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Com apoio da Fapes, pesquisadores da Ufes encontram solução inédita para doente renal crônico

Com apoio da Fapes, pesquisadores da Ufes encontram solução inédita para doente renal crônico | Foto: Divulgação

O portador de obesidade abdominal com doença renal crônica e que faz hemodiálise acaba de ganhar um importante avanço no diagnóstico médico. Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGNS/Ufes) conseguiram, pela primeira vez no Brasil, definir um ponto de corte específico para um indicador, chamado índice de conicidade, que será útil para identificar a obesidade abdominal em pessoas com doença renal crônica em hemodiálise.

O estudo recebeu o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) no valor de R$ 95 mil, por meio do Edital 03/2018 – Programa de Pesquisa Para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde – PPSUS.

O índice de conicidade é utilizado para saber de qual forma a medida da circunferência da cintura, considerando a altura e o peso, pode ajudar a prever o risco de problemas de saúde relacionados ao coração e ao metabolismo, como diabetes e doenças cardíacas. A gordura que se acumula ao redor da cintura pode ser um indicador de risco para essas doenças, independentemente do peso total da pessoa. Em resumo, quanto maior for a circunferência da cintura, maior pode ser o risco de problemas de saúde ligados à obesidade e à distribuição de gordura no corpo.

Dados da pesquisa

O índice de conicidade é considerado um indicador prático e de baixo custo, que pode ser incluído na rotina clínica e em pesquisas científicas por ser uma ferramenta útil de rastreamento de risco cardiovascular e complicações metabólicas. O estudo concluiu que a prevalência da obesidade abdominal foi maior no sexo masculino.

Fatores como idade, cor e ausência de relacionamento afetivo estiveram associados com a obesidade abdominal em indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise. Tanto os homens adultos quanto as mulheres adultas mostraram mais chances de apresentar obesidade abdominal, bem como os indivíduos autodeclarados pardos e os homens solteiros.

A descoberta foi resultado de uma dissertação de mestrado da nutricionista Cleodice Martins que, na coleta de dados, contou com a participação de um grupo formado por nutricionistas, estudantes e professores do Departamento de Nutrição da Ufes. Os dados foram obtidos diretamente com 953 pessoas que fazem hemodiálise nas unidades de atendimento em Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Vila Velha, Viana e Vitória.

“Até agora não existia na literatura científica um ponto de corte específico para o índice de conicidade que indicasse claramente a presença desse tipo de obesidade nesse grupo de pessoas. Esse número é importante porque ajuda os profissionais de saúde a avaliar melhor a nutrição dos pacientes e também pode ser usado em estudos sobre essa doença e na prática médica para essa população específica”, esclareceu Cleodice Martins.

Para o diretor-presidente da Fapes, Denio Arantes, os resultados dos estudos feitos com o apoio da Fapes pelo edital PPSUS representam o que há de mais gratificante na ciência, “ao melhorar as condições de tratamento dos doentes renais crônicos e levar a eles uma alimentação adequada conforme o quadro de saúde de cada um”. “Temos a certeza de que o avanço nos estudos específicos sempre vai proporcionar uma vida com mais qualidade aos pacientes do Sistema único de Saúde (SUS)”, declarou o Denio Arantes.

Ampliação dos estudos

Diante do que foi detectado e seus benefícios para os doentes renais, Cleodice Martins decidiu ampliar os estudos sobre o indicador, desta vez, em curso de doutorado, iniciado neste semestre no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/Ufes). Enquanto no mestrado o foco foi analisar o índice de conicidade como auxiliar no diagnóstico da obesidade abdominal, no doutorado os estudos se voltam para o indicativo de mortalidade e deve ser concluído em 2027.

“Agora, vamos investigar o impacto da obesidade abdominal e da massa muscular na mortalidade de indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise na Grande Vitória, estimando, entre outros fatores, a taxa e o perfil dessa mortalidade”, complementou Cleodice Martins.

A dissertação de mestrado intitulada “Índice de conicidade como indicador de obesidade abdominal em indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise: uma análise de classes latentes” foi realizada em duas etapas e foram publicadas nos periódicos científicos internacionais das áreas de nutrição e saúde ‘Nutrition’ e ‘PLOS One’. A pesquisa inovadora foi orientada pelos professores do Departamento de Educação Integrada em Saúde (Deis) da Ufes, Luciane Salaroli e José Luiz Rocha.

Considerando a doença renal crônica um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, devido à complexidade do seu tratamento e ao impacto na qualidade de vida das pessoas, a professora Luciane Salaroli ressaltou da importância do estudo realizado. “Esses indivíduos têm outras doenças associadas e, além disso, o estudo confirma elevados índices de obesidade abdominal na população estudada, o que pode trazer complicações adicionais no curso da doença”, afirmou Salaroli.

O professor José Luiz Rocha enalteceu os resultados obtidos e o apoio recebido. “Os produtos da dissertação mostram a importância dos investimentos em pesquisa científica, que são essenciais para o desenvolvimento de ferramentas e protocolos para o adequado cuidado destes pacientes”, destacou Rocha. Ele ainda comentou que ambos os artigos têm “grande relevância, tanto para cientistas de todo o mundo quanto para o melhor manejo de indivíduos em hemodiálise”.