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Censura da PMV a três livros infantis poderá ter denúncia no Conselho de Cultura, Justiça e Ales

Censura da PMV a três livros infantis terá denúncia no Conselho de Cultura. Justiça e Ales | Imagens: Divulgação

A censura promovida pela Prefeitura de Vitória (ES) a três livros infantis poderá ser denunciada na Justiça, Conselho Estadual de Cultura e na Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales). O ato de banir das escolas públicas de Vitória os livros está sendo comparado na Capital capixaba com os piores momentos da literatura mundial, como a censura promovida pela Santa Inquisição, na Idade Média, e a queima de livros feita, na Alemanha, pelo governo nazista de Adolf Hitler.

Entre os três livros censurados pela Prefeitura de Vitória está a publicação infantil O Peixinho, da escritora capixaba  Fabiani Taylor, lançado em 2019, apenas porque em trecho do livro tem a expressão em linguagem neutra. De acordo com entrevistas à imprensa local, concedidas pela presidenta da Academia Capixaba de Letras da Diversidade, Luciana Santos, “a linguagem neutra não fere o campo pedagógico, não altera questões didáticas e muito menos fere a nossa Lei de Diretrizes de Base (LDB) da Educação ou agride a língua portuguesa.”

O dirigente da entidade informou que fará uma representação no Conselho Estadual de Cultura, e também levará o caso a Ales. Além de O Peixinho, a censura imposta pela administração do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) determinou a retirada das escolas dos livros Mamãe Nunca me Contou, da escritora inglesa Babette Cole, lançado em 2003, e o clássico mundial O Barba Azul, do francês  Charles Perrault e lido pelas crianças de todo o planeta desde 1697, quando foi lançado pela primeira vez; O censor da Prefeitura não quer que as crianças de Vitória leiam.

Prefeito Pazolini terá que responder a vereador em 30 dias

No último dia 27 de dezembro, o vereador André Moreira (PSOL), protocolou às 15h39 o Requerimento de Informação 278/2023, para que o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos) dê explicações do motivo de a sua gestão determinar a censura dos livros infantis nas escolas municipais de Vitória.

“Chegou ao conhecimento deste gabinete que a Secretaria Municipal de Educação (SEME) estaria sinalizando aos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) que separassem os livros O Peixinho, Barba Azul e Mamãe Nunca Me Contou para que fossem recolhidos.Com base nisso, solicitamos informações em relação ao recolhimento dos referidos livros, como o motivo pelo qual as obras foram retiradas, de onde partiu a ordem de recolhimento, bem como se existe alguma relação entre tal ordem com questões relativas à identidade de gênero”, diz Moreira no documento. À| imprensa, o vereador admitiu acionar a Justiça, após ouvir o seu partido.

Entidade vê viés religioso e gestores com ideologia conservadora, em Vitória

A secretaria municipal de Educação de Vitória, Juliana Rohsner Vianna Toniati, foi criticada, por adotar a postura de censora, pela dirigente da Academia Capixaba de Letras da Diversidade. Segundo ela, a ação da secretaria de Educação de Vitória representa “um retrocesso no campo literário, praticado por mandatos com viés religiosos” e que , “só deixa claro que estamos vivendo tempos difíceis onde gestores públicos com ideologias ditas conservadoras, ainda apostam na segregação da sociedade.”

“Somos pela inclusão, pela diversidade, pela liberdade de cátedra e pela valorização dos saberes populares.  Fabiani Taylor não está sozinha, é uma de nós e vamos lutar para que a tolerância seja regra também na literatura, que o legado no trabalho da autora seja reconhecido e que seu nome continue com o devido respeito na sociedade Espíritosantense”, completou. Leia a seguir a íntegra de uma das edições do medieval Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos da “Santa Inquisição” da Igreja Católica:

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Index Librorum Prohibitorum, da Santa Inquisição

As primeiras censuras com grande amplitude são registradas na Europa, durante a Idade Média, através da Igreja Católica, que usava a Santa Inquisição para impor censura aos livros. Para isso foi criado o Index Librorum Prohibitorum, que em tradução livre quer dizer Índice dos Livros Proibidos, onde continha uma lista de publicações consideradas heréticas, anticlericais ou lascivas e proibidas pela Igreja Católica.

 A primeira versão do Index foi promulgada pelo Papa Paulo IV em 1559 e uma versão revista dessa foi autorizada pelo Concílio de Trento. A última edição do índice foi publicada em 1948, no Século XX, e o Index só foi abolido pela Igreja Católica em 1966 pelo Papa Paulo VI.Nessa lista estavam livros que iam contra os dogmas da Igreja e que continham conteúdo tido como impróprio.

Galileu, Copérnico, Maquiavel e Motesquieu foram censurados na Idade Média

A ignorância da Santa Inquisição, que segundo pedagogos de Vitória, se assemelha a atual censura contra três livros, censurou os livros mais clássicos da literatura mundial, que incluía obras de cientistas, filósofos, enciclopedistas ou pensadores como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Giordano Bruno, Nicolau Maquiavel, Erasmo de Roterdão, Baruch de Espinosa, John Locke, Berkeley, Denis Diderot, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, René Descartes, Rousseau, Montesquieu, David Hume ou Immanuel Kant tenham pertencido a esta lista, tendo algumas dessas sido removidas mais tarde.

