fbpx
Início > Censura na imprensa capixaba é lembrada nos 57 anos do golpe militar de 1964

Censura na imprensa capixaba é lembrada nos 57 anos do golpe militar de 1964

Os 57 anos da ditadura militar reavivam as lembranças da feroz censura à imprensa no Espírito Santo

Cinquenta e sete anos após o golpe militar de 1964, as marcas da bestialidade dos militares é lembrada como sendo os anos mais obscuros para a imprensa do Espírito Santo. Com o objetivo de impedir à sociedade de tomar conhecimento dos crimes que cometiam contra quem se rebelasse contra a ditadura, a imprensa capixaba foi massacrada nos mais de 20 anos. Um estudo de mestrado desenvolvido pela Ufes resgatou arquivos “confidencial e sigiloso” com “Os registro do DOPS/ES sobre jornalistas”.

O estudo, que utilizou documentos que se encontram no Arquivo Público do Espírito Santo, pode ser lido na íntegra no final desta matéria, através de download de arquivo em PDF. O trabalho acadêmico tem a assinatura dos então mestrando Karolina Dias Cunha, Luiz Fernando da Silva Brumana e Marcel Marcello França Furtado.

Nenhuma verdade poderia sair publicada na imprensa e tampar as mentiras propagadas pelo ufonismo dos militares golpistas. O início da censura no Brasil deu-se ao mesmo tempo em que o período chamado “milagre econômico” surgia.. A censura foi um dos acontecimentos mais marcantes, e mostrou a rigidez do regime autoritário que governava o país. Neste período, a população brasileira era controlada pelo governo, e todas as formas de perseguição foram intensificadas. Os meios de comunicação eram proibidos de divulgar notícias contra o governo militar.

Resumo

Os pesquisadores fazem o seguinte resumo do trabalho: “As duas décadas de ditadura militar foram marcadas pela repressão e pela censura. Os alvos eram variados, e os mais recorrentes eram aqueles grupos, que apresentavam algum tipo de resistência ou entoavam algum questionamento ao regime, entre eles a categoria dos jornalistas  No estado do Espírito Santo, a Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS/ES), criada em 1930 e que intensificou seu trabalho durante o período dos militares no poder, era a instância responsável por fiscalizar os profissionais da informação, investigando os seus históricos e muitas vezes, perseguindo os profissionais”.

Mesmo com o envio diário de policiais federais trazendo diariamente bilhetes, sem timbre oficial, para avisar que determinado assunto não poderia ser veiculado nos jornais impressos, nas emissoras de rádio ou na televisão, o monitoramento era implacável. Os pesquisadores lembram que “era um período perigoso e conturbado para qualquer profissional da imprensa. Afinal, os militares, já davam claras demonstrações de pouca paciência para com os questionamentos dos profissionais da informação. Os repórteres, correspondentes e até donos de jornais, que parecesse uma ameaça, eram alvo de uma fiscalização implacável dos militares.

Dossiê

Em um dossiê resgatado pelos pesquisadores foi observado que o alvo foi Solimar de Oliveira, proprietário do jornal Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim. A Secretaria de Segurança do Espírito Santo enviou à Polícia Militar do Espírito Santo, ao SII, ao DOPS/ES, ao 38ª do Espírito Santo o pedido de busca 12/785. O documento, datado de 07 de janeiro de 1975, solicitava informações sobre antecedentes documento, datado de 07 de janeiro de 1975, solicitava informações sobre antecedentes criminais, linha ideológica e outros dados julgados úteis sobre a vida do jornalista.

Quase todos os jornalistas capixabas que viveram durante os anos da ditadura militar tinham dossiês ou registros nos órgãos militares. Os pesquisadores encontraram relatos que citam vários nomes no material do antigo DOPS/ES. E citam referencias aos jornalistas Marcos José de Aguiar Alencar, Djalma Juarez Magalhães (proprietário do Jornal da Cidade); Sérgio Buarque Gusmão (editor do jornal de esquerda Movimento); José Arthur Rocha, redator da Eldorado Publicidade, em Vitória; e aos jornalistas cariocas Silvio Coelho e Alexandre Tanure.

Plínio Marcos

Lançamento do livro do escritor Plínio Marcos enlouqueceu os militares, que vigiaram a Ufes e o Teatro Carlos Gomes

Na segunda quinzena de novembro de 1977, uma palestra movimentou a ilha de Vitória e foi e foi acompanhada de perto pela repressão. Era o jornalista, escritor e teatrólogo Plínio Marcos, um dos alvos de perseguição dos militares e autor de “Dois perdidos numa noite suja”, “Navalha na carne”, entre outras obras clássicas. Por ser um escritor que retrata a vida do submundo, como prostituição, marginalidade, homossexualismo, deixou os militares enlouquecidos para acompanhar suas palestras no cine-clube da Ufes e, depois, no Teatro Carlos Gomes.

Plínio Marcos veio a Vitória para lançar seu livro “Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos”. A passagem dele pelo Espírito Santo resultou em um relatório de quatro páginas. O “espião” dos militares infiltrado narrou cada detalhe do que foi dito. E n ao deixou de citar os nomes dos então estudandes que estavam presentes. Entre esses o “espião” disse que houve “participação do líder estudantil Paulo Hartung Gomes, professor Pedro José Mansur, Haroldo Rocha, NeivaldoBragatto, Paulo Roberto Fabres, Robson Moreira Fagundes, que na ocasião Correia, NeivaldoBragatto, Paulo Roberto Fabres.

A ainda relatou no seu dossiê a presença do estudante Robson Moreira Fagundes, que na ocasião vendia exemplares do vendia exemplares do jornal jornal Posição, entre outros., entre outros. A bisbilhotice chegou a fazer com que o DOPS/ES, em 31 de julho de 1975, solicitasse aos seus subordinados a relação de emissoras de radiodifusão no Espírito Santo. Foram contabilizadas oito: Rádio Vitória; Rádio Capixaba; Rádio Espírito Santo; Rádio Difusora de Cariacica; Rádio Cachoeiro de Itapemirim; Rádio Cachoeiro de Itapemirim, Difusora de Colatina; Rádio Mimoso do Sul; Rádio Agrotécnica (A Voz da Lavoura), em Santa Tereza.

Sindicato monitorado

Com a criação do Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo, em 1979, os militares enlouqueceram. O monitoramento foi ferrenho. A Secretaria de Segurança Pública solicitou um levantamento sobre os históricos políticos e criminais de todos os candidatos à presidência do Sindicato. De acordo com os arquivos resgatados da polícia política da época, Rogério Medeiros e Rubinho Gomes possuíam “antecedentes que os contra-indiciavam para fins desejados”. Mesmo assim, Medeiros assumiu a presidência sindical, como o primeiro presidente do sindicato.

Mas a repressão fez questão de fichar todos aqueles que estavam ligados à sua chapa e acompanhar reuniões e outros pleitos da todos aqueles que estavam ligados à sua chapa e acompanhar reuniões e outros pleitos da entidade. O jornalista, na época, já era um dos alvos mais recorrentes do sistema repressivo. Segundo os registros, o ex-delegado do DOPS/ES, Cláudio Guerra, registrou que Rogério Medeiros era um dos profissionais da imprensa que mais incomodava os “revolucionários”. Afinal, ele havia atuado, junto a Jô Amado, no jornal alternativo Posição, que mobilizou a classe jornalística, intelectuais e estudantes. O impresso Posição nasceu em 1976 especificamente para combater o regime militar.