Leila Tardivo fala sobre o projeto Arte, Cultura e Saúde Mental – parceria entre o Instituto de Psicologia da USP e o Centro de Integração Cidadania Oeste (SP) – e de como pode ajudar na melhora do bem-estar e da qualidade de vida
Um novo projeto do Centro de Integração e Cidadania (CIC) Oeste, vinculado à Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania, em parceria com o Instituto de Psicologia (IP) da USP, busca trazer ações preventivas de saúde mental para jovens de escolas públicas por meio da arte e da cultura. A professora Leila Salomão Tardivo, coordenadora do Laboratório de Saúde Mental e Psicologia Clínica Social do Instituto de Psicologia, explica melhor o contexto e os objetivos do projeto.
Quadro alarmante
Segundo dados da Unicef, no Brasil, a taxa de suicídio é maior na faixa etária dos 15 aos 24 anos. Dados da Fiocruz também apontam que, no País, o número de jovens que tiram a própria vida cresceu 6% ao ano entre 2011 e 2022, tendo a depressão, ansiedade e o pânico como principais causas. O quadro de autolesão também cresceu entre a juventude, em uma taxa de 29% durante o período observado.
Papel da cultura e da arte
O projeto Arte, Cultura e Saúde Mental nas Escolas é preventivo, não de tratamento. Isso significa que o objetivo é utilizar da cultura e da arte como forma de fortalecer o espírito, a autoexpressão e o bem-estar dos jovens de escolas públicas, mas alguns casos exigem acompanhamento psicológico ativo.
“Teatro, música e manifestações artísticas favorecem profundamente a expressão, o encontro consigo mesmo, a melhora do bem-estar e da qualidade de vida. Se a gente puder trabalhar nessa dimensão, a gente evita na outra ponta os tratamentos, que são também necessários. A gente pode dar conta de situações antes de algo se agravar”, explica Leila.
O ódio entre a juventude
A pesquisadora conta que o projeto busca também capacitar professores, diretores e coordenadores para que usem as ferramentas expressivas culturais e artísticas no dia a dia das escolas, para que a prevenção de problemas de saúde mental ocorra de maneira contínua. Outro objetivo do projeto é permitir que a juventude dessas escolas públicas possa também manifestar os seus problemas e suas necessidades e para que os pesquisadores entendam as causas da deterioração do bem-estar mental desses adolescentes. Para exemplificar, a professora Leila conta de um encontro que fez com estudantes de escolas públicas no CIC Oeste:
“Chegamos lá e havia 50 adolescentes e os quatro professores do CIC. Foi uma conversa bárbara! Eles faziam perguntas, a gente respondia.” A pesquisadora então pediu: “Desenhe para mim o adolescente em São Paulo hoje. O primeiro menininho que chegou para mim deveria ter uns 14 ou 15 anos. Ele me mostra uma figura e uma palavra enorme do lado: ódio. A cidade odeia a ele, a cidade não dá condições para ele, então ele odeia a cidade de volta. Falta saúde mental para adolescente em São Paulo. Nesse sentido, a arte, a cultura, o teatro não são como terapia no sentido restrito, mas são uma abertura para que esses meninos possam se sentir ouvidos e acolhidos”, conclui a professora Leila Tardivo.
Texto: Jornal da USP, Diego Facundini, sob supervisão de Moisés Dorado