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Bolsonaro fica quieto após carta do presidente da Anvisa pedindo para que se retrate

No início do governo Bolsonaro, o presidente da Anvisa chegou participar das lives presidenciais na internet | Foto: Reprodução/YouTube

Neste último final de semana, após o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres cobrar uma retratação do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelos sistemáticos ataques e ameaças que vem fazendo à Anvisa, o atual mandatário optou em ficar quieto e não mais abrir a boca para falar mal da instituição. “Se retrate”, diz o dirigente da Anvisa para Bolsonaro. Os ataques decorrem do negacionismo do presidente ao vírus do Covid e às vacinas, todas aprovadas pela Anvisa.

A postura atual do chefe da Anvisa difere de seu comportamento no início da pandemia. Em março de 2020, antes de ser confirmado no cargo pelo Congresso, ele esteve, ao lado do presidente, em uma manifestação de bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em maio do ano passado, Barra Torres admitiu que foi “um ato inadequado”.

As agressões verbais de Bolsonaro à Anvisa se intensificaram após aprovação da vacina pediátrica da Pfizer contra o Covid para crianças de 5 a 11 anos. De forma criminosa, o que gerou ação policial, Bolsonaro revelou que havia solicitado publicamente os nomes dos técnicos e demais profissionais da Agência que contribuíram para aprovação da vacina infantil. O presidente disse que queria expor os nomes nas redes sociais. Só com essas palavras, os seguidores entenderam o recado e houve 170 ameaças diretas a essas pessoas.

O presidente da Anvisa também desagradou a Bolsonaro por ter criticado a proposta irresponsável do bolsonarista ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de tentar retardar ao máximo o início da vacinação através de vários artifícios, entre esses uma consulta médica (o que acabou não sendo mais exigido) e uma inusitada consulta popular exigir prescrição médica para vacinar as crianças. Barra Tores classificou a consulta pública como “inadequada” e “um gasto de tempo”.

Carta de Antonio Barra Torres cobrando uma retração à Bolsonaro | Imagem: Anvisa

Leia a íntegra da carta:

“Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres

Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta “Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?”, o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.

Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres

Diretor Presidente – Anvisa

Contra-Almirante RM1 Médico

Marinha do Brasil”