A “profecia” foi feita com exclusividade ao Grafitti News em novembro de 2022 por uma das maiores autoridades mundiais em mudanças climáticas, o professor William Laurance da australiana Universidade James Cook (JCU). Agora, confirmada pelo pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Ricardo Camargo

O desaparecimento de joaninhas e borboletas passou a ser uma preocupação crescente entre cientistas, após pesquisas indicarem um declínio nas populações desses insetos. “A expansão das áreas agrícolas, a redução de florestas e a intensificação da ocupação humana estão entre os principais fatores”, afirma o pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Ricardo Camargo
O desaparecimento dos insetos não é novidade. Em novembro de 2022, este portal de notícias Grafitti News entrevistou com exclusividade, por telefone, o professor William Laurance da australiana Universidade James Cook (JCU), que se encontrava no interior da Austrália. Já naquela ocasião, Cook, que assessora a ONU, produziu como co-autor um estudo científico sobre esse tema, que ganhou o nome de “Apocalipse dos Insetos.”
“Um conjunto crescente de evidências mostra que muitas populações de insetos estão diminuindo rapidamente em muitos lugares. Estes declínios são de profunda preocupação, com termos como ‘apocalipse de insetos’ emergente sendo cada vez mais usados pela mídia e até mesmo por alguns cientistas para descrever este fenômeno”, diz trecho da publicação na revista Nature.
A eliminação dos insetos no Brasil
Neste mês, a agência de notícias do Gov, do Governo Federal, trouxe um artigo do pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Ricardo Camargo, que aborda esse mesmo tema e diz que os insetos, como as borboletas, estão desaparecndo no Brasll.
“Mesmo com menos estudos sobre insetos em comparação a outros animais — sim, insetos também são animais —, já é possível afirmar que sua presença no meio ambiente mudou drasticamente nas últimas décadas. As causas são bem conhecidas: ações humanas, mudanças climáticas e, sobretudo, transformações no uso da terra”, afirma o pesquisador brasileiro.
E diz o que está motivando essa eliminação dos insetos: “A expansão das áreas agrícolas, a redução de florestas e a intensificação da ocupação humana estão entre os principais fatores. Destaca-se nesse cenário a mudança de paradigma agrícola iniciada com a chamada “Revolução Verde”, baseada no uso intensivo de agrotóxicos e no cultivo em larga escala de poucas espécies, os chamados monocultivos.”
Carmargo ainda diz que, além de afetarem diretamente a saúde humana, os resíduos de agrotóxicos também geram danos profundos ao meio ambiente. A ciência já reconhece que a agricultura intensiva afeta negativamente os insetos, em especial os polinizadores, que são vitais para o equilíbrio dos ecossistemas. O uso de fertilizantes e pesticidas cresceu significativamente, tornando-se parte do pacote tecnológico da agricultura moderna.
“Em três séculos, entre 1700 e 2007, as terras aráveis e pastagens aumentaram cinco vezes, ocupando o espaço de florestas, pântanos e savanas. Como consequência, espécies que dependem de ambientes intocados, como muitos insetos, foram drasticamente reduzidas ou extintas”, completa o cietista da Embrapa.
Biodiversidade
A biodiversidade é um indicador-chave da saúde dos ecossistemas. Quando monitorada fornece dados que podem nos alertar sobre o quanto nossas ações estão comprometendo o equilíbrio ambiental e a vida no planeta. Nesse contexto, assim como as abelhas, as borboletas têm se mostrado excelentes bioindicadoras — ou seja, organismos sensíveis a mudanças ambientais, mesmo as mais sutis. Diversos estudos apontam sua importância nesse monitoramento e seu papel fundamental no diagnóstico dos impactos ambientais e climáticos.
Ele destaca que as borboletas se dividem, em geral, em dois grupos: as nectarívoras, que se alimentam do néctar das flores, e as frugívoras, que consomem frutas fermentadas, fezes, matéria orgânica e seiva. As frugívoras, em especial, se destacam como indicadoras biológicas por seu papel específico no ecossistema.
Estudos recentes reforçam a correlação direta entre a redução de populações de borboletas e fatores como mudanças climáticas, perda de habitat e uso de agrotóxicos. Com o aumento das temperaturas médias e a alteração dos padrões climáticos, os habitats e rotas migratórias desses insetos estão sendo profundamente afetados.
Desaparecimento dos insetos traz alerta
“O desaparecimento de qualquer espécie é sempre um alerta. Quando esse desaparecimento atinge grupos como os polinizadores, que prestam serviços essenciais ao funcionamento do planeta, o alerta se torna ainda mais grave. Infelizmente, esse tema ainda é pouco debatido e compreendido pela sociedade”, observa Camargo.
E conclui: “Infelizmente, continuamos a viver como se nossos hábitos não tivessem impacto sobre a natureza, ignorando os sinais que os ecossistemas nos dão. Em nossa confiança cega no avanço tecnológico, temos a falsa impressão que todos os impactos que temos causado no planeta, serão resolvidos com alguma tecnologia inovadora e assim, não percebemos que o que realmente possa mudar essa trajetória não seja apenas inovação, mas sim empatia, respeito e responsabilidade com os outros seres que compartilham esta casa comum conosco — o planeta Terra.”