Após quatro anos do incêndio criminoso que matou as crianças, em Linhares, que foi completado no último dia 21, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo deu um passo no andamento do processo. O pastor evangélico Georgeval ainda não foi condenado
Na tarde desta terça-feira, dia 26 de abril, foi publicado no site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) que o Recurso Especial, pretendido pela defesa do pastor evangélico Georgeval Alves Gonçalves, que pleiteou o envio do processo para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não foi admitido. A medida era uma tentativa para postergar ainda mais o julgamento pelo incêndio criminoso que levou à morte o filho do pastor, Joaquim Alves Salles, de 3 anos, e o enteado Kauã Salles Butkovsky, de 6 anos. No último dia 21 a família promoveu em Linhares (ES) a Caminhada por Justiça – Kauã e Joaquim, para lembrar os quatro anos do crime.
Segundo nota dos advogados que atuam como assistente de acusação, Síderson Vitorino e Lharyssa de Almeida Carvalho, “no entanto, ao acusado ainda cabe o manejo de um outro ato processual para tentar fazer subir o processo para Brasília, trata-se de um ‘Agravo em Recurso Especial’ que tem o condão de destrancar o feito e submeter o processo ao julgamento da Egrégia Corte da Capital Federal”.
“A família de Kauã, por meio de seus advogados, assistentes de acusação no processo criminal 0004057-45.2018.8.08.0030, está diligenciando junto à Primeira Câmara Criminal para que o processo tenha um tramitar célere. E espera que ainda este ano os autos voltem para Linhares para que seja instalado o Tribunal Popular do Júri. A família espera por quatro anos que justiça seja feita”, dizem os advogados na nota. A Ação que se encontra na Primeira Câmara Criminal do TJES com “Recurso em Sentido Estrito” tramita em Segredo de Justiça.
Relembre o caso Kauã e Joaquim
O incêndio que matou os dois irmãos ocorreu na noite de 21 de abril de 2018, quando os irmãos Kauã e Joaquim foram encontrados carbonizados no quarto da casa onde moravam, no Centro de Linhares (ES). A perícia da Polícia Civil constatou que o incêndio foi criminoso e que o autor foi o pastor evangélico da Igreja Batista Vida e Paz Georgeval Alves Gonçalves, vulgo George, que é o pai biológico de Joaquim e padrasto de Kauã.
E mais estarrecedor ainda foi quando a perícia constatou que George havia estrupado as crianças e que o autor do incêndio foi o próprio pastor evangélico. A conclusão dos peritos é que o crime, que foi antecedido com agressões, foi realizado para encobrir os atos libidinosos que George vinha praticando com as crianças sob a sua guarda. A mãe, a pastora evangélica Juliana Salles estava em um congresso religioso na cidade mineira de Teófilo Otoni, acompanhada de um outro filho mais novo do casal.
George era cabeleireiro de profissão, tendo iniciado a carreira em São Paulo e veio morar em Linhares, no Norte capixaba, onde montou um salão de beleza no Bairro Interlagos. Posteriormente mudou de profissão e se tornou pastor evangélico e montou a Igreja Batista Vida e Paz no mesmo bairro onde explorava o comércio de salão de beleza. De acordo com relatos dos fies que frequentavam o seu templo religioso, as crianças foram vistas nos dois dias que antecederam o crime que chocou o Espírito Santo.
Na véspera do crime, culto evangélico e sorvete
Dois dias antes de provocar o incêndio que levou à morte das duas crianças, Georgeval levou as duas crianças para assistir ao culto evangélico que ministrou no dia 19 de abril daquele ano. Havia cerca de 80 fieis. O culto, de acordo com pessoas que estavam presentes, se inicia pontualmente às 19h30. As crianças, juntamente com os filhos dos fieis ficavam em uma sala exclusiva e é onde era fornecido papel e lápis para desenhar. Asa testemunhas disseram que Kauã adorava desenhar, enquanto Joaquim ficava sempre agarrado com a mãe e pastora da mesma igreja.
Na véspera do incêndio criminoso, já sem a companhia da mãe, que se encontrava em viagem à Minas Gerais, Georgeval levou as crianças a uma sorveteria por volta das 20 horas. As crianças tomaram sorvete e o acusado do assassinato optou em tomar açaí, segundo relato da proprietária da sorveteria. No dia do crime, o pastor evangélico contou para a Polícia que por volta das 2 horas da madrugada ouviu as crianças gritando e que tentou entrar no quarto, mas a maçaneta estava muito quente. Vizinhos disseram à Polícia que tentaram ajudar, mas não foi possível.
Perícia constatou estupro e sangue de criança no banheiro
Quando os agentes do Corpo de Bombeiros Militar entraram no quarto, encontraram Kauã e Joaquim mortos e carbonizados. Na ocasião, o delegado André Jaretta, de Linhares, informou que havia um “conjunto de indícios demonstra que, naquela madrugada, o (então) investigado, inicialmente, molestou as duas crianças, tanto o filho biológico Joaquim quanto o enteado Kauã, mantendo um ato libidinoso”.
Foi encontrado no banheiro da residência incendiada vestígios de sangue, que a perícia comprovou que era do filho biológico, o Joaquim. O delegado disse ainda que os meninos morreram pela carbonização. “Isso tudo é comprovado pelo exame pericial. As crianças continham fuligem na traqueia e o exame demonstrou que elas ainda respiravam quando começou o incêndio”, disse o delegado à imprensa naquela época.