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Comunidade internacional repercute discurso de Lula e exalta COP no Brasil em 2025


“Planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”, acentuou Lula. Fala do presidente na Abertura da COP e confirmação da COP 30 na região amazônica despertam esperança e elogios em autoridades e especialistas africanos, americanos, asiáticos e europeus.


Comunidade internacional repercute discurso de Lula e exalta COP no Brasil em 2025 | Foto: Divulgação/Palácio do Planalto

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta última sexta-feira (1º), na Sessão de Abertura da Presidência da COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes, repercutiu positivamente diante de diversos integrantes da comunidade internacional presentes na Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.

O chamado do presidente a uma ação internacional imediata e concreta encontrou eco automático. A perspectiva de cobrar o cumprimento de metas antigas acordadas e por  uma mudança no padrão que permite que as mudanças climáticas causem mais danos e prejuízos às populações mais pobres também foi bem recebida por diversos integrantes do evento em Dubai, nos Emirados Árabes.

Assista a íntegra do discurso do presidente Lula na abertura da COP28 | Vídeo: Canal do presidente Lula no YouTube

“A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”

O presidente Lula abriu a fala citando uma frase da queniana Wangari Maathai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz: “A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”. A lembrança emocionou o governador do condado de Vihiga, no Quênia, Wilber K. Ottichilo.

“É tão importante para um presidente de uma grande nação como o Brasil lembrar o que a professora Wangari Maathai disse anos atrás e ligar essas palavras com o que está acontecendo hoje. Estou orgulhoso de que o presidente do Brasil possa enquadrar essas palavras no discurso que fez aqui em Dubai”, afirmou Ottichilo.

COP30, em Belém (PA)

Para ele, o esforço brasileiro que vai culminar na realização da COP 30 em Belém (PA), em 2025, é louvável e comprova a importância que o governo brasileiro dá ao combate às mudanças climáticas e a transição rumo a uma economia sustentável e de baixa emissão de carbono.

“Isso é a melhor coisa que pode acontecer. Acho que tivemos muita conversa em todas as conferências sobre a mudança climática e agora é hora de irmos da conversa para a ação. Ter a COP 30 na floresta tropical do Brasil será algo de grande interesse para o mundo. Ver o que o Brasil tem e precisa para conservar esta floresta, que é muito importante, que é a floresta do mundo”, prosseguiu o queniano.

Quem também ressaltou o discurso do presidente Lula foi a diretora de saneamento e recursos hídricos de Gana, Patricia Akua Sampson. “O que mais me impactou foi sua paixão no sentido de conseguir que os temas ligados às mudanças climáticas sejam devidamente tratados. Muitas pessoas já falaram, mas ele foi impactante. E isso eu gostei de ver”, disse a representante do país africano.

Amazônia e Ártico

A canadense Gail Whiteman participa da COP 28 como observadora da Artic Basecamp Foundation, organização holandesa que atua no combate às alterações climáticas no Ártico. Para ela, a eleição do presidente Lula representou uma quebra bem-vinda no tratamento dado pelo Brasil às questões climáticas nos últimos anos.

“Acho que a comunidade internacional toda ficou aliviada quando o presidente Lula assumiu. Não porque queremos ter uma pessoa contra a outra, mas porque todos entendemos que a Amazônia é um incrível patrimônio global que vai proteger o futuro da humanidade”, declarou a canadense.

“Acho que o governo brasileiro e o presidente Lula representam as esperanças de muitos, não apenas dentro do Brasil, mas em todo o mundo. Não podemos ter um espaço seguro para a humanidade se a Amazônia não estiver protegida. É uma notícia maravilhosa o Brasil sediar a COP 30”, comemorou.

Whiteman ressaltou que o trabalho dela como cientista é estar atenta ao risco global das mudanças no Ártico e como isso afeta o resto do mundo. “Uma das coisas que temos que fazer é trabalhar para que as questões da Amazônia e do Ártico se encontrem. Temos essas duas super importantes ecorregiões. Uma é o pulmão do mundo e outra é o sistema circulatório”, prosseguiu Gail Whiteman.

COP30

 Presidente da China Association of Circular Economy, entidade que executa a política estatal de conservação de recursos e proteção ambiental na China, Liyang Zhu também citou Lula e destacou a importância da realização da COP 30 no Brasil.

“O presidente Lula dedica grande importância ao tema da proteção ambiental e ao combate às mudanças climáticas. É seguro dizer que ele adota uma postura pragmática em suas atitudes ligadas às mudanças climáticas e aos nossos desafios. Ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento da economia, mantém uma atenção muito grande à proteção do meio ambiente global. Fazer a COP 30 no Brasil, na Amazônia, é uma grande ideia”, analisou Liyang Zhu.

Já o britânico David Atkin, representante da PRI Association, que atua em temas ligados ao investimento responsável, ressaltou que a COP 30 em Belém pode atrair diversos investimentos para projetos sustentáveis no Brasil.

“A Principles for Responsible Investment é uma associação de investidores. Representamos mais de US$ 121 trilhões e o clima, a natureza e a biodiversidade são temas muito importantes para os integrantes da PRI. O presidente Lula é uma figura muito importante e estamos ansiosos em trabalhar com os nossos centros locais, já que nós temos 140 no Brasil”, afirmou. “Como a COP está indo para o Brasil, vamos procurar levar investidores internacionais para o Brasil para mostrar a história brasileira e por que é tão importante para o futuro do planeta”, encerrou David Atkin.

A ex-presidenta Dilma Rousseff e atual presidenta do BRICS, presidente Lula e a ministra Marina Silva posaram para foto durante a COP 28 | Foto: Divulgação/Presidência da República

Confira a íntegra do discurso do presidente Lula

Uma mulher africana, a queniana Wangari Maathai, vencedora do prêmio Nobel da Paz, sintetizou bem o dilema da humanidade em sua relação com a natureza.

Disse ela: “A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertou que temos somente até o final desta década para evitar que a temperatura global ultrapasse um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.

2023 já é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos.

A humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes.

No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte.

A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes.

O planeta já não espera para cobrar da próxima geração.

O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos.

De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas.

Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega.

De discursos eloquentes e vazios.

Precisamos de atitudes concretas.

Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?

Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática.

Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?

A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres.

O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial.

Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias.

Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos.

A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem.

O mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça.  

Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades.

Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. E torna-se incapaz de pensar no amanhã.

Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos.

Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global.

Em 2009, quando participei da COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso.

As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015.

Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante.

O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime.

É preciso resgatar a crença no multilateralismo.

É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra.

É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados.

Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades.

Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras.

O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo.

Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos.

Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030.

Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia.

Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais.

O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis.

É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.

Temos de fazê-lo de forma urgente e justa.

Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP 28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia.

Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade.

Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada.

Como nos convida o Papa Francisco na Encíclica “Todos Irmãos”, precisamos conviver na fraternidade.

Muito obrigado.