“Hoje quem está colhendo é Israel, que começou há 25 anos. É Santa Catarina, que começou há 30 anos. É a Califórnia, que faz de 30 a 40 anos que começou. Colhe quem começa. E no interior do ES não tem ninguém começando isso. Só nós”.
José Antonio Bof Buffon.
O prefeito de Colatina, Guerino Balestrassi (PSC), está implantando um processo revolucionário de integrar, estimular a cooperação, empreendedorismo e a inovação tecnológica na cidade. Os frutos serão colhidos a médio e longo prazos, entre 15 e 20 anos, quando o reflexo de maior oferta de emprego e de renda circulando na cidade e nos municípios vizinhos será visível. Para executar o desafio de transformar Colatina em uma cidade sintonizada com o mundo empreendedor e inovador moderno, Balestrassi convidou para ocupar a Secretaria de Tecnologia da Informação de Colatina o economista, mestre em Economia pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas e ex-presidente do Bandes, José Antônio Bof Buffon.
Balestrassi, um engenheiro mecânico formado pela Ufes e pós-graduado em Administração pela Faculdade de Ciências Econômicas de Colatina (Facec), trouxe para Colatina a sua experiência como presidente do Bandes por duas gestões e ex-secretário estadual de Economia e Planejamento e ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia. Buffon, que também já foi presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), diz como foi o convite para ocupar uma pasta na Prefeitura: “Guerino me chamou para Colatina e falou: ‘Buffon eu queria que você pensasse em uma estratégia na Prefeitura para a gente integrar nessa cidade, estimular a cooperação, estimular o empreendedorismo e a inovação’”.
Ele conta que o primeiro passo foi transformar a antiga Secretaria de Tecnologia da Informação na atual Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Ela absorveu a Secretaria de TI (Tecnologia da Informação), que é a manutenção de computador ou fazer rede, software. Ela absorveu essa função, mas é muito mais do que isso. Ela é uma Secretaria que cuida da divulgação da ciência. É uma Secretaria completa”, explicou.
Lei de inovação
“Nós redigimos uma lei de inovação para a cidade e que vai ser apresentada para a Câmara Municipal em fevereiro (de 2022), na abertura dos trabalhos. Essa lei estabelece o papel e a forma de como a Prefeitura vai atuar. É uma lei de inovação que vai dar poderes ao secretário para poder estimular as atividades inovativas e cooperativas da cidade. Não precisaria ter uma lei de inovação obrigatoriamente, mas a lei organiza e torna o processo transparente”.
“Além disso ele disse que foi feita uma modelagem local para fazer uma parceria com a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). A nossa ideia é levar, a partir de fevereiro, uma mobilização para que no segundo semestre a gente tenha uma rodada de inovação aberta, com o FindesLab (hub de inovação da indústria capixaba, uma iniciativa conjunta da Findes e do Senai) em Colatina. O FindesLab é um hub de inovação espetacular. Ele fez três rodadas de sucesso em Vitória e quero fazer uma primeira rodada em Colatina”, prosseguiu.
Inovação aberta
Com isso as empresas já estabelecidas no mercado colatinense vão fazer um autodiagnostico e enxergar problemas e oportunidades. “Elas vão oferecer esses problemas e oportunidades para buscar uma solução nesta rodada. Com isso os startups (Startup é uma ideia de empresa ou uma empresa nascente voltado à tecnologia e inovação que tenha como objetivo desenvolver e aprimorar um modelo de negócio) e universidades vão entrar buscando as soluções. Então chama-se rodada aberta isso. Hoje, temos de duas a três dezenas de empresas no Espírito Santo que são mantenedoras e aderiram ao Findeslab. A ideia é levar para Colatina, porque a empresa tradicional de Colatina seja mais um pouco do que é uma empresa moderna. Isso se chama inovação aberta. Então, uma empresa hoje precisa ser moderna para sobreviver. O que é uma empresa moderna? A palavra moderna vem da palavra moda. Moda é aquilo que é prevalecente. É o que todo mundo está usando”, disse.
“O que é inovar? É você ultrapassar o padrão dominante. É quando você passa a ser vanguarda. É quando você passa a ser sozinho. Por que as empresas fazem isso? Porque quando ela está abaixo da modernização ela está perdendo dinheiro. Quando ela está na moda, ela está moderna, está ganhando igual à média. Quando ela é inovadora, ela está ganhando acima da média. Quando a empresa inova, ela inova em função de lucros extraordinários, acima do lucro médio. O modo da inovação é você ter o lucro extraordinário ou do monopólio, é lucro temporário, porque logo a concorrência vai se equiparar e a moda muda para cá”, continuou.
Como os concorrentes vão se igualar em tecnologia posteriormente, a empresa inovadora anula os lucros monopolísticos gerados pela inovação. Mas, para continuar na vanguarda, deve ter a inovação como uma prática incessante e recorrente e ir sempre empurrando a fronteira para a frente. “Isso é uma empresa inovadora”, resume Buffon. No passado bastava a empresa inovadora olhar para o mercado e ver uma oportunidade, se reunir com seus engenheiros e técnicos, para apresentar uma solução ou explorar uma nova oportunidade. “Isso é inovação corporativa”, acrescenta. Ou contratava um consultor de fora, que fazia um diagnóstico na empresa e dizia o que tinha que melhorar para lançar um novo produto. Mas, esse método exauriu-se.
