O Espírito Santo é o 10º estado com mais microplásticos em suas praias, segundo estudos. Agora, banhistas encontram lixo proveniente de outras partes do mundo
Reprodução/DCM/Texto: Augusto de Sousa
O fotógrafo e ambientalista Lucas Knupp, acompanhado de seu amigo José Luiz Zouain, se depararam com uma grande quantidade de lixo, incluindo resíduos originários de países como China, Venezuela e Emirados Árabes Unidos, localizados a mais de 14 mil quilômetros de distância do Brasil, nas areias da Praia do Bosque, em Guiriri, no Espírito Santo.
“Fomos fazer uma caminhada no final da tarde e começamos a achar muito lixo. A maré do mar subiu mais cedo e encontramos frascos de óleo de motor, óleo de cozinha, material de pesca, como redes e linhas de nylon, e muito mais elementos”, relatou Lucas em entrevista ao G1.
O ambientalista, natural de Manhuaçu (MG), vive há pouco mais de cinco anos no Espírito Santo e afirma que, infelizmente, o descarte irregular de lixo nas praias capixabas não é uma novidade.
O local onde os resíduos foram encontrados é uma área de desova de tartarugas marinhas, marcada por placas do Projeto Tamar. “No meio disso, ainda encontramos pneus e outros resíduos”, destacou Lucas. Ele acredita que as embalagens plásticas, que pareciam novas, foram descartadas recentemente por navios que transitam pelo mar brasileiro.
“Há dez meses, eu visitei a Ilha de Trindade, que fica a mais de mil quilômetros de Vitória. Por lá, encontrei o mesmo tipo de lixo carregado por correntes marinhas. Tudo isso, possivelmente, foi descartado de grandes navios e até de pequenos barcos de pesca”, explicou.
Na Ilha de Trindade, Lucas também encontrou uma formação rochosa composta por microplásticos, resultado da poluição marinha. Já em Guriri, ele recolheu cerca de 70 quilos de lixo em uma faixa de dois quilômetros de areia. “Hoje, eu vivo em Colatina, mas já morei em Vila Velha e costumo visitar várias praias de Guarapari, por exemplo. Sempre encontrei lixo, porém, lixo internacional é a primeira vez”, contou.
O cenário observado por Lucas reflete um problema crescente nas praias brasileiras. Um estudo divulgado em setembro pela Expedição Ondas Limpas na Estrada mostrou que 91% dos resíduos encontrados em 306 praias do país são plásticos. Desse total, 61% são plásticos de uso único, como copos e garrafas descartáveis, 22% são fragmentos de plásticos de brinquedos e utensílios domésticos, e 17% são apetrechos de pesca, como as linhas de nylon encontradas por Lucas.
O Espírito Santo é o 10º estado com mais microplásticos em suas praias, segundo o estudo. Conceição da Barra, também no Norte capixaba, está entre as cidades com maior concentração de resíduos por metro quadrado. Além disso, a quantidade de lixo internacional nas praias brasileiras tem aumentado significativamente.
Em São Paulo, por exemplo, um levantamento da ONG Ecologia em Movimento mostrou que o volume de resíduos estrangeiros cresceu 500% em cinco anos.
“É uma prática criminosa que deve ser investigada, já que há uma tendência de aumento desse descarte irregular em alto-mar”, alertou Lucas, que busca meios para descartar corretamente o material recolhido.