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Bolsonaro decide acabar com a Rádio Nacional, a emissora que encantou o Brasil na época do rádio

Programas de auditório da Rádio Nacional lançaram os maiores cantores da histórica da música brasileira | Foto: Arquivo

A extinção da histórica Rádio Nacional e a Rádio MEC, no Rio de Janeiro, na mais nova destruição do presidente Jair Bolsonaro (PL) foi duramente criticada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Em nota conjunta, as duas entidades demonstram indignação com o anuncio feito pelo subalterno de Bolsonaro, que administra a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), coronel Roni Pinto.

O militar que tem o cargo de diretor-geral da EBC comunicou a gestores da estatal que, no prazo de um mês, a Rádio MEC AM e a Rádio Nacional do Rio de Janeiro serão extintas. “Esse projeto, nocivo aos interesses do povo brasileiro, não é de agora. Em 2019, um ano depois de o atual presidente, Jair Bolsonaro, tomar posse, o seu governo ensaiou liquidar a Rádio MEC AM. Diante da resistência, acabou recuando. Agora, volta à carga”, diz a nota conjunta

“A MEC é a mais antiga emissora de rádio do Brasil, tendo sido criada em 1923, com o nome de Rádio Sociedade. Conquistou respeito generalizado devido à qualidade da sua programação. Já a Rádio Nacional foi o mais importante veículo de comunicação do País em meados do século passado, tendo também uma extensa folha de serviços ao povo brasileiro”, prossegue o comunicado.

“A única explicação possível para a medida anunciada é a conhecida aversão do atual governo a tudo o que é público. A ABI e a SBPC manifestam seu repúdio a ela e conclamam a população brasileira a se pressionar o governo federal para que volte atrás nessa decisão”, encerram os dirigentes da ABI, Paulo Jeronimo e da SBPC, Renato Janine Ribeiro. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro entrou no às 21 horas do dia 12 de setembro de 1936 com a voz de Celso Guimarães, que anunciou: “Alô, alô Brasil! Aqui fala é a Rádio Nacional do Rio de Janeiro!”.

Curta metragem que conta a história da Rádio Nacional do Rio de Janeiro | Vídeo: YouTube/Canal Grafitti News

Foi a melhor emissora da América Latina

A Rádio Nacional surgiu como uma emissora privada, mas diante do sucesso acabou sendo encampada pelo então presidente Getúlio Vargas, que promoveu o investimento na aquisição dos equipamentos para transmissão em ondas curtas. Dessa forma, a frequência da rádio atingia praticamente todo o território brasileiro. Outra determinação de Vargas é que a emissora competisse com as rádios privadas e angariasse recursos com anúncios e todo o dinheiro que entrava, inclusive o lucro, deveria ser reinvestido na aquisição de equipamentos. Assim, a rádio se transformou na melhor da América Latina. Ela opera no dial AM, na frequência 1.130 kHz e em FM na frequência 87.1 MHz.

Em 1941, a Rádio Nacional apresentou a primeira radionovela do país, “Em busca da Felicidade” e, em 1942, inaugurou a primeira emissora de ondas curtas, fato que deu aos seus programas uma dimensão nacional. Os maiores nomes do teatro brasileiro entraram nas novelas radiofônicas. Outros nomes ganharam sucesso e prestigio a partir das ondas da Rádio Nacional. A rádio também contava com programas de humor como: “Edifício Balança mas não cai” que tinha no elenco Paulo Gracindo, Brandão Filho, Walter D’Ávila, entre outros.

Na área musical, a Rádio Nacional tinha programas de auditório e contribuiu para se tornar popular grande parte dos nomes da música brasileira. Atualmente, parte significativa do acervo da Rádio encontra-se no Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Trata-se da “Coleção Rádio Nacional”, constituída por 31 mil discos de 78 rpm, mais os discos de acetato referentes a 5.171 programas, 1.873 de gravações musicais inéditas, 88 de prefixos, 82 de “jingles” e 7 de efeitos, todos já copiados em CDs. Há, ainda, cerca de 20 mil arranjos e 1.836 “scripts”.

O Repórter Esso, na Rádio Nacional, revolucionou a forma de dar notícia no rádio brasileiro | Foto: Arquivo

Repórter Esso

O Repórter Esso inovou o noticiário até então praticado nas emissoras de rádio no Brasil, que faziam recortes dos jornais para ler o que via sido publicado, o que poderia ser chamado nos dias atuais de Control C + Control V. As notícias da Rádio Nacional naquela época eram feitas de forma profissional, respeitando o limite de tempo e de horário e dentro da linguagem própria do rádio, usando as notícias vendidas pela agencia americana United Press International (UPI) e que eram recebidas por sinais em código morse.

Vinheta do Repórter Esso. A população brasileira fazia questão de ouvir as noticias pela Rádio Nacional na época que não havia TV

O Repórter Esso foi inaugurado na Rádio Nacional em agosto de 1941, poucos meses antes de o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial e ficou quase 30 anos no ar. O Repórter Esso foi criado nos Estados Unidos em 1935 e a partir de então se estendeu por outros países da América Latina. Era patrocinado pela petrolífera americana Standar Oil Company, conhecida como Esso e produzido pela UPI e supervisionado pela agência de propaganda americana McCann Erickson (atual McCann). O Repórter Esso foi utilizado como instrumento de aproximação do Brasil com a cultura e a ideologia americana, dentro do objetivo de fazer com que o Brasil defendesse os interesses dos aliados na Segunda Guerra Mundial.