A planta, pioneira no Espírito Santo e no Grupo mundial, terá capacidade inicial para dessalinizar 500 m³/hora de água, proporcionando maior segurança hídrica para a empresa e para o Estado e com isso elevando a oferta da Cesan para a população

É inaugurada oficialmente às 9 horas desta terça-feira (14) e com a presença do governador Renato Casagrande (PSB) a maior planta de dessalinização de água do mar do Brasil entrará em operação na ArcelorMittal Tubarão. O sistema de ponta é resultado de investimentos de R$ 50 milhões, tem capacidade inicial para dessalinizar 500 metros cúbicos por hora de água e garantirá maior segurança hídrica para a empresa e para o Espírito Santo. A técnica de dessalinização, adotada em países do Oriente Média, como Israel, é vista como uma solução cara para suprir a escassez hídrica.
De acordo com o presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO ArcelorMittal Aços Planos América do Sul, Benjamin Baptista Filho, mesmo com os desafios impostos pela pandemia, as obras foram realizadas dentro do cronograma previsto. “Sua construção demandou a criação de 220 novos postos de trabalho. Um grande volume de profissionais que, juntamente às nossas equipes, executou todo o processo dentro dos mais rígidos controles de segurança para garantir a saúde e a integridade de todos”, explicou.
Empresa disponibiliza mais água para a sociedade
Segundo o executivo, a produção da planta está alinhada à estratégia da empresa frente a futuros cenários de escassez hídrica. A água tratada será destinada para fins industriais, substituindo parte do volume consumido do Rio Santa Maria da Vitória e permitindo, assim, maior disponibilidade do recurso para a sociedade. Assim,
Benjamin explica que o sistema utilizará tecnologia de osmose reversa, bastante comum em países como Israel, Espanha, Estados Unidos e outros, para captação de água do mar. “Nossas equipes fizeram estudos durante cerca de dois anos, incluindo avaliação de várias alternativas tecnológicas para dessalinização, análises de qualidade da água do mar, discussões técnicas com fornecedores de todo o mundo, testes em laboratório e até visitas técnicas em plantas na Argentina e nos Estados Unidos. Tudo para definir pelo projeto mais ajustado à nossa realidade e expectativas”, afirma. Pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da ArcelorMittal do Brasil e da Espanha (Astúrias) participaram do estudo.
Construída em área de cerca de 6 mil m², a planta consumirá cerca de 3MW de energia elétrica e representa menos de 1% do total de energia gerada pela própria ArcelorMittal Tubarão, que é autossuficiente. Um dos diferenciais do projeto está na sua configuração por módulos. O primeiro terá capacidade para dessalinizar 500 m³/hora de água do mar (suficiente para abastecer cerca de 80 mil pessoas/dia), com possibilidade de serem acrescentados módulos futuramente. ,Todo seu processo não gerará impactos ambientais significativos. A solução de sal em água resultante da dessalinização, a salmoura, será devolvida ao mar por um canal de retorno já existente na usina.
Por conta de sua tecnologia inovadora e acessível, o projeto também deverá contribuir para o desenvolvimento futuro de mão de obra especializada no país. Em 2019, foi premiado como o “Projeto Inovador”, durante o Congresso IDA – International Desalination Association, principal evento mundial de dessalinização e tratamento avançado do mundo, realizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Gestão hídrica
A ArcelorMittal Tubarão tem o menor índice de consumo industrial de água doce do Brasil. 96% da água utilizada pela empresa hoje, vem do mar e é utilizada para a refrigeração dos equipamentos de produção de aço. Os outros 4% são provenientes do Rio Santa Maria da Vitória e a empresa executa projetos para reduzir, cada vez mais, esse consumo. Atualmente, o índice de recirculação de água doce da empresa é de mais de 97%.
Além disso, desenvolve várias outras ações em sua gestão hídrica. Neste mês de setembro, assinou Termo de Compromisso para utilização de água de reúso de Estação de Tratamento de Efluente da Cesan. O acordo pioneiro prevê a compra mensal para fins industriais, pela produtora de aço, de 540 m3/h (150 l/s) de água de reúso de esgoto sanitário, proveniente de efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Reúso da Cesan. A aquisição será feita por contrato de 25 anos, podendo ser renovado, e reduzirá ainda mais a demanda da usina por água do Rio Santa Maria da Vitória, disponibilizando maior volume do recurso para a sociedade.
A empresa também tem atuado no projeto de recuperação de nascentes da Bacia do Rio Santa Maria da Vitória, junto a vários parceiros. Todas essas ações fazem parte do Plano Diretor de Águas da empresa. que contempla várias iniciativas voltadas ao fortalecimento da segurança hídrica.
Problema ambiental: Joga salmoura no mar
Ao inaugurar a terceira usina de dessalinização no norte da cidade de Hadera, em Israel e que é considerada como sendo a maior usina de dessalinização por osmose reversa do mundo houve protestos de ambientalistas naquele país do Oriente Média. A usina que captura água do Mar Mediterrâneo e a torna potável, produz 127 milhões de metros cúbicos de água por ano – o suficiente para abastecer um sexto da população israelense ao custo de cinquenta centavos de reais por litro.
Os ambientalistas de Israel não vêm a dessalinização como solução de longo prazo para resolver a falta de água em Israel e no Oriente Médio. Um dos grupos protestantes são os Friends of the Earth Middle East (FOEME), cujo diretor israelense Gidon Bromberg aponta que a dependência intensa dessas usinas de alta intensidade energética, e altamente poluente, não é uma solução viável a longo prazo. Bromberg e outras pessoas dedicadas à proteção dos recursos hídricos locais sugerem que os países carentes de água, como Israel, Jordânia e outros na região devem identificar os meios mais eficazes de reduzir o consumo de água.
Outro país que vem sendo contestado pela geração de água potável proveniente do mar é a Arábia Saudita, que não é apenas a maior exportadora mundial de petróleo, mas também a maior produtora de um efluente tóxico resultante da geração de água dessalinizada. Cientistas da Organização das Nações Unidas (ONU) alertaram que a dessalinização na Arábia Saudita e outros países está criando volumes gigantescos de salmoura repleta de produtos químicos que podem contaminar cadeias alimentares se não forem tratados. O problema é mais grave no Oriente Médio e Norte da África, que respondem por dois terços da água contaminada por usinas de dessalinização, que também fazem uso intensivo de energia.