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Brasil abriga Conselho Global sobre desigualdade, Aids e pandemias


Iniciativa quer fomentar formulação de políticas públicas para avançar com questões de saúde e prevenção de doenças; membro fundador, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids destaca que embora o Brasil tenha feito avanços contra o vírus, desigualdades ainda impõem desafios


Questão da desigualdade não se resume ao HIV, mas se expande para outras pandemias. Países com maior desigualdade de renda, por exemplo, experimentaram maior mortalidade por Covid-19 | Foto: Foto Albert Gonzales Farran/Unicef

O Brasil está sediando o lançamento do Conselho Global sobre Desigualdade, Aids e Pandemias. A iniciativa busca reunir evidências para que os formuladores de políticas públicas possam destacar a necessidade de agir. O Conselho também vai ajudar a equipar a linha de frente de atuação das comunidades que lutam por suas vidas com os recursos necessários para influenciar nas mudanças políticas e de poder.

O grupo é copresidido pelo economista ganhador do Prêmio Nobel, Joseph E. Stiglitz, pela primeira-dama da Namíbia, Monica Geingos, e pelo diretor do Instituto para Equidade em Saúde do University College London, Sir Michael Marmot. A ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade, membro fundador do Conselho, afirmou que é hora de “converter as lições aprendidas em ação, reduzindo as desigualdades que impulsionam as crises de saúde atuais e fortalecendo a preparação para pandemias futuras”.

Para a diretora executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, Winnie Byanyima, a resposta ao vírus é um dos melhores exemplos de como as comunidades que enfrentam múltiplas desigualdades podem se unir para superá-las e salvar vidas. Ela também que também é membro do Conselho Global e está no Brasil para acompanhar o lançamento da iniciativa.

Winnie Byanyima adiciona que um amplo movimento de pessoas vivendo com HIV e afetadas por ele conseguiu reduzir o preço de medicamentos e dos diagnósticos, fortalecer as respostas nacionais de saúde, possibilitar o surgimento de redes lideradas pela comunidade e garantir a revogação de leis punitivas e discriminatórias em muitos países.

Desigualdades e riscos de saúde

Segundo o Unaids, as desigualdades sociais e econômicas dentro dos países e entre eles estão exacerbando e prolongando as pandemias e ampliando seu impacto entre as pessoas e populações mais pobres e vulneráveis.

As mesmas desigualdades interligadas que impulsionam o HIV, Covid-19, MPox e outras doenças estão deixando países e comunidades em risco de surtos e pandemias futuras.

No entanto, a experiência tem mostrado que há ações nos âmbitos global, regional e nacional que podem construir respostas a pandemias que reduzam as desigualdades, em vez de agravá-las.

Acesso ao tratamento

Mesmo dentro de países que têm obtido progressos significativos contra o HIV, algumas comunidades têm enfrentado dificuldades para se beneficiar dos avanços da medicina.

No Brasil, as infecções por HIV estão diminuindo drasticamente entre a população branca à medida que o acesso ao tratamento é ampliado e novas ferramentas de prevenção, como a PrEP, são implementadas. Entretanto, as infecções por HIV entre a população negra estão aumentando.

Segundo o Unaids, as desigualdades de gênero colocam em risco a saúde das mulheres em todo o mundo. Por exemplo, em países como Gana e Libéria, a prevalência do HIV entre as mulheres jovens é mais de cinco vezes maior do que entre os homens jovens da mesma idade, refletindo, em parte, a desigualdade econômica e educacional.

Futuras pandemias

Para o Unaids, os êxitos e fracassos na resposta ao HIV fornecem lições valiosas sobre como o mundo pode lidar com futuras pandemias. Ao mesmo tempo revelam como leis e políticas públicas podem dificultar ou impedir que determinadas populações tenham acesso às respostas mais efetivas às pandemias.

Por exemplo, na Malásia, onde os homens gays são criminalizados e presos, eles têm 72 vezes mais chances de serem infectados do que outros adultos. Por outro lado, na Tailândia, onde as relações entre pessoas do mesmo sexo são legais e a resposta comunitária à pandemia é forte, os homens gays têm apenas 12 vezes mais chances de serem infectados.

As mesmas desigualdades interligadas que impulsionam o HIV, Covid-19, MPox e outras doenças estão deixando países e comunidades em risco de surtos e pandemias futuras | Foto: Divulgação/ONU

Gastos com saúde entre países

A questão da desigualdade não se resume ao HIV, mas se expande para outras pandemias. Países com maior desigualdade de renda, por exemplo, experimentaram maior mortalidade por Covid-19.

No auge da pandemia, os países ricos gastaram bilhões de dólares em suas respostas nacionais. Ao mesmo tempo, quase metade dos países em desenvolvimento foi obrigada a reduzir os gastos com saúde, o que minou suas capacidades de combater pandemias globais.

Nos últimos anos, duas vezes mais pessoas morreram de MPox na República Democrática do Congo, do que em todo o resto do mundo, mas o país não recebeu vacinas.