Ignorando as críticas que as elevadas taxas de juros inibem o desenvolvimento e inviabiliza a geração de empregos, no início da noite desta última quarta-feira (22), o Comitê de Política Monetária (Copom)).do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, manter a taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) em 13,75% ao ano (a.a.). O BC é presidido por Roberto Campos Neto, uma indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e está sendo chamado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de “cavalo de troia bolsonaristas”. É a maior taxa de juros do mundo, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Considerei o comunicado (do Banco Central) sobre a taxa de juros] preocupante, muito preocupante, porque hoje nós divulgamos o relatório bimestral da Lei de Responsabilidade Fiscal, mostrando que as nossas projeções de janeiro estão se confirmando”, disse Haddad. “Nós vamos fazer chegar ao Banco Central a nossa análise do que é mais recomendável para a economia brasileira encontrar o equilíbrio. O equilíbrio de trajetória da dívida, da inflação, das contas públicas, de atendimento às demandas sociais, esse conjunto de fatores precisa ser considerado segundo a própria lei que dá autonomia ao Banco Central”, acrescentou.
Críticas
Fernando Haddad, ministro da Fazenda: “Achamos que o comunicado preocupa bastante. A depender das futuras decisões, podemos inclusive comprometer o resultado fiscal e, daqui a pouco, vai dar problema nas empresas
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT: “Campos Neto, explique: como empresários podem captar recursos com os maiores juros do mundo? Você não entendeu seu compromisso com o Brasil? Sua política monetária já foi derrotada”, disse a presidente do PT.
Ivan Valente (PSOL-SP): “Mesmo com toda a pressão, Campos Neto manteve os juros no exorbitante patamar de 13,75%, um dos mais altos do mundo. O Banco Central ‘independente’ serve a quem? À população não é, Selic nas alturas só ajuda banqueiro. Fora, Campos Neto.”
Central Única dos Trabalhadores: “Essa decisão revela uma completa submissão do Copom aos interesses dos rentistas e um evidente boicote do presidente do BC ao esforço de todos e todas que trabalham pela retomada do crescimento da economia”.
Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e líder do Governo no Senado: “A decisão do BC é frustrante, injustificável e incompatível com os esforços fiscais e sinalizações que o governo tem feito. Manter essa taxa de juros sacrifica e sabota não o governo, mas o povo brasileiro!.”
Guilherme Boulos (PSOL-SP): “Absurdo! Vamos convocar Campos Neto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara para se explicar! Não é possível que esses juros abusivos sejam mantidos no Brasil.”
Jandira Feghali (PCdoB-RJ): “Apesar da pressão dos movimentos sociais e populares, o BC manteve a taxa básica de juros em 13,75% –a mais alta do mundo. O povo quer emprego e desenvolvimento, não juros estratosféricos”.
Quem integra o Copom
O Copom é um colegiado fechado, restrito e interno do BC. É formado por oito diretores e o atual presidente do BC, que compreende as seguintes pessoas: Roberto Campos Neto, presidente; Bruno Serra Fernandes, diretor de Política Monetária; Otavio Ribeiro Damaso, diretor de Regulação; Paulo Souza, diretor de Fiscalização; Carolina de Assis Barros, diretora de Administração; Mauricio Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta; Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos; Renato Dias de Brito Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução; e Diogo Abry Guillen, diretor de Política Econômica.
A taxa de juros que o Copom define, a Selic, é a taxa básica de juros da economia. É o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC sob o argumento de que é para controlar a inflação. Ela influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras. A medida afeta, inclusive, a taxa de juros para crédito consignado, que obrigou o Governo Lula a rever a redução que havia anunciado, devido a recusa das financeiras em cumprir as taxas menores, sob alegação de que o custo de captação do dinheiro é elevado, exatamente por causa dos juros elevados decretados pelo BC
O que diz o BC, através do Copom
Em nota distribuída à imprensa, o BC deu a seguinte explicação para insistir na política de juros elevados. “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente.”
“Na mesma linha, as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* elevaram-se para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,2% em 2023 e 5,3% em 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, referente ao terceiro trimestre de 2024, cuja projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,8%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023, 3,3% para o terceiro trimestre de 2024 e 3,0% para 2024. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, prosseguiu.
“Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, concluiu.