Custos mais altos em todo o mundo estão em parte ligados às alterações que reduziram as safras e elevaram o valor do cacau; os cacaueiros crescem perto da linha do Equador e são sensíveis às mudanças climáticas; Unctad afirma que preço por tonelada ultrapassou US$ 10 mil pela primeira vez
Os preços do cacau subiram 136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024, de acordo com o monitoramento de preços de commodities da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad.
Segundo a agência, ondas de calor e chuvas intensas estão prejudicando as colheitas na África Ocidental, que produz três quartos do cacau do mundo.
Colheitas prejudicadas pelo terceiro ano consecutivo
Os consumidores do chocolate em todo o mundo estão sendo atingidos pelos preços mais altos do cacau devido, em parte, à crise climática. O clima extremo e as mudanças nos padrões climáticos prejudicaram as colheitas das safras, que devem ficar aquém pelo terceiro ano consecutivo, afetando a oferta global e elevando os preços.
O preço por tonelada no mercado futuro ultrapassou US$ 10 mil pela primeira vez em 26 de março. O aumento chegou aos consumidores em todo o mundo, que já sofrem com a inflação e uma crise geracional de custo de vida.
De acordo com a Unctad, os cacaueiros crescem perto da linha do Equador e são sensíveis às mudanças climáticas. O fenômeno El Niño, caracterizado por temperaturas superficiais mais quentes em partes do Oceano Pacífico, causou um clima mais quente e mudanças nos padrões de chuva.
Pragas nos países responsáveis por 58% da produção
Na África Ocidental, que produz a maior parte do fornecimento global de cacau, as plantações estão cada vez mais ameaçadas por ondas de calor, chuvas intensas e outros riscos relacionados ao clima.
Por exemplo, chuvas excessivas em Gana e em Cote d’Ivoire, também conhecida como Costa do Marfim, durante o quarto trimestre de 2023 levaram a um surto de vírus do broto inchado e da doença da vagem preta, uma condição que faz com que as vagens de cacau apodreçam e endureçam.
A repercussão é global, já que os dois países produziram 58% do cacau mundial entre 2022 e 2023. A Organização Internacional do Cacau espera um déficit global de cerca de 374 mil toneladas para a temporada 2023-2024, em comparação com 74 mil toneladas na temporada passada.
Impacto econômico da mudança climática
Segundo o economista sênior da Unctad, Rodrigo Carcamo “por essa razão, e diante da demanda mundial inelástica de preços de curto prazo pelo cacau, choques do lado da oferta resultam em picos de preços”.
A Unctad alerta que o aumento do preço do cacau é apenas um exemplo de como as mudanças climáticas têm impactos de longo alcance na sociedade e na economia.
Para Carcamo “isso mostra a importância para todos os consumidores ao redor do mundo de que as mudanças climáticas sejam combatidas” e que as metas climáticas dos países sejam cumpridas.