Está sobre a mesa do presidente americano Joe Biden um documento com 31 páginas recomendando a suspensão de acordos firmados pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro com o Governo dos Estados Unidos. Entre as recomendações está o pedido de restrição de importações de madeira, soja e carne do Brasil, “a menos que se possa confirmar que as importações não estão vinculadas ao desmatamento ou abusos dos direitos humanos”, destaca o documento.
O dossiê foi levado até a sala oval, na Casa Branca, pelo diretor-sênior para o hemisfério ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Juan Gonzalez, um crítico das políticas ambientais de Bolsonaro. A iniciativa foi de dez universidades (nove americanas), além de diretores de ONGs internacionais como Greenpeace EUA e Amazon Watch.
O documento foi confeccionado pela U.S. Network for Democracy in Brazil, entidade criada há dois anos por acadêmicos e ativistas brasileiros no exterior e que possui 1.500 membros. O documento foi endossado por mais de 100 acadêmicos de Harvard, Brown e Columbia, além de organizações como a americana Friends of the Earth e a brasileira Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Legitimação de Bolsonaro
A rede de notícias britânica BBC teve acesso a cópia do documento recebida por Biden e relata que o dossiê condena a aproximação entre os dois países nos últimos dois anos e aponta que a aliança entre Donald Trump e Bolsonaro levou à xeque o papel de “Washington como um parceiro confiável na luta pela proteção e expansão da democracia”. “A relação especialmente próxima entre os dois presidentes foi um fator central na legitimação de Bolsonaro e suas tendências autoritárias”, diz o texto.
A mudança na condução política da Casa Branca é o que estimulou a redação do dossiê. O documento ainda circula entre os membros do Conselho de Assessores Econômicos do gabinete-executivo de Biden e com Debra Haaland, do ministério do Interior dos Estados Unidos, que é outra crítica da política destrutiva de Bolsonaro com a mata brasileira.
Trump e Bolsonaro
De acordo com a BBC, até dezembro do ano passado, os líderes dos dois países celebravam anúncios conjuntos, como protocolos de comércio e cooperação econômica, e mostravam intimidade em encontros públicos. Na Assembleia Geral da ONU de 2019, por exemplo, Bolsonaro chegou a dizer “I love you” (eu amo você) a Trump, que respondeu “Bom vê-lo outra vez”.
A relação promiscua entre os Trump e Bolsonaro e seus filhos levou ainda na primeira semana de janeiro a filha do então presidente Donald Trump, Ivanka Trump, deixar ser i fotografada carregando no colo a filha de Eduardo Bolsonaro, que visitava a Casa Branca junto à esposa Heloisa e à recém-nascida Georgia. Ainda de acordo com a BBC, os gabinetes de pelo menos dois parlamentares próximos ao gabinete de Biden — a deputada Susan Wild, do comitê de Relações Internacionais, e Raul Grijalva, presidente do comitê de Recursos Naturais — revisaram o documento antes do envio ao presidente.