Pelo cuidado em liberdade! Cuidar sim, excluir, não!” Com esse tema, o bloco Que Loucura, vinculado a grupos de pesquisa da Ufes, vai desfilar no Sambão do Povo, na sexta-feira, dia 2 de fevereiro, abrindo o carnaval oficial de Vitória. Com início às 21 horas, a passagem do bloco antecede os desfiles das escolas de samba do Espírito Santo e vai levar a luta antimanicomial para a avenida. Os integrantes estarão em concentração a partir das 19 horas.
Usuários, familiares e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente aqueles ligados aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) dos municípios capixabas, entrarão no Sambão do Povo para, por meio da arte e da cultura, chamar a atenção do público sobre a importância do fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e seus serviços.
Para a professora do Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) e uma das coordenadoras do bloco Adriana Leão, abrir o carnaval de Vitória tem um significado especial para os integrantes do Que Loucura: “Não é apenas um desfile. É a possibilidade de iniciar o carnaval do país abrindo a avenida para o enfrentamento dos estigmas comuns no campo da saúde mental”.
Visibilidade
O bloco é uma iniciativa artística e cultural que surgiu em 2014 e foi fortalecida em 2022 a partir da parceria com os grupos de pesquisa Fênix e Políticas públicas e práticas em saúde mental e atenção psicossocial, ligados ao Departamento de Serviço Social (DSS) e ao DTO, respectivamente.
O objetivo do Que Loucura é promover a reabilitação psicossocial e a dignidade humana por meio da folia, dando visibilidade às pessoas com sofrimento psíquico e reconhecendo como cidadãos usuários e familiares atendidos na RAPS.
Marchinhas
O repertório do bloco é composto por paródias com letras autorais, tendo, atualmente, mais de 30 composições. O enredo deste ano conta com quatro marchinhas que abordam a temática central do cuidado em liberdade. A marcha Maluca e Maluco, por exemplo, entoa: “Eu sou maluca, eu sou doidona, eu tô na luta por um SUS que funciona! Eu sou maluco, eu sou doidão, eu tô na luta contra toda a opressão!”
Os abadás utilizados pelas pessoas envolvidas no bloco são confeccionados por usuários dos CAPS, para onde são destinados os recursos arrecadados com as vendas. A ideia é promover a geração de renda de pessoas com transtorno mental.
Saúde mental
Antes movimento social independente, atualmente o bloco é uma das atividades do projeto de extensão Saúde mental e atenção psicossocial: trabalho, arte, cultura e educação permanente e se apresenta, de maneira autônoma, em datas festivas da saúde mental, além de participar de diversos eventos ao longo do ano. O nome, Que Loucura, remete à pauta principal da ação: a saúde mental de usuários e seus familiares. “São pessoas em sofrimento psíquico-mental que demandam intervenções especializadas”, explica a outra coordenadora do projeto, a professora do DSS Fabíola Xavier.
Ela conta que a parceria com a Liga Independente das Escolas de Samba do Grupo Especial de Vitória (Liesge), que se realiza pelo segundo ano consecutivo, foi essencial para proporcionar mais visibilidade às atividades do Que Loucura. “Desde o início, as intervenções do bloco são fundamentais para garantir que pautas tão importantes, como a defesa do SUS público, gratuito, universal e da RAPS voltada para a saúde pública, sejam, de fato, levadas para toda a sociedade de forma lúdica, criativa e inventiva, fortalecendo, sobretudo, o cuidado em liberdade”, avalia Xavier.
Acolhimento
Em 2023, o bloco levou 420 pessoas para a avenida e as coordenadoras aguardam um público ainda maior este ano. “A alegria dessa grande festa é acrescida dessa importante oportunidade de participação social de todos que se apresentam no bloco. Para as pessoas que assistem, é a possibilidade de acolher a loucura que existe em todos nós”, finaliza Leão.
O documentário Que bloco é esse?, produzido após o desfile de 2023, traz relatos de pessoas que participaram do bloco e apresenta mensagens sobre a luta antimanicomial.
Mais informações sobre o Que Loucura podem ser obtidas no perfil do bloco no Instagram.
Texto: Adriana Damasceno