“A decisão de permitir ou restringir determinados tipos de discursos nas plataformas sociais, como no caso de figuras como Mark Zuckerberg, levanta questões complexas que envolvem a liberdade de expressão, a segurança, os direitos humanos e a responsabilidade social das empresas”, diz Toni Reis, dirigente da Aliança Nacional LGBTQI+
O recente anúncio da Meta, a big tech que controla as redes sociais Facebook Instagram e WhatsApp de que eliminou o sistema de checagem das publicações de seus usuários e que permitirá a ampla difusão de fake news, incluindo ataques à comunidade LGBTQI+, em nome de um suposto “fim à censura”, trouxe repúdio no Brasil. O presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, a distribuir nota onde diz que “mídias sociais no Brasil não é terra sem lei.”
“A decisão de permitir ou restringir determinados tipos de discursos nas plataformas sociais, como no caso de figuras como Mark Zuckerberg, levanta questões complexas que envolvem a liberdade de expressão, a segurança, os direitos humanos e a responsabilidade social das empresas. Nesse contexto, a defesa dos direitos humanos — especialmente dos direitos da comunidade LGBTI+ — e o fortalecimento da ciência tornam-se pilares essenciais para a construção de uma sociedade justa e igualitária”, inicia Reis.
O dirigente da Aliança Nacional LGBTQI+ ainda diz que a resistência a discursos de ódio e à desinformação, por meio de estratégias políticas e ativismo jurídico, revela-se fundamental para garantir proteção, dignidade e respeito às minorias. Nesse sentido, algumas iniciativas estratégicas que podem ser adotadas incluem:
- Advocacy:
- Colaborar com organizações que atuam na defesa dos direitos humanos e civis para questionar judicialmente políticas e normas consideradas discriminatórias ou prejudiciais, que não se alinham com os princípios do Estado Democrático de Direito e são incompatíveis com uma sociedade plural e igualitária. Esse tipo de atuação visa garantir que legislações, normas e regulamentos respeitem princípios fundamentais de igualdade e dignidade.
- Campanhas de Conscientização:
- Promover ações que sensibilizem a sociedade sobre a importância da dignidade humana e o impacto negativo causado por discursos de ódio e discriminação. Essas campanhas podem ser realizadas por meio de mídias sociais, eventos públicos e parcerias com instituições de ensino.
- Engajamento Político e Jurídico:
- Estimular a participação ativa de cidadãos e entidades em processos legislativos e judiciais que busquem garantir os direitos civis, a diversidade e a inclusão. Isso inclui a proposição de projetos de lei, participação em audiências públicas e atuar em redes de apoio que visem a proteção das minorias. No âmbito do ativismo jurídico, é importante ressaltar que já existem discussões judiciais relevantes em curso. No Recurso Extraordinário (RE) 1037396 (Tema 987 da repercussão geral), discute-se a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que exige ordem judicial prévia para a exclusão de conteúdo e a consequente responsabilização civil de provedores por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros. O RE 1057258 (Tema 533), por sua vez, trata da obrigatoriedade de retirada de conteúdo ofensivo por parte das plataformas sem necessidade de decisão judicial. Esses casos demonstram que, embora as decisões de moderação tomadas pelas redes sociais impactem diretamente o ambiente virtual, no Brasil a questão é mais complexa e caminha para uma revisão dos limites da responsabilização das plataformas.
- Uso de Tecnologia:
- Investir em pesquisas e desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial para moderação de conteúdos digitais. Essas ferramentas podem ser eficazes na detecção e mitigação de discursos de ódio, além de contribuir para a criação de ambientes digitais mais seguros.
- Implementação de Programas como o “Plataformas com Respeito”:
- Reforçar a execução urgente de programas que promovam o respeito e a inclusão nas plataformas digitais. Projetos como este desempenham um papel fundamental na construção de espaços online onde a dignidade de todos os usuários seja preservada.
- Esses esforços combinados podem gerar mudanças significativas, promovendo um ambiente mais seguro, inclusivo e propício ao respeito nas interações sociais, tanto no espaço digital quanto no físico. A resistência a discursos de ódio não é apenas uma questão de sobrevivência para grupos minoritários, mas também uma oportunidade de crescimento coletivo e fortalecimento social.
- “Não temos tempo para ter estresse de minoria.Desafios são importantes para crescermos. Se ferir nossa existência, seremos resistência.”
O que diz a Meta
“É hora de voltar às nossas raízes em torno da liberdade de expressão. Estamos a substituir os verificadores de fatos por notas comunitárias, a simplificar as nossas políticas e a concentrar-nos na redução dos erros. Aguardamos com expectativa o próximo capítulo”, diz o diretor executivo da Meta, Mark Zuckerberg em sua conta no Instagram.
O alinhamento ideológico de Zuckerberg e de suas empresas Facebook, Instagram e WhatsApp veio logo após encontro pessoal que teve com o presidente eleito americano Donald Trump, na casa deste último em Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida. Em lugar de manter o programa de checagem de fatos, vai adotar notas da comunidade de autoria dos próprios usuários, semelhantes às existentes na plataforma X, de propriedade do bilionário Elon Musk.
Alinhado ao direitista Trump, Zuckerberg ainda reclamou, como se tivesse o direito de opinar sobre as políticas nacionais das nações, de que “países da América Latina têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa”. O dirigente da big tech não citou nomes mas sugeriu de que estava se referindo ao Brasil, onde o Supremo Tribunal Federal (STF) tem se mostrado guardião das leis brasileiras e exige que empresas estrangeiras, como a Meta, respeitem a legislação nacional.