fbpx
Início > Atriz bolsonarista e radical de direita é excluída de Travessia, a nova novela da Globo

Atriz bolsonarista e radical de direita é excluída de Travessia, a nova novela da Globo


“Bolsonaro é meu presidente”, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, disse a atriz à imprensa portuguesa, em 2018, logo após a vitória do atual presidente de extrema-direita


Rede Globo excluiu do elenco de Travessia a atriz bolsonarista e radical de direita Maria Ferreira. Ela iria integrar o elenco da nova novela, escrita por Glória Perez | Foto: Divulgação/Série Despejados/Net Now.

A atriz bolsonarista e de extrema-direita Maria João Ferreira Saldanha, uma portuguesa de 65 anos que adotou o nome artístico de Maria Ferreira, foi retirada do elenco da nova novela da Rede Globo, a Travessia. O folhetim, que tem estreia nacional no próximo dia 10 de outubro, tem como autoria Glória Perez, que volta a produzir novelas desde 2017. O último conto novelesco da autora foi A Força do Querer, em 2017. Perez, que teve a filha Daniela Perez assinada em 28 de dezembro de 1992 pelo ex-ator e atual pastor evangélico bolsonarista Guilherme de Pádua, teve autonomia para indicar a direção e o elenco de Travessia, que substituirá a atual Pantanal.

Nesta última quarta-feira (15), a extremista de direita Maria Vieira acusou a Rede Globo de ter vetado a sua participação em Travessia por ser militante de direita e bolsonarista. Ela disse que foi informada pelo diretor Mauro Mendonça Filho de que não estaria mais no elenco da próxima novela das nove por ter sido uma decisão de superiores. O lado fascista da atriz começou a se tornar público em meados da década de 2010, quando passou a expor as suas ideias de extrema-direita através do Facebook, ainda em Portugual

Atriz é o oposto do pai

Maria Ferreira, apesar de ser cidadã portuguesa é filha do jornalista gaúcho brasileiro João Saldanha e de Maria Helena Ferreira Saldanha. João Saldanha, que trabalhou em como cronista esportivo em O Globo é muito conhecido dos brasileiros por ter sido o vitorioso técnico que levou a Seleção Brasileira ao Tricampeonato no México em 17 de março de 1970. Naquela época o Brasil era governado pela sangrenta ditadura militar e Saldanha foi demitido a mando dos militares pouco antes daquela Copa por suas posições de esquerda e contra a ditadura. Ele foi substituído por Mário Zagallo.

João Saldanha foi filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) no Rio de Janeiro e engajou-se em muitas campanhas do partido, tornando-se um dos mais ferrenhos opositores da ditadura militar brasileira e figura de destaque no “Partidão”. Tornou-se secretário-geral da União da Juventude Comunista, chegando a ser mantido preso e fichado no DOPS em 1947. Saldanha acumulou passagens marcantes pelas rádios Nacional, Globo, Tupi e Jornal do Brasil, TVs Rio, Manchete e Globo (onde apresentou seus comentários esportivos no programa Dois Minutos com João Saldanha) e assinou colunas nos jornais Última Hora, O Globo, Jornal do Brasil e revista Placar.

A faceta fascista da filha

Em 2020, Maria Ferreira foi forte aliada de André Ventura, candidato do Chega, um partido radical da direita portuguesa nas eleições presidenciais de 2021 e em 2021 foi eleita por esse mesmo partido fascista ao cargo de deputada da Assembleia Municipal de Cascais (em Portugal, o vereador é chamado de deputado municipal). Trabalhou no Brasil interpretando a personagem Aurora na telenovela Negócio da China, escrita por Miguel Falabella. O seu último trabalho na televisão brasileira foi a personagem Brites, na telenovela Aquele Beijo, do mesmo autor.

Curiosamente, a atual atriz bolsonarista excluída do elenco da nova novela Travessia, chegou a se filiar ao Partido Comunista Português (PCP) no dia 25 de Abril de 1974 e se desfilou em 1981. Segundo a imprensa portuguesa, ela alega atualmente que em 1981 “ainda tinha ideias de esquerda, mas através dos livros que li, de amigos com ideias diferentes, e das viagens que fiz, percebi que estava errada, que o socialismo e o comunismo se baseiam em sistemas totalitários, ditaduras de esquerda”, e que atualmente acredita “na meritocracia, no talento, no pluralismo ideológico e na economia de mercado – não no capitalismo selvagem, que explora os trabalhadores.”

