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Camilo Cola é sepultado faltando menos de dois meses para completar 98 anos

O ex-delegado Cláudio Guerra acusou, em depoimento, que Camilo Cola era um dos financiadores da ditadura militar | Foto: Arquivo

O empresário Camilo Cola, fundador do grupo Itapemirim, morreu neste último sábado (29) quando faltavam 58 dias para completar 98 anos. O governador do Renato Casagrande (PSB) decretou três dias de luto oficial no Espírito Santo. A morte foi de causas naturais. Cola foi um político conservador, tendo iniciado a sua carreira política logo após ao golpe militar de 1964, quando se filiou no partido criado pela ditadura militar, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) em 1965. Em 1980, após a extinção do bipartidarismo, filiou-se ao Partido Democrático Social (PDS) e em 1986 transferiu-se para o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Tendo tentado sem sucesso várias disputas eleitorais, somente conseguiu realizar o seu sonho político em 2006, quando se elegeu deputado federal pelo Espírito Santo e manteve-se nesse cargo eletivo, entre titular ou suplente, até 2015.  Camilo Cola era filho dos imigrantes italianos Pedro Cola e Virgínia Sossai e na sua juventude foi lavrador e lavador de carros. Aos 21 ano de idade tinha a patente de tenente do Exército Brasileiro e foi quando participou da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que atuou na Itália na Segunda Guerra Mundial.

Ao retornar, aproveitou uma linha especial de créditos para ex-combatentes e comprou um caminhão e, em seguida, adquiriu um ônibus para transportar passageiros entre Conceição do Castelo e Cachoeiro de Itapemirim. Em 1953, passou a operar rotas dentro do Espírito Santo, nascendo assim a Viação Itapemirim, com 16 veículos e 70 funcionários. O seu grupo empresarial se expandiu. Criou a Imobiliária Bianca, Cola Comercial e Distribuidora, Fazenda Pindobas, Flecha Turismo Comércio e Indústria, Viação Kaissara, Massad Cola Marketing, Itampemirim Informática LTDA, Marbrasa Mámores e Granitos do Brasil LTDA, entre muitas outras.

A sua Fazenda Pindobas, onde foi enterrado neste último domingo ao lado da sua esposa, Inês Cola, sempre foi o seu xodó. Cola gostava de participar de concursos nacionais de produção de queijo, onde costumava ganhar prêmios nacionais. Para elevar a produtividade, as suas vacas adormeciam sobre leitos feitos com sobra da capa de poltronas dos ônibus, ao som de música clássica. A partir de 2015 os negócios começaram a dar errado e o empresário vendeu em 2017 a Viação Itapemirim. No entanto, paira dúvidas sobre a sua atuação estreita com os militares que comandaram a ditadura militar e os assassinatos a opositores no Brasil.

Após o sepultamento, a sua família divulgou a seguinte nota à imprensa: “Neste momento de perda e dor, queremos agradecer a todas manifestações de condolências e pesar pelo falecimento de nosso inesquecível pai, avô e grande modelo de vida, Camilo Cola. Que sua história continua impregnada em nossa memória e nos conduza como guia e exemplo”.

Financiador da ditadura

O empresário e político Camilo Cola foi acusado pelo ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo, Claudio Antonio Guerra de ter sido financiador de inúmeras ações clandestinas contra inimigos da ditadura militar. A acusação foi feita formalmente em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, que apurou casos de violações de direitos humanos e crimes cometidos por agentes da ditadura militar.

Depois, na Comissão da Verdade do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo (Sindijornalistas-ES), o mesmo ex-delegado disse que Cola financiou a execução e o desaparecimento do corpo do dono do jornal “Povão”, José Roberto Jeveaux., em 1984. Segundo artigo publicado em 20 de maio de 2013 pela jornalista Suzana Tatagiba, na época diretora do Sindijornalistas-ES e também presidente da Comissão Nacional de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o depoente disse que a “encomenda” de Camilo Cola foi pelo fato de o dono do jornal Povão estar extorquindo a Viação Itapemirim.

Nunca foi questionado

O autor pela execução de Jeveaux, Moacir Rodrigues de Souza, chegou a ir a júri popular em 12 de março de 2019, mas foi absolvido. Camilo Cola, apesar das denuncias formalizadas pelo ex-delegado, nunca foi incomodado como sendo o mandante. O ex-delegado foi minucioso em sua denúncia. Disse que se reunia naquela época com o então procurador-geral da República no Espírito Santo, Geraldo Abreu, e o coronel do Doi-Codi Freddie Perdigão, no Edificio IAPI, que fica ao lado esquerdo do Teatro Carlos Gomes, no Centro de Vitória. “Eles queriam atender ao pedido do Camilo Cola, que pretendia se livrar das extorsões que sofria do Jeveaux”, afirmou Claudio Guerra.

“Eu, que já havia eliminado adversários dos militares em outros Estados, ponderei que era amigo de Jeveaux. Basta lembrar que em seu jornal saiu uma série de artigos do jornalista Pedro Maia sobre ações de combate ao crime que eu havia comandado. A coluna se chamava Guerra, o Cana Dura e assim, consegui ficar fora do desaparecimento do Jeveaux”, justificou o ex-delegado à Comissão da Verdade.

Equipe de fora

Cláudio Guerra disse que acabou recusando em cumprir a “encomenda” do Camilo Cola. Assim, no texto de Tatagiga consta que: “o desaparecimento do dono do Pováo ocorreu dez dias depois dele ter recusado a encomenda e que foi feita por uma equipe de fora, que teria vindo de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com a cobertura dos policiais locais Moacir e Levi Sarmento. Ele disse lamentar ter se omitido pois hoje entende que deveria ter alertado Jeveaux, de quem reiterou ter sido amigo.

Segundo o ex-delegado quem disse a ele no gabinete do procurador Geraldo Abreu que a morte de Jeveaux atendia a uma encomenda do agora falecido Camilo Cola, foi o coronel Freddie Perdigáo, com quem se reunia periodicamente em Vitoria e no Rio de Janeiro para tratar do combate aos subversivos que desafiavam o regime militar.

No seu texto, a jornalista ainda relata: “Para Guerra, não ha duvida de que a morte de Jeveaux foi um crime de mando do SNI para atender ao pedido de um dos principais financiadores da repressão militar contra a esquerda brasileira durante a ditadura militar. Al[em de sumirem com o corpo do Jeveaux, colocaram uma bomba na sede do jornal na Ladeira Caramuru, em Vitoria, e o vigia do Povão teria reconhecido as pessoas que foram colocar a bomba no jornal, tendo sido também eliminado por causa disso”.