Alguns famosos romancistas ou poetas incluídos na lista são: Laurence Sterne, Heinrich Heine, John Milton, Alexandre Dumas (pai e filho), Voltaire, Jonathan Swift, Daniel Defoe, Vitor Hugo, Emile Zola, Stendhal, Gustave Flaubert, Anatole France, Honoré de Balzac, Jean-Paul Sartre, Níkos Kazantzákis, e o sexologista holandês Theodoor Hendrik van de Velde, autor do manual sexual “Ideal Marriage: Its Physiology and Technique”.

Perseguição aos escritores e queima de livros na Alemanha nazista | Fotos: Arquivo

Perseguição aos escritores e queima de livros na Alemanha nazista

O dia 10 de maio de 1933 é um marco para a ascensão da ignorância, do ódio e do obscurantismo na Alemanha. Nessa data ocorreu o auge da perseguição dos nazistas aos intelectuais, principalmente aos escritores. Em toda a Alemanha, principalmente nas cidades universitárias, montanhas de livros (ou suas cinzas) se acumulavam nas praças. Hitler e seus comparsas pretendiam uma “limpeza” da literatura.

Na fúria para destruir os livros que fossem críticos ou desviasse os padrões impostos pelo regime nazista, foram destruídos. Stefan Zweig, Thomas Mann, Sigmund Freud, Erich Kästner, Erich Maria Remarque e Ricarda Huch foram algumas das proeminências literárias alemãs perseguidas na época. O poeta nazista Hanns Johst foi um dos que justificou a queima, logo depois da ascensão do nazismo ao poder, com a “necessidade de purificação radical da literatura alemã de elementos estranhos que possam alienar a cultura alemã”.

Sinopse dos livros censurados pela Prefeitura de Vitória

(Observação: Todos esses três livros são comprados em livrarias ou através de lojas virtuais, como a Amazon, Americanas.com, Mercado Livre, Shopee, entre outras. Os pais que quiserem passar por cima da censura da Prefeitura de Vitória, é só adquirir os livros e dar para seus filhos lerem))

O Peixinho, de Fabiani Taylor

Em linguagem poética a obra conta uma fábula simples e de fácil entendimento para crianças de 1ª e 2ª infância. O livro conta a história de um Peixinho que vivia no fundo do mar. Ele adorava brincar com a sua turma, mas só com ela. Não gostava de fazer novas amizades. Um dia um Cavalinho do Mar quis brincar com ele, mas o peixinho o rejeitou. O Peixinho pensava que não precisava ser amigo de quem não era da sua turma. O Peixinho continuou nadando com os amigos a brincar. Veio uma rede e os aprisionou, os peixinhos gritaram desesperados. O Cavalinho do Mar chamou o seu amigo Polvo e libertaram os peixinhos. Todos ficaram amigos.

Mamãe nunca me contou, de Babette Cole

A obra de literatura Mamãe nunca me contou, da escritora e ilustradora inglesa Babette Cole elenca temas em destaque que vão ao encontro de questões de emancipação do sujeito, passíveis de diálogos tanto no ambiente de educação formal quanto fora dele. A partir de uma perspectiva histórico-cultural atravessada pelos pressupostos teóricos de Roger Chartier, situa o presente nas discussões sobre a literatura infantil e suas funções no mundo social, assim como sobre o livro como objeto cultural. Cole pincela sobre esses assuntos de uma maneira curiosa, em um jogo de perguntas e imagens bem montadas (potenciais respostas)..

Um dos pontos em, destaque é que esse livro nos instiga e pensar um conjunto de perguntas a que não vamos encontrar respostas satisfatórias – algumas dessas coisas nossas mães nem sabem a resposta! – há coisas que simplesmente são como são. E esse é um bom ponto para as crianças (e adultos) se maravilharem e se espantarem diante dos mistérios da vida e da complexidade humana.

O barba-azul, de Charles Perrault

Era uma vez um homem muito rico mas que, por ter a barba azul, afugentava todas as mulheres. Ele também havia se casado várias vezes, e suas esposas tinham desaparecido sem ninguém saber o que havia acontecido com elas. Quando ele um dia conquista uma jovem dama e casa com ela, lhe dá todas as chaves da casa mas a proíbe de entrar em um pequeno gabinete no porão

Tomada pela curiosidade, a mulher visita o quarto durante uma viagem do marido e constata que ele estava repleto de cadáveres pendurados, o chão coberto de sangue. A chave cai de sua mão e fica manchada de vermelho para sempre, denunciando sua traição ao tenebroso protagonista, que pretende matá-la como fez com suas antecessoras. Por sorte os irmãos da jovem chegam a tempo de salvá-la, e ela termina herdando toda a riqueza do Barba-Azul.

Um dos oito contos de Perrault publicados em 1697 – na obra Histórias ou contos dos tempos passados com moralidades, mais conhecida como Os contos da Mãe Gansa – O Barba-Azul teve enorme sucesso. Com moral ambígua, o texto por um lado sugere que errar é humano e mais vale perdoar; mas também critica o comportamento das mulheres – será que o monstro é mesmo o Barba-Azul, que oferece sua confiança e morre traído? O Barba-Azul é uma fonte de inspiração inesgotável: originou livros, filmes, óperas e até balés. Nesta edição para o público infantil, o texto original integral é ilustrado e vem acompanhado de um anexo com informações sobre a obra, seu autor e o contexto histórico. (Essa síntese sobre o livro O Barba-Azul é o está sendo difundido pelo portal de vendas Amazon).