Na manhã desta terça-feira (10), no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados agendou a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) combinou com os comandantes militares promoverem um inédito desfile de tanques e blindados na Esplanada dos Ministérios. Para chegar até o Palácio do Planalto, os veículos militares desfilaram desafiadoramente em frente ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em um gesto antidemocrática, os militares Prenderam o trompetista,Fabiano Leitão, o TromPetista que ficou conhecido por tocar em diversos lugares do Brasil com seu trompete “Olê, olê, olê, olá. Lula, Lula” apenas por se manifestar contra o governo Bolsonaro.
A desculpa para um desfile de tanques em um dia de semana foi a de que um oficial, vestido com roupa de guerra, iria subir a rampa presidencial para entregar á Bolsonaro um pseudo convite para que participe de um treinamento militar no Campo de Instrução de Formosa, em Goiás. Essa foi a forma como Bolsonaro encontrou de querer exibir forças diante da democracia. O objetivo foi mera demonstração de força em meio a queda de popularidade e a inclusão do seu nome em inquéritos no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH), Humberto Costa (PT-PE), manifestou repúdio ao desfile da Operação Formosa, anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro, que contará com tanques, armamentos e outros meios da Força de Fuzileiros da Esquadra. Além de Humberto Costa, vários senadores criticaram a iniciativa de Bolsonaro. A Rede e o PSOL apresentaram um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando liminar para impedir o desfile no centro de Brasília, mas a solicitação foi negada pelo ministro Edson Fachin, do STF.
Nesta terça-feira, Bolsonaro veio receber o tal convite na porta do Palácio do Planalto junto com ministros, incluindo os militares que ainda o apoiam. Entre os participantes estava o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o ministro da Educação, Milton Ribeiro. No total haviam mais de 2.500 militares da Marinha, do Exército e da Força Aérea. A operação contou com mais de 150 militares diferentes, incluindo a exibição de aviões, blindados e anfíbios no desfile intimidatório.
“Papel das forças armadas é defender a democracia”
Ao abrir a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, nesta terça-feira, o presidente do colegiado, senador Omar Aziz, disse que “o papel das Forças Armadas é defender a democracia, não ameaçá-la”, segundo relato da Agência Brasil. “É um absurdo inaceitável. Não é um teatro sem consequências, mas um ataque frontal à democracia que precisa ser repudiado”, disse Aziz. “Desfiles como esse serviriam para mostrar força para conter inimigos externos que ameaçassem nossa soberania, o que não é o caso. As Forças Armadas jamais podem ser usadas para intimidar sua população, seus adversários, atacar a oposição legitimamente constituída. Não há nenhuma previsão constitucional para isso”, completou.
A Marinha, organizadora do desfile bélico, deu uma desculpa esfarrapada para a sua participação no ato antidemocrático: De acordo com a Marinha, “a operação tem o objetivo de assegurar o preparo do Corpo de Fuzileiros Navais como força estratégica, de pronto emprego e de caráter anfíbio e expedicionário, conforme previsto na Estratégia Nacional de Defesa. Este ano, de forma inédita, haverá também a participação de meios do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira, de modo a incrementar a interoperabilidade das Forças Armadas do País”.
Copiando Hugo Chávez
Mais cedo, em entrevista à BBC News Brasil, o ex-ministro de Relações Exteriores do México e professor da New York University, Jorge Castañeda, disse que o presidente Jair Bolsonaro “adota medidas do manual de Chávez”, o ex-presidente falecido da Venezuela. “Bolsonaro se cercou de militares, cria embate com outros poderes, desacredita o processo eleitoral e tenta calar a imprensa. Todas medidas tiradas do manual chavista”, disse o atual professor da universidade americana.
Ele ainda disse que as semelhanças entre ambos não se esgotam nas coincidências biográficas ou no modo como souberam explorar as redes sociais e a imagem de outsiders para conquistar os eleitores. “Com mais ou menos sucesso, ambos operaram avanços sobre as Supremas Cortes e apostaram nos embates com instituições democráticas, especialmente com a imprensa. Ambos ainda incentivaram ou promoveram o armamento da população civil e militarizaram o Estado ao mesmo tempo em que interferiam em órgãos investigativos, expurgavam servidores públicos não alinhados e tentavam levar os dados oficiais a apoiar narrativas de seus governos, nem sempre condizentes com a realidade”, disse Castañeda.