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Brasil celebra nesta sexta (15) 135 anos do 1º golpe militar que implantou a República


A ascensão dos militares do Exército desagradou à Marinha e à oligarquia paulista do café, que queria um presidente civil que favorecesse ao agronegócio daquela época, ao incremento da produção e exportação de produtos agrícolas


Brasil celebra nesta sexta (15) 135 anos do primeiro golpe militar que implantou a República | Imagem: Reprodução

Nesta sexta-feira (15), o Brasil celebra em feriado nacional o primeiro golpe de Estado militar, que acabou com o Império e introduziu a República há 135 anos. O golpe de 15 de novembro de 1889 surgiu com traições e a sobreposição do Exército sobre a Marinha e ocorreu também em uma sexta-feira, quando o Movimento Republicano chefiado pelo alagoano marechal Manuel Deodoro da Fonseca. Entre os motivos da derrubada do Império estava a insatisfação militar, após a vitória na Guerra do Paraguai, com o que eles chamavam de baixos salários. Deodoro ficou como presidente provisório.

Entre os primeiros atos do governo militar estava o decreto que separava a Igreja do Estado e a concessão de nacionalidade brasileira a todos os imigrantes residentes no Brasil, além da nomeação dos governadores para as províncias. Depois a transformação desses em Estados. Em 24 de fevereiro de 1891 foi a primeira constituição republicana do Brasil.

Os barões do café ficaram furiosos com o fim da escravidão

A assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, 18 meses antes do golpe de Esado republicano, ao libertar os escravos no Brasil, sem indenização para os proprietários de negros escravizados, colocou essa elite rural em uma posição contrária à monarquia. O Barão de Cotegipe, então senador do Império e único parlamentar a votar contra a Lei Áurea em 1888 teria alertado a princesa Isabel: “A senhora acaba de redimir uma raça e perder a Coroa”. Vale destacar que o Brasil foi o último país do continente americano e um dos últimos do mundo a abolir a escravidão.

Outro elemento importante que enfraqueceu a Monarquia era a falta de um sucessor para o Imperador D. Pedro II que, próximo de completar 64 anos, não tinha um herdeiro homem. “Sua filha, a Princesa Isabel, era casada com o Conde D’Eu, um francês que não contava com a simpatia sequer do seu sogro imperador”. Embora a constituição de 1824 permitisse que uma mulher sucedesse o monarca, temia-se que, na prática, o Conde estrangeiro governasse de fato”, aponta o professor.

O estopim para que a Proclamação da República acontecesse foi o suntuoso Baile da Ilha Fiscal, oferecido para a delegação do Chile que visitava o Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Com o gasto elevado da festa num momento de grave crise econômica, militares e jornalistas não pouparam críticas, gerando um ambiente conveniente para o golpe de 15 de novembro.

Constituição Republicana excluía o direito do voto às mulheres

Machista, a primeira Constituição não permitia o voto feminino, mas somente de homens maiores de 21 anos. Mas, o voto não era secreto, o que fazia com que surgisse o nome de “voto de cabresto”, onde principalmente os empregados e as pessoas mais pobres eram obrigadas a votar em quem a elite mandava. A Assembleia Constituinte transformou Deodoro em presidente eleito.

O Governo de Deodoro foi caracterizado por instabilidade econômica e política, com o agronegócio daquela época, os barões do café de São Paulo, ainda insatisfeitos com o fim da escravidão proporcionada pelo Império, queriam um Governo submisso aos seus projetos econômicos. A Marinha também estava descontente com o governo de militares do Exército e começaram a surgir as primeiras greves de trabalhadores.

Dom Pedro II foi traído pelos militares, que derrubaram o Império e implantaram a República, em um golpe sem a participação popular | Foto: Museu Imperial de Petrópolis (RJ)

Marinha se rebelou contra os militares do Exército no poder

A crise levou ao fechamento do Congresso e, posteriormente, ao posicionamento de unidades da Marinha na Baía de Guanabara, sob a liderança do almirante Custódio de Melo, que ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, então capital da nova República. Com receio de uma guerra civil, o marechal Deodoro renunciou à Presidência em 23 de novembro de 1891.

