião do colegiado, a deputada Iriny Lopes (PT) observou que é preciso tratar o esgoto nos municípios e alertou que, se o maior manguezal do estado corre riscos, todo o resto está ameaçado. Ela disse que a Cesan tem de explicar qual é o projeto para o tratamento de esgoto no estado e cobrou a presença do presidente da empresa, Munir Abud, na Comissão do Meio Ambiente.
A destruilção do manguezal foi alvo de estudo da Ufes em 2021
Segundo informação divulgada pela Ufes no final de agosto de 2021, um artigo publicado na revista Journal of Environmental Management analisou a perda de estoque de carbono causada por eventos climáticos extremos no manguezal do estuário do rio Piraquê-Açu-Mirim, localizado no município capixaba de Aracruz. A região teve 30% de sua área impactada por uma forte seca ocorrida entre 2014 e 2017, motivada pelo aquecimento global. Com isso, perdeu cerca de 20% do carbono sequestrado nos solos em um período de dois anos. Esse estuário possui 1.851 toneladas de carbono por hectare, o maior índice do Brasil.
O estudo, que foi parte do doutorado de Luiz Eduardo Gomes no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da Ufes, também estimou o potencial de estoque de carbono nos manguezais brasileiros, que correspondem a 5% do total global guardado nesse ecossistema.
Os mangues têm despertado grande interesse por sua ampla capacidade de estocar carbono: no Brasil, conseguem guardar 520 milhões de toneladas. Quando se comparam áreas de tamanho equivalente, os manguezais brasileiros têm o dobro da capacidade de estoque da floresta Amazônia e dez vezes mais que a caatinga e o cerrado. Com isso, o estoque de carbono do Brasil é duas vezes maior do que o estimado anteriormente e o país tem 5% do total armazenado no planeta Terra.
Além de Luiz Gomes e seu orientador, o professor Angelo Bernardino, o artigo conta também com a participação de coautores da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Universidade de São Paulo (USP), da School of Environment, Science and Engineering (na Austrália), da Oregon State University (nos Estados Unidos) e da Ufes. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela National Geographic (NGS).
Consequências climáticas
Para fazer o estudo, os pesquisadores analisaram a área do manguezal de Piraquê-Açu-Mirim, comparando um trecho impactado pela seca com outro preservado. “Para isso, adentramos em diversas áreas dos manguezais impactados e não impactados. Entramos 20 metros à frente no mangue e contabilizamos, a cada 20 metros, o total de plântulas, identificamos e medimos a altura e diâmetro de cada árvore viva e morta, além de contabilizar e medir todos os galhos caídos e coletar amostras de solo até os 3 metros de profundidade, em cinco locais, ou seja, até 100 metros adentro”, detalha Gomes.
No mangue, o maior potencial de produção de carbono está no solo. Por isso, foi coletado o solo até 3 metros de profundidade, para que se pudesse avaliar esse estoque.