Transfóbica

Em dezembro de 2021, já como deputada municipal de Cascais, fez, na Assembleia Municipal cascalense, afirmações que foram consideradas transfóbicas pela imprensa local. Depois de se ter registado no Twitter, que as mulheres trans são “pederastas que se julgam mulheres” e os homens trans de “lésbicas que se julgam homens”, escreveu mais atraques naquela mesma rede social.

Foi quando disse que as pessoas trans “tinham graves problemas mentais”.Também em maio de 2022, apelidou a apresentadora da TV portuguesa Filomena Cautela de “camionista sustentada pelos nossos impostos”. Ainda desferiu ataques ao falecido humorista português Raul Solnado de “estar a dar voltas na campa” por causa da sua neta, Joana Solnado, ter ligação com a coumunidade LGBT. Em seguida o Twitter suspendeu a sua conta naquela plataforma.

Em abril desse ano, por ocasião das celebrações da Revolução dos Cravos, classificou as celebrações como “alarvidade” (expressão portuguesa que significa anormalidade) regurgitada pela “mulher loura”, referindo-se à diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a propósito da autorização para a celebração da efeméride durante a pandemia de Covid-19, referindo-se aos participantes como “políticos abrileiros”, “gente anafada com mais de 60 anos”, que não corre “o risco de se constipar com o virus chinês”, afirmando ainda, na mesma ocasião, a inexistência do aquecimento global.

“Bolsonaro é o meu presidente”

No dia 29 de outubro de 2018, logo após a vitória do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), a atriz Maria Ferreira deu uma entrevista ao portal de notícias N-TV Tem Vida, onde enalteceu o novo presidente brasileiro. A íntegra da entrevista pode ser lida clicando neste link.  “Estou muito feliz. Estou muito emocionada. O meu presidente – Jair Bolsonaro – é o presidente do Brasil!”, afirmou a atriz portuguesa, que havia regressado a Portugal vindo do Brasil, onde esteve a gravar a série “Despejados”, que foi exibida na plataforma Net Now.

Para a artista, a vitória de Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, foi a “vitória da democracia no Brasil”. “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, afirmou. Ela ainda disse que deu um “grito de felicidade” e num texto em exaltou a sua “declaração de amor pela vitória” do candidato de extrema-direita. Para que tal aconteça, afirmou naquela ocasião, disse que só tinha de “deixar toda a minha alegria, todo o meu entusiasmo e toda a minha fé se diluírem”.

Chamada de Travessia, a nova novela da Globo, que entrará no ar no próximo dia 10 de outubro no lugar de Pantanal | Vídeo: Divulgação/Rede Globo/YouTube

Travessia, a nova novela do horário nobre

Segundo a Rede Globo, a nova novela do horário nobre, que substituirá a atual Pantanal, escrita por Glória Perez e com direção artística de Mauro Mendonça Filho, vai contar a história de Brisa. A personagem de Lucy Alves verá sua vida virar de cabeça para baixo ao ser vítima de uma deepfake. A protagonista é uma jovem que cresceu órfã e tirou desta ausência forças para se tornar uma mulher determinada e batalhadora.

Ela pulsa a cultura de seu estado: dança em rodas de Tambor de Crioula e se apresenta em grupos de Bumba Meu Boi, quando não está jogando nas sete para garantir o próprio sustento. Ainda há o personagem Ari, filho de dona Núbia (Drica Moraes), uma comerciante local que destinou todas as economias para dar ao menino condições de galgar um futuro melhor. Ari estudou, se formou em arquitetura e, incentivado por Dante (Marcos Caruso), seu professor desde menino e mentor, se dedica à defesa do patrimônio histórico maranhense, resume a Globo.

Na infância, Ari e Brisa eram sinônimo de implicância mútua. Mas, aos poucos, o coração falou mais alto e eles engataram um romance despretensioso, no início. As coisas aceleram quando eles descobrem que estão esperando um bebê. Quando começa a história de Travessia, Ari e Brisa – e o filho Tonho (Vicente Alvite) – já moram juntos há alguns anos e estão prestes a oficializar o casamento. Brisa topa qualquer trabalho para garantir o sustento da família, enquanto Ari se aprimora em sua tese de doutorado, finaliza a síntese da trama de Travessia.