“Hoje em dia não tem mais como fazer isso, porque as possibilidades são infinitamente grandes e nenhuma empresa consegue hoje enxergar todas as tendências que existem no mercado e se apropriar dessas tendências, levar para dentro de casa, discutir e dar uma solução. O mundo é completamente infinito, plano e volátil”, acrescenta o economista. Com a inovação aberta, não é possível saber de onde e nem de quem virá a solução. “Inovação aberta mesmo é isso aí. O mundo caminha para a inovação aberta. O Espírito Santo já tem a experiência do FindesLab e nós vamos fazer em Colatina uma rodada para iniciar as empresas locais na cultura da inovação aberta”, afirmou o secretário municipal.
“O que nós vamos fazer é tentar reforçar o papel de cidade regional de Colatina. Porque a chamada nossa é para toda a Região Noroeste. Ou seja, se estou estimulando um cara em São Domingos do Norte, estou estimulando que ele venha comprar em Colatina. Essa é a ideia“
— José Antonio Bof Buffon
Projeto Genesis
Tendo como base o Programa Sinapse da Inovação, implantado no Espírito Santo através da gestão de Buffon na Fapes e que captou 1.280 ideias no Estado e permitiu a criação de 50 startups e permitiu ao governo Federal idealizar o Programa Centelha, o secretário desenhou para Colatina um programa chamado Genesis. O projeto tem como missão coletar no Norte do Espírito Santo, principalmente na Região Noroeste, cerca de mil ideias de novos empreendimentos. “As 150 ideias que tenham o maior potencial de mercado ou potencial inovador, vão receber uma mentoria durante três meses, 12 semanas, 60 horas para construir o plano de negócio”.
Nesse período, o potencial empresário escrever o plano de negócio e a mentoria vai orientar construir o plano de negócio. Em três meses haverá 150 planos de negócio. Desse total, as 50 melhores propostas vão contar novamente com a mentoria por mais três meses, 12 semanas, 60 horas para construir o plano de empreendimento. Em seguida, os 15 melhores planos de empreendimento vão receber de novo 60 horas, três meses, 12 semanas uma mentoria para aprender a gerir uma empresa. Ao final desse processo eles vão receber um dinheiro para abrir a empresa. Essa empresa uma vez aberta terá nove meses de mentoria para acompanhamento, inclusive para encontrar o cliente e encontrar o financiamento para se expandir.
Níveis
“O primeiro nível nosso é estimular a empresa atual a se abrir para a inovação. O segundo nível é coletar ideia de jovens para que eles montem empresas inovadoras. O terceiro nível é fazer um programa de iniciação cientifica, tecnológica e empresarial com o ensino fundamental e o ensino médio. Programa de iniciação cientifica já tem há muitos anos no Brasil. Nós vamos fazer um programa onde vai se reunir 10 alunos de uma escola, professor de ciência, de matemática, de geografia ou de história, que vai ser um tutor deles”, disse Buffon.
“Eles vão submeter o projeto a um professor da cidade, que vai apresentar o projeto à Prefeitura e nós vamos pagar R$ 100,00 por mês de bolsa para os alunos e vamos pagar um bolsa para o tutor e para o coordenador. Para ele iniciar esses alunos em ciência. Aí vai ter gente que vai estudar areia do rio, vai ter gente que vai estuar vegetação do barranco, vai ter quem estudará os astros, as plantas, a evolução da água, produção de alimento, qualquer assunto”, prossegue.
“Eu quero que ele comece a pensar nisso daí. Porque lá na frente quando ele for mais maduro vai ter uma outra edição do Genesis e ele vai entrar com a ideia lá no Genesis. Estou alargando a base da pirâmide. Se aqui em cima tem 15 empresas tradicionais de Colatina, aqui em baixo tem 150 potenciais microempresas e aqui vou ter 1.500 alunos. Abrir a base da pirâmide para que o ensino médio comece a entender que a ciência é a base do sucesso. Essas são as três camadas mais importantes do nosso programa em Colatina. Com isso estou ligando universidade com escola e escola com empresa. Estou ligando tudo com tudo, estimulando o diálogo entre culturas e times diferentes”, completou.
Barracão do Futuro
Colatina, que completou em 2021 cem anos de fundação como cidade, teve o povoado se iniciado a partir de 1888 através de um barracão localizado às margens do Rio Doce construído por tropeiros que vinham com mercadorias e esperavam para fazer a travessia no dia seguinte. Buffon imaginou denominar o Hub de Inovação (espaço físico que favorece o contato entre diferentes instituições ligadas a inovação, como startups, investidores, universidades e grandes corporações) de Barracão do Futuro, remetendo dessa forma para às origens da cidade. “Só que (será) o Barracão para tecnologia. Aí nós vamos ver se construiremos se vamos construir ou reformar um prédio. Isso não tem nada decidido ainda. Mas, o conceito está formado”, afirmou.
“Então tem o Hub de Inovação é o quarto movimento que estamos fazendo. O quinto movimento é um Centro de Inovação de Ciências, tipo uma praça de ciências, onde vamos colocar um planetário, um observatório astronômico e um laboratório de realidade virtual e ampliada. Para levar os alunos da rede pública e da rede privada ajudar na ciência”, prosseguiu. Esse centro foi concluído e o primeiro conceito desse laboratório foi entregue nesta última terça-feira (28).
Até abril próximo será realizada uma Feira de Negócios e Inovação em Colatina, onde serão colocadas as principais empresas inovadoras e os startups mais importantes, universidades apresentando as pesquisas que vem fazendo e as instituições, como o Senai, Sest. Sesc, Prefeitura e todos os demais setores que atuam no segmento empresarial. O evento contará com palestras e representantes da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Ministério de Ciência e Tecnologia. As exposições vão ocorrer em um anfiteatro no local.