Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes, atual ministro do presidente Jair Bolsonaro (PL) para a Saúde, tem um diploma de médico com especialidade em cardiologia, mas optou em ignorar a ciência e a Medicina, apenas para ser submisso ao negacionista presidente da República e assim preservar o seu emprego atual. Queiroga, está se recusando aceitar a orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que todas as crianças de 5 a 11 anos sejam vacinas contra Covid, assim como os países desenvolvidos estão fazendo.
O ministro de Bolsonaro vem sendo chamado nas redes sociais de Queirodes, numa referência à Herodes, que era o governador da Judéia na época em que Jesus Cristo nasceu, segundo o que diz os ensinamentos bíblicos. Ao receber a notícia de que o Messias teria vindo ao mundo na cidade de Belém, Herodes preferiu cortar o problema pela raiz antes que o tal Salvador de fato se transformasse em um problema para ele. Foi então que ordenou que seus guardas matassem todos os meninos com menos de 2 anos que encontrassem na cidade de Belém e nos seus arredores.
Na última semana, Queiroga disse em entrevista à imprensa que o número de mortes de criança no Brasil se encontra em “um patamar que não implica num decisório emergenciais”. Mas, como o seu posicionamento é pelo negacionismo à Covid, não disse à imprensa qual patamar seria esse. As bobagens ditas pelo ministro de Bolsonaro trouxe repercussões, como o infectologista Pedro Hallal, que em entrevista à TV Cultura disse: “A partir de hoje cada morte de criança por Covid no Brasil tem um carimbo do ministro da Saúde junto com ela”.
“Porque o ministro está retardando deliberadamente a vacinação das crianças”, completou o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Em 14 de janeiro deste ano, o infectologista, que foi responsável por uma das pesquisas mais relevantes sobre o novo coronavírus no país, a Epicovid, foi perseguido pelo governo do atual presidente de extrema direita. Bolsonaro usou como capangas para a perseguição à Hallal a Controladoria-Geral da União (CGU, que se permitiu ser usada para isso e abrir processo contra o infectologista apenas pelo fato dele ter criticado o negacionismo do presidente.
Estatística macabra
Segundo o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, ele já cobrou explicações do Ministério da Saúde por demorar em iniciar a vacinação contra a Covid-19 nas crianças de 5 a 11 anos, que já foi autorizada pela agência. Ele disse não ser justificável o atraso na vacinação para esse público, uma vez que o Brasil registra “estatística macabra” de mortes nessa faixa etária. Torres ainda criticou uma consulta pública anunciada por Queiroga, que acabou não ocorrendo e a sua afirmativa de que somente a partir de 5 de janeiro próximo vai pensar no assunto.
“Nós temos 301 crianças mortas na faixa de 5 a 11 anos desde que a covid-19 começou até o início de dezembro. Nestes 21 meses, numa matemática simples, nós temos um pouquinho mais de 14 mortes de crianças ao mês, praticamente uma a cada dois dias. Então acho que essa informação à sociedade se faz necessária”, disse o chefe da Anvisa em entrevista ao jornal O Globo. Na mesma entrevista, o dirigente da Anvisa ainda disse: “Entendo que o Ministério precisa apresentar à sociedade a justificativa do porquê de nós mantermos inalterada uma estatística macabra [de mortes de crianças]. (…) Essa vacina é usada no mundo inteiro. No dia de hoje, são mais de 7 milhões de doses aplicadas. (…) Então são perguntas que, na verdade, não dizem respeito ao regulador [Anvisa]. As perguntas que acabei de fazer são perguntas como cidadão”.
Juramento médico ignorado pelo ministro
COMPROMISSO DO MÉDICO (Versão de outubro de 2017, da Associação Médica Mundial)
Como membro da profissão médica:
EU PROMETO SOLENEMENTE consagrar minha vida ao serviço da humanidade;
A SAÚDE E O BEM-ESTAR DE MEU PACIENTE serão as minhas primeiras preocupações;
RESPEITAREI a autonomia e a dignidade do meu paciente;
GUARDAREI o máximo respeito pela vida humana;
NÃO PERMITIREI que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e meu paciente;
RESPEITAREI os segredos que me forem confiados, mesmo após a morte do paciente;
EXERCEREI a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo com as boas práticas médicas;
FOMENTAREI a honra e as nobres tradições da profissão médica;
GUARDAREI respeito e gratidão aos meus mestres, colegas e alunos pelo que lhes é devido;
PARTILHAREI os meus conhecimentos médicos em benefício dos pacientes e da melhoria dos cuidados da saúde;
CUIDAREI da minha saúde, bem-estar e capacidades para prestar cuidados da maior qualidade; e
NÃO USAREI os meus conhecimentos médicos para violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça.
FAÇO ESTAS PROMESSAS solenemente, livremente e sob palavra de honra.