Nesta manhã de quarta-feira (19), o velório ocorre no Cemitério de Santo Antônio, em Vitória (ES)
O jornalista autor da frase “Moqueca só capixaba, o resto é peixada”, José Carlos Monjardim Cavalcanti, o Cacau Monjardim, vai ser sepultado nesta quarta-feira (19), ao meio-dia, segundo informação dada nesta manhã ao Grafitti News pela administração do Cemitério de Santo Antônio, em Vitória (ES). Cacau faleceu, aos 93 anos, nesta última terça-feira (18), por volta das 11 horas, vítima de uma parada cardíaca, segundo informações de familiares. Ele havia sentido dores no estômago na véspera e foi levado a um hospital, em Vitória (ES), onde teve a parada cardíaca e faleceu ainda na sala de espera.
Cacau nasceu no Bairro de Fradinhos, em Vitória, em 1929. Ele era jornalista profissional, administrador de empresa, bacharel em Direito. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo e da Academia de Artes e Letras de Cascais, em Portugal. Ele foi presidente por 10 anos da extinta Empresa Capixaba de Turismo (Emcatur), que foi criada no Governo Christiano Dias Lopes.
E também já ocupou o cargo de secretário de Estado da Comunicação e administrou jornais, revistas e emissoras de rádio no Espírito Santo. Ainda foi correspondente no Brasil do jornal Pravda, de Moscou. Ele deixou a esposa, Dalila Andrade Cavalcanti, e os dois filhos que teve com ela: Izabela Monjardim e José Carlos Monjardim Filho.
Moqueca capixaba
Cacau Monjardim se tornou o maior especialista no prato típico do Espírito Santo, a Moqueca Capixaba. Com o intuito de apurar a receita original da moqueca, entrevistou dezenas de pessoas envolvidas com o tema, na busca da receita primitiva e original. A receita original coletada por Cacau foi incluída no portal oficial do Governo do Espírito Santo pelo então ex-governador Albuíno Azeredo (1991-1995), que ainda mandou editar em um folheto e ser distribuída em todas as feiras de turismo que o Estado participasse oficialmente.
Em 1974, quando era presidente da Emcatur, Cacau lançou o primeiro livro de receitas sobre a culinária capixaba chamado “Segredos da Cozinha Capixaba”. E foi nesse mesmo ano, junto com o livro, que lançou a sua famosa frase: “Moqueca só capixaba, o resto é peixada.”. Naquela época a frase gerou uma rixa entre a moqueca capixaba e a peixada baiana. O Espírito Santo ganhou a briga e, atualmente, a palavra moqueca se refere ao prato típico do Espírito Santo, apesar de alguns restaurantes ainda usarem o nome moqueca no peixe que serve. A diferença está no excesso de óleo de dendê que o baiano usa e que esse ingrediente, que gera desconforto intestinal a quem não é acostumado, é “proibido” na moqueca capixaba.
Em entrevista concedida no final do último Século, Cacau declarou: “Mas a questão da moqueca em si, é porque eu fui à Bahia. E eu comecei a mostrar na Bahia que não existia empresa, não existia nada, apenas um grupo de cinco ou seis rapazes que eram funcionários da Secretaria de Indústria e Comércio da Bahia e eu dialogava e mostrava as vantagens de criar uma sociedade anônima para administra o turismo. O estatuto da Bahiatur na época era exatamente o mesmo estatuto da Emcatur, que era a primeira sociedade anônima de capital autorizado. No país, nós fomos pioneiros. Só não conseguimos fazer o sucesso da Bahiatur porque não tivemos aqui a continuidade administrativa que eles tiveram lá.”
Nessa mesma ocasião, Cacau falou sobre a origem da moqueca no Espírito Santo. “Ganhou todo o nosso litoral, de forma balanceada. Guarapari e Vitória valorizaram com seus restaurantes típicos, sustentados pela corrente turística, a nossa moqueca. Registro que o ponto pioneiro de maior expressão foi o Restaurante São Pedro, do Hercílio, que hoje tem nos seus filhos Hercílio Pirão e Ruth Silva, dois grandes líderes de nossa culinária. O primeiro cartaz que fiz, com o meu slogan, há trinta e cinco anos, foi ilustrado com imagens feitas no Restaurante São Pedro. A partir desta iniciativa promocional, a moqueca ganhou expressão nacional, transformando-se numa simpática identidade capixaba.”