Com a consolidação da renúncia e contrariando a primeira Constituição Republicana, assumiu a Presidência outro alagoano. Dessa vez foi o Floriano Vieira Peixoto, que havia apoiado a Proclamação da República e se recusado a comandar a resistência imperial ao golpe de estado republicano. No dia do golpe republicano, Floriano era encarregado da segurança do ministério do Visconde de Ouro Preto. Ele assumiu a vacância de Deodoro e presidiu o Brasil de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894, contrariando o artigo 42 da Constituição de 1891, que dizia:

  • “Se, no caso de vaga, por qualquer causa, da saída da presidência ou vice-presidência, não havendo ainda decorrido dois anos do período eleitoral, proceder-se-á uma nova eleição”

Proclamação da República teve o povo apenas como expectador

Leia a seguir trecho da reportagem de capa Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro (RJ), na edição da segunda-feira, 18 de novembro de 1889, com a ortografia original da época, narrando que o golpe militar que instituiu a República teve o povo apenas como espectador.

O dia de hontem correu calmo e tranquilo.

O povo affluia às ruas, em busca de notícias, mostrando-se, pela sua atitude correctamente pacífica, interessado na manutenção da ordem.

A rua do Ouvidor, durante o dia e parte da noute esteve occcupada pela multidão, que em grupos commenttava os acontecimentos.

O largo do Paço foi tambem, como nos dias antecedentes, um dos pontos procurados pelo povo, que ali se reuniu, agitado pelo incessante movimento da curiosidade, que o fazia ir e vir indagando dos factos e comentando-os, mas tudo isso com calma e muita ordem.

Essa tranquilidade do povo, em face dos extraordinários acontecimentos que se deram, é uma nota que desejamos continuar a registrar.

Artigo de jornal da época traz um relato, com detalhes minuciosos, da falta de apoio popular ao golpe militar de 1889, que derrubou o Império e implantou a República | Imagem: Reprodução

O embarque do imperador”, relata jornal da época (texto com grafia do final do Século XIX):

  • Eram 2 ¾ horas da madrugada de hontem quando o tenente-coronel Mallet, comissionado pelo governo provisório, se apresentou no paço da cidade para acompanhar o embarque da família imperial.
  • A aglomeração do povo, que durante o dia e parte da noite se conservara no largo do Paço, a essa hora já o havia abandonado, havendo apenas pequenos grupos nos pontos que as sentinelas e patrulhas permitiam. De distancia em distancia, toda a praça estava ocupada por senbtinellas do corpo da policia e era percorrido por patrulhas de cavallaria.
  • Era quase 3 horas quando chegou uma lancha a vapor ao caes próximo ao ponto das barcas Maruhy e Paquetá.
  • Pouco depois de atracada a lancha, sahiram do paço duas senhoras e uma criança, que nos disseram pertencer a família do Sr. conde de Motta Maia.
  • Essas senhoras, depois de indagarem se era ali o local do embarque, tomaram logar na lancha.
  • Veiou depois, do paço, vagarosamente e seguido de uma pequena força da cavalaria, um carro fechado, no qual ia a família imperial.
  • O carro voltou ao paço e n’elle entraram as outras pessoas que acompanham o imperador.
  • A lancha silvou e partiu em direccção da Parahyba, fundeada em frente ao arsenal de guerra.
  • Quando o tenente – coronel, Malett se apresentou ao paço. O imperador, visivelmente alterado e como se ainda lhe custasse acreditar na realidade dos factos, perguntava sucessivas vezes:
  • – Mas, que é isso Sr Mallet? O que foi que fizemos? O senhor está doidoۜ Os outros estão doidos! Diga: qual é a minha culpa, de que me acusam?
  • A princeza chorava desesperadamente, e, apoiando-se no braço do tenente-coronel Mallet, para entrar no carro, disse:
  • – Ah! Sr Mallet, os senhores hão de se arrepender-se!
  • E cada vez mais presa aos soluços e vertendo copiosas lagrimas.
  • – O que eu fiz, o que fizemos? Vou-me embora … e levo tantas saudades do Brasil, d’este Brasil que eu tanto amo!
  • O conde d’Eu, mais calmo, apenas apressava a partida, tratando com maior urgencia embarcar os da comitiva.
  • De resto não parecia abatido.
  • O príncipe D. Pedro embarcou tambem, e, segundo disse, levava apenas a roupa do corpo, não tendo tido tempo de apronptar as malas.