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Argentina acusa Bolsonaro de dar apoio logístico à aviões militares britânicos, para ida e volta às Malvinas

Bolsonaro está dando apoio logísticos aos aviões britânicos, que vão nas Ilhas Malvinas, reivindicada pela Argentina | Foto: RAF

O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) está sendo acusado formalmente pelo governo argentino de estar dando apoio logístico aos aviões militares da Inglaterra, que está fazendo demonstração de força sobre as Ilhas Malvinas, que são reivindicadas pela Argentina. A atitude do governo de extrema direita brasileiro contrasta com a posição favorável ao direito argentino de reivindicar a posse da ilha, que foi adotado pela ditadura militar.

Durante a ditadura militar, no governo do general-presidente João Figueiredo (1979-1985) o Brasil tomou uma atitude de solidariedade à vizinha Argentina, que estava em plena Guerra das Malvinas contra os britânicos. No dia 3 de junho de 1982 os radares brasileiros verificaram a entrada no espaço aéreo.de um avião militar Vulcan e, imediatamente, caças F-5  da FAB interceptaram e direcionaram a aeronave britânica até o Rio de Janeiro, onde ficou retido. Na época, a então primeira-ministra da Inglaterra Margareth Tatcher ficou revoltada e pediu aos Estados Unidos que retaliasse o Brasil, o que não ocorreu.[]

Embaixada Argentina apresenta protesto formal

O embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, apresentou um ofício ao governo Bolsonaro, onde expressa preocupação e surpresa com o apoio que vem sendo dado pelo Brasil aos aviões da Força Aérea do Reino Unido no país. Já foram sete voos entre território brasileiro e as Ilhas Malvinas, durante uma nova demonstração de força militar dos ingleses no Atlântico Sul. Uma presença “ilegítima presença militar do Reino Unido no Atlântico Sul” e que vai contra a busca de uma solução pacífica”. Neste último fim de semana, a Chancelaria argentina fez uma reclamação diante de uma ampliação militar no território reivindicado pela Argentina.

“O governo argentino vê com surpresa e preocupação que durante o transcurso do mês de janeiro de 2022 foram realizados sete voos militares destas características”, inicia o documento entregue ao Palácio do Itamaraty. De acordo com a Embaixada os voos militares ingleses, que vem recebendo apoio logístico do governo Bolsonaro, estão fazendo a interligação do Brasil às Ilhas Malvinas e das Ilhas Malvinas para o Brasil.

Vários pousos e decolagens em janeiro

O documento detalha que aviões militares britânicos pousaram e decolaram vindos das Malvinas no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Recife nos dias 9, 14, 15, 22, 24, 26 e 28 de Janeiro. Já no dia 21 de Janeiro, foi registrada uma viagem de um Boeing C-17 Globemaster III, que fez pouso e decolagem, após ser reabastecido, no Aeroporto de Porto Alegre e saiu em direção às Malvinas no dia seguinte. Esse tipo de aeronave é utilizado, normalmente, para o transporte militar pesado, continua o documento.

“Estes voos constituem uma manifestação adicional à ilegítima presença militar do Reino Unido no Atlântico Sul, a qual foi qualificada pelos estados Partes e Associados do Mercosul como contrária à política da região de apego à busca de uma solução pacífica para a disputa de soberania”, prossegue o documento. A Embaixada da Argentina lembra que em 2017, durante o governo de Michel Temer, a capital gaúcha tinha se tornado “uma espécie de fornecedor sul-americano dos aviões da Royal Air Force que iam ou retornavam da Grã-Bretanha para as Malvinas”.

Submissão aos ingleses

Esse tipo de submissão do governo brasileiro aos interesses colonialistas britânicos no Atlântico Sul é duramente criticado pelo país vizinho. De acordo com o ofício entregue formalmente ao governo Bolsonaro, a Argentina diz: “Destaca-se a finalidade política perseguida pelas alegadas ‘escalas’ das aeronaves militares britânicas em países da região, uma vez que sua continuidade no tempo poderia ser divulgada como uma espécie de aceitação brasileira à presença de uma base militar no Atlântico Sul”.

“A Argentina apreciará que o governo brasileiro procure restringir a outorga de licenças para aeronaves militares britânicos procedentes ou com destino às Ilhas Malvinas, unicamente em casos estritamente humanitários”, expressa a nota do embaixador argentino. A embaixada finalizou o documento de forma protocolar através de um agradecimento, onde alega que o Governo do Brasil sempre exerceu seu “tradicional e constante apoio aos legítimos direitos argentinos sobre as Ilhas Malvinas, Georgias do Sul, Sandwich do Sul e os espaços marítimos circundantes”.

Os ingleses vêm demonstrando poderio militar nos últimos dias sobre as Ilhas Malvinas, o que, segundo a Argentina, é uma contravenção de duas resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas, que determina os países a reconhecer a região onde fica as Malvinas como uma zona de paz e cooperação. A mesma Resolução pede à Argentina e ao Reino Unido que não tomem decisões unilaterais e que a disputa pela soberania das Malvinas passe por um processo de negociação.